A expressão de hoje – jogo partido – tal como todas as expressões que por aqui têm passado, mostra-nos, uma vez mais, que não podemos nem interpretá-la literalmente nem afastarmo-nos por completo do seu sentido comum. O que vem provar que o futebolês tem mesmo regras, quase que poderemos dizer que tem a sua própria sintaxe, e que não é apenas uma linguagem marginal de uns tantos apanhados da bola.
Claro que o jogo não se parte no sentido de ficar escaqueirado e feito em pedaços, como facilmente se percebe. Nesse sentido o jogo está sempre inteiro, mesmo que não esteja recheado de todos os ingredientes. Não é, por exemplo, por uma ou mesmo ambas as equipas não estarem completas que o jogo passa a estar partido, se bem que o facto de não estarem completas as possa levar a partir o jogo. A expulsão de jogadores até poderá deixar tudo um pouco mais descomposto, mas não exactamente partido. O que não impede no entanto que a equipa fique feita em cacos.
Claro que vemos equipas feitas em cacos nas mais variadas circunstâncias, não é preciso haver qualquer expulsão. Por exemplo, no passado domingo o Sporting fez em cacos o Porto, quando se pensava que era o Sporting que estava todo escaqueirado. O jogo nunca se partiu, mas o Porto ficou sem ponta por onde se pegar…
Anteontem, em Coimbra, vimos a selecção nacional também feita em cacos, num mau presságio do que aí poderá vir. E não foi preciso que o jogo se partisse, nem sequer que o amputassem do que quer que seja. Nada: equipas completas, 11 jogadores de cada lado (bem sei que, pelo menos na segunda parte, parecia que havia muito mais chineses - eles são realmente muito mais que nós - mas eu contei e estavam mesmo11 de cada lado); tudo completo. Até as bancadas estavam cheias o que, como bem sabemos, é coisa rara por cá. Nem público faltou, como bem vimos e melhor ouvimos… Bastou que o nosso seleccionador, aquele que todos nomeamos seleccionador nacional por unanimidade e aclamação e que durante tanto tempo trouxemos ao colo, resolvesse que teria de continuar a inventar. Que não tinha esgotado todo o seu potencial inventivo na fase de apuramento.
Começa por inventar que a selecção chinesa é igual à da Coreia do Norte, provavelmente porque se limitou a olhar para os olhos. Em bico, também! Curiosamente a Costa de Marfim, que como se sabe é o nosso primeiro adversário no Mundial e que nem sequer tem seleccionador, optou por jogar com a Coreia do Sul, que não nos custa nada a perceber que seja mais parecida com os seus irmãos do norte. Só que com esses não eram favas contadas e, afinal, o que importava era uma vitória para o currículo e fazer mais uns quantos internacionais e não, ao contrário do apregoado, preparar a participação no Mundial e, em particular, o tal jogo com a Coreia do Norte. Depois inventa uma selecção que… vejam só: Hilário, Paulo Ferreira, Rolando, Miguel, Tonel … e Hugo Almeida. Então com este último, com a óbvia escassez de alas (poucos e maus: Cristiano Ronaldo, Simão, Nani, Varela, Coentrão…) inventa testá-lo na ala esquerda. Parece que a lógica é esta: “como temos muitos pontas de lança, e o Hugo Almeida é um jogador de top, de que a selecção não pode prescindir, terá que ser aproveitado para jogar nas alas, para onde não temos ninguém de jeito”. Vejam só!
Evidentemente que o público de Coimbra foi intérprete fiel do sentir do povo da bola e assobiou monumentalmente aquela brincadeira. E Carlos Queirós, que não pode responder a murro a estes críticos, faz de conta que não percebe e responde com coisas absurdas. Numa dessas diz que todos os objectivos foram atingidos, que é uma expressão que me deixa sempre de pé atrás. Duvido de quem atinge sempre todos os objectivos. Mas duvido ainda mais quando, como aqui dizia há poucos dias, alguém diz que os atingiu sem que tivessem sido previamente tornados públicos.
Bom, com tudo isto deixei a bola para trás, quer dizer, deixei para trás o jogo partido. O jogo está partido quando saltou para fora de qualquer lógica de controlo. Quando os jogadores perdem as posições (mais uma expressão do futebolês) isto é, quando o sentido táctico do jogo é ultrapassado por circunstâncias que já ninguém controla. Seja por dentro, no campo, seja por fora, do banco. E o jogo pode partir por três razões: por expulsões, como acima se deixara perceber, quando deixam de estar em campo as peças necessárias à execução de uma determinada estrutura táctica; por opção deliberada de uma das equipas que, sentindo-se dominada pela superioridade táctica do adversário, decide romper com as bases em que o jogo está lançado, esticando o jogo e impondo um futebol directo de que espera tirar vantagem; e, finalmente, quando o jogo se aproxima do fim e, num cenário em que só a vitória interessa, uma ou ambas as equipas partem para um forcing final, no tudo por tudo de uma das mais emblemáticas expressões do futebolês: mais com o coração do que com a cabeça!
Daí que a expressão faça sentido, como de resto temos visto com tantas outras. O jogo de facto parte-se, deixa de ter o mesmo figurino e passamos a vê-lo já desmembrado!
Prof. António Câmara - Palestra
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