Quinta-feira, 26 de Novembro de 2009

Vox populi

O estado do país e das instituições presta-se às mais diversas manifestações da nossa muito lusitana maneira de ser, feita mais de dizer mal e de destruir do que de construir e de procurar soluções.

Basta ouvir os diversos fóruns radiofónicos, ver as entrevistas de rua ou mesmo dar uma volta aqui pela blogosfera. É saudável que as pessoas comuns se possam expressar livremente, sem preconceitos nem constrangimentos. Tal como teremos todos de aceitar, e até de saber interpretar, não só os estados de alma que revelam mas também as imprecisões e as inconsequências que resvalam do discurso dito popular.

Já não é aceitável, na minha modesta opinião, que pessoas com outras responsabilidades na sociedade, que reivindicam outros espaços de comunicação, utilizem a mesma forma de expressão, pretendendo surgir aos olhos dos seus concidadãos como Messias e Salvadores.

Vem isto a propósito de uma personagem que emergiu na sociedade portuguesa nos últimos anos: Medina Carreira.

É uma personagem criada e representada por Henrique Medina Carreira – uma personalidade respeitada, que foi ministro das finanças num dos primeiros governos constitucionais, liderado por Mário Soares.

Esta personagem comporta-se exactamente como o português comum de que, afinal, é tão crítico. Mas também como os políticos que responsabiliza por este estado de coisas, logo a começar no populismo e na demagogia do seu discurso. Um discurso que, mesmo quando acompanhado por uns gráficos todos coloridos, em nada difere do registo vox populi.

Evidentemente que não digo, nem ninguém pode dizer, que tudo aquilo a que aponta o dedo não é problema nacional. De forma populista ou popularucha, mas não está a inventar nada:

  • “Consumimos mais do que o que produzimos”;
  • “Endividamo-nos para pagar o que consumimos e não podemos esperar que nos continuem a emprestar dinheiro”;
  • “A educação é uma trafulhice”;
  • “A Justiça é uma vergonha”;
  • “A culpa é dos partidos que temos e isto só lá vai quando corrermos com esses senhores todos”.

Dizer isto e só isto, sempre, é muito pouco. Talvez por ter chegado a esta conclusão, esta personagem rainha do pessimismo nacional começou a dizer que, se lhe dessem 1 hora de televisão, ele trataria dos problemas do país. E deram-lha mesmo: a SIC deu-lha no seu canal de Notícias. Chama-se Plano Inclinado, é moderado pelo Mário Crespo mas, e eu sou capaz de perceber porquê, tem dois colegas de debate: João Duque, o actual presidente do meu ISEG e o consagrado matemático, também lá professor, Nuno Crato. O programa tem a duração de 1 hora.

Para perfazer a reclamada hora, e dada a distribuição pelos 3 intervenientes, apesar da dita personagem usar bem mais tempo que os outros, esperei pelos três primeiros programas. Os dois primeiros não tinham trazido nada de novo, a matéria foi a mesma daqueles clássicos 5 pontos. Daí que o Mário Crespo tivesse sentido necessidade de avisar que o terceiro trataria das soluções que a personagem tinha para apresentar. Estava criada a expectativa para os que, como eu, esperando o preenchimento da tão reclamada hora de televisão, ficássemos à espera do terceiro programa.

É evidente que a revolução, o recurso à ultrapassada revolução armada, é a única forma que conheço para tornar consequente aquele discurso. Daí a minha expectativa!

E lá veio, no passado domingo, o tal terceiro. A mesma treta do costume até que o moderador lá disse: bom, e as prometidas soluções?

Então lá chegaram. São duas as soluções da personagem:

  • Primeira – Congelar salários durante 3 anos.
  • Segunda – Mudar a constituição para um regime presidencialista.

Não se fica a perceber é como resolve todos aqueles problemas, nem sequer como “corre com esta gente dos partidos”! Mas pronto, já teve a sua hora de televisão…

publicado por Eduardo Louro às 12:26
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5 comentários:
De Ferreira-Pinto a 26 de Novembro de 2009 às 15:02
Como leitor assíduo do vosso blogue e comentador também assíduo do Pedro Oliveira, penso que terei de me penitenciar por, em relação aos demais colaboradores, me quedar pela leitura. E muito mais, num caso como este em que acaba de colocar em letra de forma aquilo que por vezes me assalta enquanto vou vendo o personagem Medina Carreira debitar, e com enorme topete, coisas que na boca de um qualquer português desconhecido (como é o meu caso) seria tomado por despautério.
Ele colhe aplausos, embora nada diga; mas se fosse eu ...
De Paulo Sousa a 26 de Novembro de 2009 às 20:23
Eduardo,
O discurso de Medina Carreira (não coloco o 'r' depois do 'e' como há quem faça, por asseio linguístico) difere do registo vox populi, pois recorre a terminologia técnica adequada às variáveis a que pretende referir-se.
Por isso acho que está muito à frente da conversa da barriga encostada ao balcão da cervejaria, onde se escuta a verdadeira vox populi.
Prometeu anunciar as soluções durante uma hora de televisão e não o fez? É um facto, mas talvez seja um resquício recalcado da sua passagem pela política. Como diria um amigo meu, às vezes tem espasmos.
De Eduardo Louro a 26 de Novembro de 2009 às 22:33
Caro Paulo, permito-me discordar. O simples recurso a termos mais técnicos e expressões mais eruditas, mesmo que, aqui e ali enfatizados por coloridos gráficos, não chega para se distinguir da vox populi quando se dizem as mesmíssimas coisas. E também se dizem coisas inconsequentes com o rabinho sentado num cadeirão, não é preciso estar encostado ao balcão para se dizer coisa nenhuma. Mas a personagem vai ter mais horas de tv. Na próxima emissão prometeram falar de educação e irá ver que iremos aprender uma coisa muito importante: "...é uma trafulhisse". Difere do tipo de barriga encostada ao balcão ou do taxista?
De violeta a 26 de Novembro de 2009 às 22:36
Teorias, teorias e como dizia Frei Tomás "Faz o que eu digo e não o que ele faz..."
De Ana Narciso a 6 de Dezembro de 2009 às 12:27
O panora não é animador, mas a atitude negativa e sistemática de Medina Carreira, diverte mias do que convence. Fico sempre com a mesma pergunta : o que fez enquanto Minsitro para alterar ou inverter este plano inclinado?

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