Quarta-feira, 3 de Março de 2010

Fui à formação e regressei para contar

Na sequência de uma conversa com uma pessoa que passou pela tragédia de assistir impotente a uma crise de saúde de um familiar, e que acabou por falecer, ficando sempre com a mágoa de que se tivesse alguma noção de primeiros socorros poderia ter evitado a tragédia, inscrevi-me há mais de um ano num curso de Primeiro Socorros.

Por diversas razões de ordem logística os meses foram passando e, na semana passada, recebi um telefonema para saber se o meu interesse se mantinha. Claro que sim, vamos lá arrumar esse assunto. Fui de imediato alertado para um problema… não iria receber subsídio de alimentação. Achei estranho existir subsídio de refeição para um curso ministrado das 19h às 22h, e que por isso ultrapassa a hora tida como normal para jantar. Mas não. Não tinha nada a ver com a hora das refeições, mas sim com as quotas (?). E o que é que isso quer dizer? Perguntei. Como a turma já ultrapassava a quota de alunos onde me enquadravam não poderia receber o dito subsídio. A dúvida do meu interlocutor era se ainda assim eu aceitava receber a formação. Tinha de me colocar a questão nesta fase para evitar aborrecimentos no futuro…

Perante esta lógica, engoli em seco e depois lembrei-me que vivo no país que vivo, e que está instituído como normal que, além de não ter de pagar para receber/beneficiar de formação…,  ainda é suposto receber-se por isso.

Perante qualquer estupefacção sobre esta lógica a resposta é quase automática: quem paga são ELES!!

Lembrar que ELES somos NÓS, é um raciocínio neoliberal e por isso politicamente incorrecto.

Serei eu que estou errado por entender que aprender pressupõe esforço e dedicação? Receber para aceder a uma valorização pessoal faz lembrar uns filhos muito mimados que exigem prendas não para tirarem boas notas, mas para frequentarem a escola. Que finos que eles são!

 

(Comecei este texto antes de ir para a formação e terminei-o após o regresso a casa, e por isso com estados de espírito diferentes.)

 

Nesta segunda metade começo por dizer que a minha participação na referida formação terminou no final da primeira sessão. Em público não entrarei em detalhes sobre o que motivou tal decisão.

Registo apenas o facto de que das 30 pessoas inscritas, mais de um terço não estão a trabalhar, mas também não estão … desempregadas. E porquê? Umas estão nos EFA’s, outras no CNO’s, outras no diabo a sete. São remuneradas pela participação em diversas formações, ora em exclusividade ora em simultâneo, mas nenhuma delas conta para os números do desemprego. São remuneradas por ELES, claro. Fantástico! É o que se pode chamar de desorçamentação do desemprego.

Já há socialistas com vergonha desta governação, mas o mais grave é que há alguns que apesar de tudo o que tem acontecido, ainda não se envergonham.

publicado por Paulo Sousa às 08:00
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3 comentários:
De Armindo Vieira a 3 de Março de 2010 às 10:10
Caro Paulo Sousa
Este é um facto de que todos temos conheceimento há muito tempo. Os desempregados (???) recebem para ter formação, só que quem paga são ELES, ou melhor, os nossos impostos e assim saem das listas de desempregados e passam a ser o quê? subsidiados? estudantes? formandos?.
Estes não têm culpa, A culpa é das pessoas que gerem os nossos dinheiros, que assim diminuem o número de desempregados nas estatísticas, porque neste país vive-se à sombra das estatísticas.
É o que temos e, apesar de todos dizerem que se está mal, voltaram a colocar lá os mesmos.
Armindo Vieira
De Paulo Sousa a 3 de Março de 2010 às 10:45
Caro Armindo,

Claramente que o meu incómodo não é dirigido a quem está na situação da desemprego, mas sim para com quem nos governa.
Quando perdemos alguém muito próximo passamos por várias fazes e uma delas é a da negação da realidade.
A forma como este governo lida com a estatísticas faz lembrar esses períodos de negação. Claro que no curto prazo esta é uma aparente solução, mas que na prática passa por colocar dezenas ou centenas de milhares de pessoas num limbo que as impede inclusivamente de tomarem uma atitude para saírem da situação em que se encontram. Sendo condescendente pode dizer-se que estamos perante um grande mal com uma pequena solução.
De Eduardo Louro a 3 de Março de 2010 às 23:47
Paulo, o que constatou e descreve corresponde à triste história da formação profissional subsidiada. Uma história de 25 anos, curiosamente repartidos irmamente, como quase tudo em Portugal nos últimos trinta e tal anos, por governos do PS e do PSD. Se não é 12,5 anos de governação para cada não foge muito a isso.
As duas partes do post, o antes e o depois, não representam mais que as duas faces da moeda da formação subsidiada. Isto é, os formandos não a valorizam e, consequentemente, não a levam a sério nem levam a sério as necessidades de formação. O governo utiliza-a para fins exclusivamente políticos, como um instrumento ao serviço dos seus interesses políticos imediatos. Ambos são responsáveis pelo esbanjamento dos fundos com esse destino, pela desacreditação da formação profissional. E desacreditar a (verdadeira) formação profissional é hoje, para Portugal, dramático!

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