Quinta-feira, 11 de Março de 2010

Adopção por pessoas do mesmo sexo - pais ou Pais?? A diferença está na "maíscula"!

A resistência e oposição ao casamento de pessoas do mesmo sexo passa, em grande parte pelo medo que, esta lei, possa abrir portas à adopção pelos mesmos. Não são raras as vezes que me coloco a questão “O que penso sobre o tema?”. Sem grandes dúvidas, mas também sem certezas e verdades absolutas (não tenho essa pretensão), porque este tema, tal como muitos outros que implicam a vida do outro, deve carecer de profunda reflexão, para mim mais do que aferir a questão da sexualidade o importante é avaliar competências parentais, com todo o rigor com que se faz a avaliação (ou deveria fazer) de um casal heterossexual potencial adoptante.  

 
Afinal o que faz de nós Mãe ou Pai (com a tal maiúscula que faz toda a diferença) não é a capacidade de procriar, de gerar, mas acima de tudo a capacidade de Cuidar, Amar, Proteger… No fundo ser Pai ou Mãe é conseguir promover o desenvolvimento físico, emocional, social e intelectual de uma criança desde a infância até à idade adulta e isto, sem dúvida, está intimamente ligado ao Cuidar, muito para além do aspecto biológico da relação. A capacidade de procriar, de gerar biologicamente um filho não transforma as pessoas em bons pais ou boas mães, transforma-nos isso sim em progenitores.
 
A nossa cultura é fundada na função cuidadora, afectiva, mais do que progenitora, ou não fosse S. José um pai adoptante e não biológico de Jesus Cristo. E não é aqui que se fundamenta toda a nossa cultura?
 
Muitos dir-me-ão ou pensarão que a diferença está no facto de um casal do mesmo sexo não o conseguir fazer de forma saudável, pondo em causa o desenvolvimento saudável da criança. Mas, quantos e quantos (lamentavelmente) casais heterossexuais, totalmente defensores dos valores da família não conseguiram fazer crescer crianças saudáveis e felizes? Quantas e quantas crianças são diariamente entregues a casais adoptantes heterossexuais que não vão ser assim tão bons Pais? O que falha? Em muitos casos, falha o rigor na avaliação das competências parentais, mais do que o despiste de perturbações da personalidade ou condições financeiras, ou se são uma família tradicional ou ou…
 
Uma criança, acima de tudo quer sentir que verdadeiramente é amada, cuidada, aceite, que pode contar, hoje e “amanhã” com as suas referências parentais, para que possa crescer com segurança e feliz e isso nenhum estudo traz evidência de que um casal do mesmo sexo não o consegue! Nenhum estudo vem provar mais significativo sofrimento psicológico em famílias não tradicionais, desde que os pressupostos acima referidos estejam presentes. Estudos demonstram que crianças educadas por casais homossexuais não diferem de outras educadas em famílias tradicionais no que diz respeito a competências emocionais, sociais, ao seu saudável desenvolvimento.
 
Muitas das crianças criadas só pela mãe ou pelo pai apresentam, por isso, mais disfunções no desenvolvimento e vêm a ser homossexuais? Por exemplo, as crianças que crescem em instituições sociais, que são cuidadas e criadas apenas por pessoas do mesmo sexo (não há lá homens e mulheres para “reproduzirem o tradicional relação familiar de Pai e Mãe) são por isso homossexuais?
 
As perturbações no desenvolvimento ou o sofrimento emocional de crianças institucionalizadas, não advém do facto de terem sido criadas só por mulheres ou por homens mas sim de muitos outros factores que poderemos abordar noutra altura.
 
No fundo não há evidência científica de que uma criança tenha de ser criada por um pai homem e uma mãe mulher apresente mais disfunções, maior sofrimento emocional. Existe sim evidência da importância da diferença nas duas pessoas, ou seja, que cuidem e amem de formas diferentes e que se possam complementar. Um pai homem e uma mãe mulher que sejam iguais na sua forma de educar, cuidar e amar também não é positivo. A complementaridade e diferença é fundamental para os pilares do crescimento.
 
 
Quanto ao argumento de que as crianças criadas por casais do mesmo sexo, que vivem uma relação de amor irá ser violentamente discriminada pelos outros… então e conseguimos evitar que as crianças de famílias tradicionais sejam alvo de discriminação, pelo facto de serem altas, baixas, pobres, ricas, gordas, magras, com óculos, sem óculos, sossegadas, endiabradas, filhas de pais divorciados, filhas de pais “demodé”, enfim… tão infinitas são as causas de discriminação seja por adultos ou por pares.
 
Um casal deixa de divorciar-se porque os filhos na escola vão ser “apontados”? Se o fazem não deveriam. O que traz verdadeiro sofrimento é viver e crescer em “falsas” famílias, com falsos afectos, com falsos pilares, porque na verdade, muitas vezes a preocupação não é com o bem-estar e felicidade das crianças, mas sim com a falta de coragem de assumir uma verdade que vai fazer cair por terra toda uma imagem e uma crença perante si próprio, os outros e a sociedade. O bem-estar das crianças muitas vezes fica mesmo lá para o fim de tudo isto.
 
