Terça-feira, 19 de Maio de 2009

O papel do Estado na sociedade e a Crise Financeira

 

Importava haver um debate sério e profundo sobre o entendimento que cada um de nós tem do que deve ser o papel do Estado na sociedade. Este assunto dá pano para mangas, mas é no entendimento do papel do Estado que se distinguem os conceitos de esquerda e de direita.

Pessoalmente, acho que esta lógica do Estado entrar em casa dos cidadãos, substituindo-se à iniciativa privada na prestação serviços, é no limite redutora da liberdade individual.

Noutras sociedades, onde o Estado não é pai de todos, onde o Estado não consome mais de 50% do seu PIB, onde o Estado apoia a economia pela poupança fiscal e não pelos subsidios atribuídos, nessas sociedades, os cidadãos suportam os serviços como o que aqui ontem propuz (cheque-taxi) por conta própria em vez de andarem de mão estendida ao Estado, que por sua vez também gosta de dar esmolas.

Nessas economias, a saída da crise está na mão das empresas e dos cidadãos. Cá o Estado gosta de fingir que nos pode ajudar a sair da crise, quando todos sabemos que isso só acontecerá quando outros países o fizerem. Quando isso acontecer, já sabemos que quem estiver no poder irá enganar-nos gritando vitória como se tivesse algum mérito nisso.

Sabemos que desde sempre o Estado é mau gestor. Há algum tempo para cá, também ficamos a saber que o Estado é mau supervisor. Perante a borrada que o Estado fez, e que nos levou à actual crise (refiro-me à Reserva Federal, outros bancos centrais, entidades supervisoras dos mercados de capitais, fundos de investimento e de seguradoras) a resposta da classe política não podia ser mais caricata: Reforçar o papel do Estado! Ou por outras palavras, reforçar as funções a quem acabou de cometer erros terríveis.

Já sei que os defensores do modelo do Estado muito interventor justificam a actual crise financeira com a ambição dos neo-liberais. A expressão 'neo-liberal' até já deixou de ser um substantivo e passou a ser um adjectivo a que se recorre quando se quer ofender alguém, numa lógica idêntica ao que noutros tempos aconteceu com palavras como 'Fascista', 'Reacionário', 'Comuna', 'Burgês' ou até 'Herege'. São os epítetos depreciativos das modas.

Assim, vivemos um tempo em que é politicamente correcto maldizer a AMBIÇÃO dos gestores das empresas financeiras que criaram os activos toxicos.

 

Já todos ouvimos os nossos (ir)responsáveis políticos apelar à inovação. "As empresas têm de inovar para crescer e fazer crescer a nossa economia". Não podia estar mais de acordo.

 

Acontece que a tal inovação que faz crescer a economia, resulta de uma atitude no limiar do que nunca foi feito.

 

Por isso podemos dizer que:

sem ambição não se inova

sem ambição não se investe

sem ambição não se investiga

sem ambição trabalha-se a olhar para o relógio

 

Então como é que se distingue a ambição que faz crescer a economia, da ambição que levou à criação dos activos tóxicos?

Acho eu que não se distinguem, pois são exactamente iguais.

 

Poderão perguntar, então quem é que se portou mal para cairmos nesta crise?

 

No meu entendimento foi claramente os órgãos de supervisão das economias, ou seja o Estado.

 

Observemos as ervas que na natureza ocupam os espaços abandonados. É da natureza existirem sempre sementes a serem empurradas pelo vento à procura de condições para germinar. Muitas perdem-se, mas outras conseguem ficar depositadas onde há temperatura e humidade favorável. Até no meio das pedras da calçada rejuntada com cimento, aparece erva. As ideias inovadoras são como as sementes empurradas pelo vento, algumas criam riqueza e outras não. Neste exemplo, os orgãos de supervisão, por sua vez são os jardineiros que têm por função eliminar as ervas que nascem nos locais errados.

A actual crise financeira deve-se assim ao mau desempenho do jardineiro que deixou crescer erva em locais errados, pelo que não é correcto dizer que foram as ervas que nasceram onde não deviam, pois elas apenas obedeceram à sua ordem natural, que é germinar.

 

Dou a palavra aos leitores. Precisamos de mais ou menos Estado?

 

publicado por Paulo Sousa às 07:32
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De Paulo Sousa a 19 de Maio de 2009 às 08:41
«Voltando ao carro do vizinho a que Wilkinson faz referência, mas tomando-o noutro sentido, estou verdadeiramente preocupado porque são cada vez mais os carros dos vizinhos parados na minha rua nos dias da semana. E isso transmite uma realidade espelhada nos números do desemprego que vão sendo divulgados a cada mês que passa. E mais preocupado estou porque algumas destas pessoas não aparentam qualquer expectativa de encontrarem novo emprego tão cedo. O que os preocupa não é quando voltarão a ter emprego, mas muito mais se o governo prolonga ou não o subsídio a que actualmente têm direito. E esta é uma questão que devia ser central num ano em que se disputam três eleições: desde quanto nós, portugueses, aceitamos de bom tom continuar a empobrecer de ano para ano. Desde quando a apatia triunfou sobre a esperança. E se é viável uma sociedade onde tantos dependem do dinheiro público para sobreviver. Foi Alexis de Tocqueville quem afirmou que "a República Americana vai durar até o dia que o Congresso descubra que pode subornar o público com o dinheiro público", uma frase que pode e deve ser repensada para esta República Portuguesa, versão século XXI.»

Jorge Assunção, Delito de Opinião, hoje
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