Faço minhas as palavras de Mahatma Gandhi quando afirmou, “A Humanidade não pode libertar-se da violência senão por meio da não violência”. Não posso estar mais de acordo com esta filosofia, mas o que é certo é que vemos e assistimos diariamente às aberturas dos noticiários com cenas de grande violência. Pior do que isso, temo pelo facto de ver chegar, cada vez mais, aos menores que seguem os exemplos e estímulos do meio envolvente.
Para muitos, será concerteza o pesadelo de quem já sentiu e viveu as agruras da violência, seja por intimidação física, insultos ou humilhações públicas, perpetrados por colegas de escola ou do trabalho.
O fenómeno não é novo, mas o estrangeirismo ganha cada vez mais destaque e protagonismo no nosso quotidiano português. Para os mais distraídos, falo do Bullying que nos atinge em proporções cada vez mais intensas e frequentes. Este conceito define “comportamentos de natureza agressiva, entre pares, com intenção de provocar dano”, afirma Sónia Seixas, doutorada em Psicologia e autora de uma tese sobre bullying em contexto escolar.
Com ocorrências mais conhecidas no meio escolar, que pode ir desde os primeiros anos até ao ensino universitário, é no entanto nos 2º e 3º ciclos que se ouvem mais casos, sem esquecer os que nunca ou tardiamente vêem a sua divulgação pública. As vítimas, normalmente crianças, apresentam características bem definidas no plano emocional, sofrendo de baixa auto-estima e revelando comportamentos inseguros, que os denunciam perante a intimidação. Na maioria dos casos, não oferecem resistência, até porque se trata de uma luta desigual, e permitem-se abusos constantes e repetidos pela parte do agressor, a quem se atribui a designação de bully. Com grande facilidade, podemos fazer uma pesquisa rápida e dar de caras com testemunhos terríveis que nos marcam, só de ler e ouvir. Imagine-se o que sentirão as vítimas quando confrontadas com esta dura e triste realiadade.
Dizem os entendidos na matéria, que as possíveis razões na origem deste fenómeno estão associadas à pretensa popularidade reconhecida ao agressor, que tem por trás uma realidade pessoal esvaziada de qualquer estrutura familiar sólida e estável, actuando pelos seus atributos físicos, muito superiores perante as vítimas que escolhe para inferiorizá-las.
É certo que nos meus tempos de escola, também havia lutas entre rapazes, e por vezes alguns episódios engraçados de puxões de cabelos entre meninas mais afoitas e atrevidas, mas nada que revelasse carácter de violência contínua com objectivos claros e bem definidos de garantir humilhação e mal estar premeditados.
Que a sociedade caminha no sentido da auto-destruição, não é novidade para qualquer um de nós, até porque o planeta está em vias de extinção, mas o que é certo é que temos vindo a acelerar este processo, que dá provas da sua precocidade, uma vez que começa cada vez mais cedo, entre crianças. Poderemos inverter esta tendência? Como?
Sou pai de duas crianças, sendo que com muita frequência ouço à mais velha, episódios que ocorreram na sua escola que me fazem pensar na sua segurança. Onde estão os pais destas crianças? E os professores nunca testemunham estas vivências? Onde estão quando sucedem? O que fazem quando lhes, se, chega ao conhecimento? Há, na sociedade, estruturas adequadas e preparadas para tratar as vítimas destas agressões? O que podemos fazer para evitar o fenómeno? Que destino podemos dar aos bullys?
Enfim, medos e receios, mais do que muitos, quando se trata da violência, seja em que contexto for, mas obviamente, crianças e idosos em primeiríssimo lugar. São o princípio e fim de uma vida que merece ser vivida sem sobressaltos e com saúde. O sorriso de uma criança feliz é mais de meio caminho andado para o sucesso de uma nação.
nota: Amanhã vai ocorrer uma sessão temática sobre esta matéria do "Bullying", no Auditório da Escola Superior de Educação de Leiria. Saber mais AQUI.
Prof. António Câmara - Palestra
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