Uma vez mais, uma criança para crescer Feliz necessita de ser Amada verdadeiramente, Cuidada, Protegida, de sentir segurança, de limites e regras, de ser mimada, Amada, Amada, Amada…
 
É urgente deitar abaixo os “muros de betão” que impedem de pensar sem as barreiras da convencionalidade, dos pré-conceitos, dos pré-juízos de valor. E quero deixar bem claro que a minha primeira preocupação é com as crianças, por isso não me venham com a conversa de não me preocupar com as mesmas e sobrepor as minhas ideias de “esquerda de moda” ao superior interesse das crianças.
estou:
publicado por Telma Sousa às 14:00
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De Paulo Sousa a 12 de Março de 2010 às 01:01
Telma,
Não sendo um tema sobre o qual me possa pronunciar com informação aprofundada, sei pelo que tenho lido, que existem no nosso país demasiadas crianças à guarda do Estado, e que acabam por crescer em instituições que em nada substituem o ambiente familiar. Isto acontece porque a nossa legislação dificulta a adopção.
Não só dentro da Commonwelth como em todo o mundo anglo-saxónico, é frequente uma criança mudar de um destes países para outro para ser adoptada. O sistema baseia-se na boa-fé e na capacidade que cada país terá para acompanhar o sucesso de cada caso e agir em conformidade.
Em Portugal, pelo contrário, o sistema-se baseia-se na desconfiança. A cada pedido de adopção os organismos oficiais, donos do destino dos menores nessa situação, qual miúda gira e muito requisitada, fazem-se caros e toca de complicar ao máximo. Corrijam-me se estiver errado, mas esta é a ideia que retenho. Os defensores do actual sistema dirão que desta forma tentam defender os menores de possíveis abusadores, mas o caso Casa Pia mostra-nos que se de facto têm essa preocupação deviam era acelerar cada caso o mais possível e assim esvaziar as instituições onde, perdoem-me a expressão, os menores estão armazenados, sendo que muitas vezes nestes armazéns não faltarão as montras.
É necessário mudar esta situação.
Além disso a própria legislação não é linear sendo prova disso os casos mediaticos em que os menores são entregues a uma família afectiva e depois regressam aos pais progenitores e depois deixam-nos ir para fora do país, e depois os juízes vêm dizer que estão arrependidos. A sociedade manifesta-se contra o actual estado de coisas e pode dizer-se por isso que não se revê na actual legislação.
Uma vez que o Estado, Governo após Governo, década após década e sem entendermos porquê opta por manter a actual situação, caberá a sociedade civil pressionar os nossos governantes para o mais rapidamente possível (havendo vontade política um ou dois anos seria suficiente) evoluir para uma situação mais equilibrada. É de louvar a criação de Lobbys que criam pressão neste sentido.
Nesta linha, concordo com a esmagadora maioria do que aqui defendes e só lamento que a preocupação que as crianças institucionalizadas têm gerado na sociedade derive de uma agenda em que não são elas, nem as suas necessidades e direitos, que estão no centro do debate.
Assim, apesar de saber que existem muitas e boas intenções acho que estas crianças saem prejudicadas pelo facto de se misturarem no mesmo debate duas questões distintas. Posso estar distraído mas vejo mais associações homossexuais envolvidas neste debate que associações de defesa dos direitos das crianças.
De Telma Sousa a 12 de Março de 2010 às 16:07
Paulo, concordo que no meu texto estão várias questões em debate, por um lado o direito das crianças a serem adoptadas e por outro o direito que duas pessoas do mesmo sexo possam vir a adoptar. Poderá até parecer que elas estão misturadas, ou eu não me expressei da melhor maneira, mas para mim a questão fundamental é o direito que as crianças têm a terem uma família que lhes proporcione os pilares fundamentais para que possam ser felizes, assim o que eu defendo é que a partir deste pressuposto o importante é avaliar com todo o rigor a potencial família e aferir as suas competências parentais, e não as questões da sexualidade. tantas c rianças que são entregues a familia com uma organização tradicional e que não têm a minima capacidade para fazer crescer de forma social e emocionalmente uma criança.

“…só lamento que a preocupação que as crianças institucionalizadas têm gerado na sociedade derive de uma agenda em que não são elas, nem as suas necessidades e direitos, que estão no centro do debate….” Sim, tens toda a razão! O centro do debate tem de ser o superior interesse da criança.

Mas, sinceramente não consigo entender (mas esforço-me) quando as pessoas vêm falar do superior interesse da criança, mas para elas tem de ficar de fora tudo o que sai da norma, ou seja, da família tradicional. Qual interesse? Preocupam-se verdadeiramente com o que sente uma criança que está institucionalizada e que deseja diariamente ter alguém que as ame, que lhes leia uma história, que lhes dê um beijinho ao adormecer, que as proteja, que se preocupe com o que sentem e pensam? Será que se preocupam verdadeiramente com tudo isto e muito mais? Claro que a maioria não, até porque muitos dos que defendem com todo o vigor que a adopção deve apenas ser feita por um homem e uma mulher de preferência casados seriam incapazes de algum dia vir a adoptar uma criança. E mais, quando eu digo que eu e o meu marido queremos adoptar até acham que é um disparate uma vez que vou ter filhos biológicos.
De Paulo Sousa a 12 de Março de 2010 às 20:05
Telma,

Da mesma forma que a liberdade de Abril é refém da esquerda (quando alguém de direita fala da liberdade do cidadão face ao estado é apelidado de neo-liberal, palavra aliás que já deixou de ser um substantivo e se tornou num adjectivo), o tema da adopção é refém dos sectores ditos progressistas.
Receio que ao se apelar ao lado sentimental do grande público, confrontando-o com a vergonhosa realidade das crianças institucionalizadas, e no momento seguinte, ou no mesmo texto como é exemplo o teu post, falar das reivindicações dos casais homosexuais, se possa interpretar um aproveitamento inaceitável da situação destas crianças para alimentar um debate que no final nunca deve ser referendado. Sei que não será o teu caso, mas concordarás que essa interpretação possa ocorrer, e que na prática não ajuda à resolução do problema.
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