Segunda-feira, 23 de Novembro de 2009

Homenagem ao Dr Manuel de Oliveira Pepétua

Conforme na semana passada aqui dei conta o Rotary Club de Porto de Mós prestou ontem uma merecidíssima homenagem ao Dr Manuel de Oliveira Perpétua, numa festa, e digo festa e não cerimónia, porque foi disso que se tratou – uma verdadeira festa – que juntou perto de uma centena de pessoas, entre rotários do clube anfitrião e delegações de muitos outros (Alcobaça, Benedita, Caldas da Rainha, Fátima, Lisboa (Belém), Peniche e Santarém) e antigos alunos e professores do antigo Colégio de Porto de Mós.

A recepção ao Dr Manuel Perpétua foi feita pela Tuna Académica da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria, recriando-lhe o seu verdadeiro habitat natural: entre estudantes, e como só os estudantes sabem fazer. Apesar dos seus 88 anos, acentuados por uma longa doença de 15, logo ali as primeiras provas de tenacidade, vitalidade e de sentido de humor que o aspecto debilitado não deixaria prever: recusou a cadeira de rodas e, embora apoiado, foi pelo seu passo, pisando com os seus próprios pés as batinas estendidas; pouco depois, quando lhe perguntei se estava a gostar da recepção e da actuação da tuna, uma resposta que não posso deixar de partilhar convosco: “Então não havia de gostar? Há tanto tempo que não via pernas tão bonitas!”

Sim, ali estava o Dr Perpétua que sempre admiramos e que continuamos a admirar: lúcido, inteligente, corrosivo… Reconhecendo e cumprimentando toda a gente pelo nome. Se não era à primeira era logo depois de um pequeno esforço de memória… Sempre disponível e visivelmente feliz. Até ao fim! Quando pensávamos estar perante uma resistência tenaz mas de grande sacrifício, concluímos estar perante uma resistência que apenas ia buscar forças à felicidade de estar entre os seus.

A determinada altura sentei-me a seu lado e comecei a falar-lhe de Kant, o filósofo que ela mais admirava e que me ensinara a admirar. Quem estivesse de lado e assistisse ao lançamento daquele tema poderia, no mínimo, acusar-me de insensato, se não mesmo de psicopata. Pois falamos de Kant durante mais de cinco minutos, conversa que foi arrematada desta forma: “Sabes, eu não era kantiano, eu era apenas um racionalista que não suportava os imbecis que sabia que iam fazer o que eu sabia que não deviam fazer”. A conversa tinha de acabar ali mesmo, não havia melhor forma de ser acabada. Naquela síntese entre a Razão de Kant, que ele tão bem me ensinou há quase 40 anos, e sua atitude de sempre perante a vida, mostrava-me, dentro daquele corpo debilitado, o Dr Perpétua de sempre.

Entre as múltiplas intervenções que, intervaladas por belíssimas sessões de canto, foram dando conta do imenso mérito do Dr Perpétua e da enorme admiração que todos por ele alimentamos, importa aqui trazer duas. para deixar à reflexão de todos, incluindo naturalmente os poderes instituídos, que tocaram em dois temas que não podem deixar de marcar esta festa e que não podemos deixar que nos continuem a envergonhar:

  • O edifício do colégio que o Dr Manuel Perpétua com tantos sacrifícios nos deixou, que constitui o mais rico património arquitectónico de Porto de Mós, e que marca a memória do que foi um dos maiores expoentes da Educação deste país, está em risco, tal o estado de degradação a que o deixaram chegar. É um crime se nada for rapidamente feito para o preservar.
  • Porto de Mós não pode, sob pena de perder a sua própria memória e de se cobrir de um manto de vergonha, esquecer o Homem que no século passado mais fez pelo seu desenvolvimento, pela sua divulgação e pela sua afirmação no futuro. Porto de Mós tem de perpetuar o nome e a obra do Dr Manuel Perpétua através da sua toponímica e de um monumento, simples que seja, mas que lembre aos nossos filhos e netos que houve um Homem que traçou um destino melhor para muitos portomosenses.

São estes os dois desafios que saíram desta festa que se traduzem numa única ideia: os portomosenses não podem continuar ingratos!

Finalmente, enquanto ex-aluno e eterno admirador do Dr Perpétua, um sentido agradecimento ao Rotary Club de Porto de Mós pela iniciativa: magnífica no plano da organização logística e magnânima no plano dos afectos e dos sentimentos. Sei que fizeram do dia de ontem um dia feliz para o Dr Perpétua, E para todos os que lá estivemos!

 

publicado por Eduardo Louro às 21:30
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1 comentário:
De Armindo Vieira a 24 de Novembro de 2009 às 09:53
Belo texto, digno da pessoa a quem é dirigido.
Pelo que se lê, podemos ver a admiração que se tem por um homem que, como muito bem refere, muito contribuiu para o desenvolvimento de Porto de Mós.
Como eu disse num comentário a outro post sobre esta homenagem, Porto de Mós não deve nem pode esquecer tão importante personagem.
Manuel Perpétua contribuiu para que muitos portomosenses, e não só, fossem hoje grandes figuras da vida pública deste país.
Tenho pena, como ex-aluno, de, devido a outros agendamentos, não ter podido estar presente.
Porto de Mós não pode esquecer o Dr. Manuel Perpétua.
Armindo Vieira

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