A resistência e oposição ao casamento de pessoas do mesmo sexo passa, em grande parte pelo medo que, esta lei, possa abrir portas à adopção pelos mesmos. Não são raras as vezes que me coloco a questão “O que penso sobre o tema?”. Sem grandes dúvidas, mas também sem certezas e verdades absolutas (não tenho essa pretensão), porque este tema, tal como muitos outros que implicam a vida do outro, deve carecer de profunda reflexão, para mim mais do que aferir a questão da sexualidade o importante é avaliar competências parentais, com todo o rigor com que se faz a avaliação (ou deveria fazer) de um casal heterossexual potencial adoptante.
Afinal o que faz de nós Mãe ou Pai (com a tal maiúscula que faz toda a diferença) não é a capacidade de procriar, de gerar, mas acima de tudo a capacidade de Cuidar, Amar, Proteger… No fundo ser Pai ou Mãe é conseguir promover o desenvolvimento físico, emocional, social e intelectual de uma criança desde a infância até à idade adulta e isto, sem dúvida, está intimamente ligado ao Cuidar, muito para além do aspecto biológico da relação. A capacidade de procriar, de gerar biologicamente um filho não transforma as pessoas em bons pais ou boas mães, transforma-nos isso sim em progenitores.
A nossa cultura é fundada na função cuidadora, afectiva, mais do que progenitora, ou não fosse S. José um pai adoptante e não biológico de Jesus Cristo. E não é aqui que se fundamenta toda a nossa cultura?
Muitos dir-me-ão ou pensarão que a diferença está no facto de um casal do mesmo sexo não o conseguir fazer de forma saudável, pondo em causa o desenvolvimento saudável da criança. Mas, quantos e quantos (lamentavelmente) casais heterossexuais, totalmente defensores dos valores da família não conseguiram fazer crescer crianças saudáveis e felizes? Quantas e quantas crianças são diariamente entregues a casais adoptantes heterossexuais que não vão ser assim tão bons Pais? O que falha? Em muitos casos, falha o rigor na avaliação das competências parentais, mais do que o despiste de perturbações da personalidade ou condições financeiras, ou se são uma família tradicional ou ou…
Uma criança, acima de tudo quer sentir que verdadeiramente é amada, cuidada, aceite, que pode contar, hoje e “amanhã” com as suas referências parentais, para que possa crescer com segurança e feliz e isso nenhum estudo traz evidência de que um casal do mesmo sexo não o consegue! Nenhum estudo vem provar mais significativo sofrimento psicológico em famílias não tradicionais, desde que os pressupostos acima referidos estejam presentes. Estudos demonstram que crianças educadas por casais homossexuais não diferem de outras educadas em famílias tradicionais no que diz respeito a competências emocionais, sociais, ao seu saudável desenvolvimento.
Muitas das crianças criadas só pela mãe ou pelo pai apresentam, por isso, mais disfunções no desenvolvimento e vêm a ser homossexuais? Por exemplo, as crianças que crescem em instituições sociais, que são cuidadas e criadas apenas por pessoas do mesmo sexo (não há lá homens e mulheres para “reproduzirem o tradicional relação familiar de Pai e Mãe) são por isso homossexuais?
As perturbações no desenvolvimento ou o sofrimento emocional de crianças institucionalizadas, não advém do facto de terem sido criadas só por mulheres ou por homens mas sim de muitos outros factores que poderemos abordar noutra altura.
No fundo não há evidência científica de que uma criança tenha de ser criada por um pai homem e uma mãe mulher apresente mais disfunções, maior sofrimento emocional. Existe sim evidência da importância da diferença nas duas pessoas, ou seja, que cuidem e amem de formas diferentes e que se possam complementar. Um pai homem e uma mãe mulher que sejam iguais na sua forma de educar, cuidar e amar também não é positivo. A complementaridade e diferença é fundamental para os pilares do crescimento.
Quanto ao argumento de que as crianças criadas por casais do mesmo sexo, que vivem uma relação de amor irá ser violentamente discriminada pelos outros… então e conseguimos evitar que as crianças de famílias tradicionais sejam alvo de discriminação, pelo facto de serem altas, baixas, pobres, ricas, gordas, magras, com óculos, sem óculos, sossegadas, endiabradas, filhas de pais divorciados, filhas de pais “demodé”, enfim… tão infinitas são as causas de discriminação seja por adultos ou por pares.
Um casal deixa de divorciar-se porque os filhos na escola vão ser “apontados”? Se o fazem não deveriam. O que traz verdadeiro sofrimento é viver e crescer em “falsas” famílias, com falsos afectos, com falsos pilares, porque na verdade, muitas vezes a preocupação não é com o bem-estar e felicidade das crianças, mas sim com a falta de coragem de assumir uma verdade que vai fazer cair por terra toda uma imagem e uma crença perante si próprio, os outros e a sociedade. O bem-estar das crianças muitas vezes fica mesmo lá para o fim de tudo isto.
Uma vez mais, uma criança para crescer Feliz necessita de ser Amada verdadeiramente, Cuidada, Protegida, de sentir segurança, de limites e regras, de ser mimada, Amada, Amada, Amada…
É urgente deitar abaixo os “muros de betão” que impedem de pensar sem as barreiras da convencionalidade, dos pré-conceitos, dos pré-juízos de valor. E quero deixar bem claro que a minha primeira preocupação é com as crianças, por isso não me venham com a conversa de não me preocupar com as mesmas e sobrepor as minhas ideias de “esquerda de moda” ao superior interesse das crianças.