Terça-feira, 13 de Abril de 2010

A indiferença

Escrevi este texto há pouco tempo e continuo convencida que Portugal premeia quem é indiferente, quem não está para se maçar.

 

"O que é a indiferença? Elie Wiesel ( prémio Nobel da Paz em 1986) definiu-a assim: “ trata-se de um estado peculiar e bizarro em que a fronteira que separa a luz da escuridão, o lusco-fusco da aurora, o crime do castigo, a crueldade da compaixão, o bem do mal – se dilui”( discurso proferido a 12, de Abril, de 1999 na Casa Branca.).  O tempo veio provar que esta  analise à entrada do milénio era quase profética em relação ao que temos assistido  durante esta década , muito em particular no meu país . Não sei se alguma vez a indiferença se vai tornar uma virtude , mas não estamos longe deste estado. Ser indiferente tornou-se quase obrigatório. A indiferença cruza-se no nosso caminho    de uma forma perturbadora. E tem seguidores. Demasiados.  Assiste-se a uma bulha entre crianças na rua : não são meus filhos ;  segue-se em frente; o problema não é nosso. Há obras  adiadas   ou feitas por pressão eleitoral: “não te metas”! Só arranjas dificuldades pessoais acrescidas e o problema   continuará por resolver.  E a indiferença cresce , adensa-se e prospera como uma erva daninha . Só de vez em quando   somos sacudidos por desgraças  excepcionais como a enxurrada  na Madeira , o terramoto no Haiti ou  o tsunami na Tailândia. Da indiferença à compaixão demora apenas um clique no computador. Depois volta tudo à sua vidinha – indiferente -. Só com uma indiferença irracional podemos ter um Primeiro Ministro em Portugal, politicamente fragilizado  ainda no governo do país. Só  com uma enorme indiferença pela causa pública e pelo governo da República aceitamos sem reacção   a falta de  regras seguras e sustentadas  em  fatias do nosso quotidiano  como por exemplo: a idade para  a aposentação ( todos os anos muda) avaliação dos professores ( ainda não percebemos o que quer esta Ministra da Educação) avaliação dos alunos  (  todos os anos há alterações e sempre num sentido facilitar  a passagem ). Reagir? Para quê? Estar indiferente  não traz qualquer  incómodo,  agrada aos chefes e pode ser confundida com submissão . “A Indiferença é mais perigosa do que a ira e o ódio” (E. Wiesel ) Porquê? Porque combatemos o ódio, censuramos o ódio, desarmamos o ódio”. Como se censura a indiferença? Como combatemos a indiferença social , política e ética? Diria que com esperança e motivação; “juntos avançamos para um novo milénio levados por um medo profundo e por uma esperança extraordinária.” Voltei a ter esperança. Esperança de que este país se rebele contra um governo que entretém mais do que governa, um governo que distribui o que não tem e prometeu o que não devia. Só a indiferença permitiu um PEC  com cortes cegos  e  sem equidade  social.  15 anos de governo socialista  adubados com a indiferença atroz de um país sem esperança  conduziram-nos a esta encruzilhada.  Todavia eu voltei a ter esperança de que melhor é possível; é  possível no plano filosófico:  devolver ética à política, no plano da organização do estado,  menos estado e melhor estado;  liberdade de escolha; na educação e na saúde na organização social do estado, e finalmente apostar numa nova organização política da nação.

 Façam favor de se rebelar."

                                                    In " Jornal de Leiria"

                                                  

publicado por Ana Narciso às 09:04
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7 comentários:
De anonimo´s a 13 de Abril de 2010 às 09:28
Ana:
Dou-lhe uma novidade:
ESTE PEC ainda é suave...
Cortes a sério virão e equidade social em Portugal nao existe desde Abril...bastando estar atento (repete-se Portugal é o país da UE com maior diferenciação social... e quem o governou?)
De Anómico a 13 de Abril de 2010 às 10:44
Comentário apagado.
De José Ferreira a 13 de Abril de 2010 às 11:17
Caro anónimo
Não sei o que se passou, mas não menos consideração.
Como sou meio analfabeto informático, vou ver se remedeio o texto.
Cumprimentos.
De Ana Narciso a 13 de Abril de 2010 às 13:17
O governo só governa com os votos dos Portugueses e a indiferença generalizada dos eleitores que não votam , nem saem dos cadernos eleitorais. a indiferença é uma doença social e cívica letal para a nação Lusa. Portanto somos todos culpados: uns porque não conseguiram apresentar-se como alternativa, outros porque em vez de governarem entreteram-nos com números de "Magalhães" matreiramente " à borla "mas realmente pagos com os nossos impostos. Até você caro anónimo também tem culpas no cartório, nem sequer ultrapassa a fronteira entre o crepúsculo e a aurora , a responsabilidade cívica e material da anónima sem rosto e sem materialidade . Mas eu estou "fora de moda ". Apresentem-se outros. Espero ainda ter tempo útil de vida para apreciar a diferença.

De Pedro Oliveira a 13 de Abril de 2010 às 09:38
Ana,
Este post é muito oportuno tendo em conta a nossa conversa ontem ao jantar.Pena que muitos politicos da nossa praça, cultivem esta indiferença para se eternizarem no poder e justificar o "se não formos nós ninguém aparece".
De Marco a 13 de Abril de 2010 às 13:38

Boa tarde,

O problema da indiferença não está apenas em quem não vota, em quem não exerce os seus deveres cívicos, pois ao não votar, ou ao votar branco ou nulo, estamos a deixar nas mãos de outros a decisão do nosso futuro.
Dirão alguns, depois de eleitos, o nosso futuro está nas mãos de outros na mesma, sim mas se todos fossemos civicamente activos a indiferença seria menor.

O problema está também nas diversas classes que "mandam" no país:

A classe política que ano após ano, eleição após eleição, vão trocando de poleiro entre si, vão dominando a administração central e local como que se de uma monarquia se trata-se, fazendo da política uma empresa familiar onde os amigos têm acesso privilegiado .

Escreveu-se aqui quando das eleições autárquicas, que quando um dos candidatos apresentou a sua candidatura, os apoiantes era nada mais nada menos, que muitos dos filhos dos candidatos da lista, demonstra a tal monarquia que limita o acesso à vida pública de pessoas possivelmente válidas (não quer dizer que os filhos deste não sejam) e demonstra indiferença dos demais.

Os sucessivos governos que mandato atrás de mandato nada fazem, nada tentam fazer, pouco ou nada querem fazer, a não ser olhar para dentro, se algo está mal paga o funcionário público, paga o contribuinte da classe média, paga enfim quem precisa de trabalhar para se sustentar e sustentar o país.

Para quando o pagamento de impostos à séria pela Banca?, para quando o pagamento de impostos pela Igreja?, para quando a penalização directa dos gestores públicos de empresas que dão milhões de prejuízo ? para quando a eliminação radical da franja da sociedade que vive á custa do orçamento de estado, seja através da atribuição de subsídios, seja com negócios milionários com o estado?

Eu pessoalmente não sou indiferente a estes assuntos, nem a outros que ficam por falar, mas mais do que isto não posso, mais do que isto não sei ou não posso fazer .... é outro tipo de indiferença ...

Cumprimentos,
De Paulo Sousa a 13 de Abril de 2010 às 21:00
Gostei desta sua reflexão.
Mas, quando se olha em volta e se vê tanta irracionalidade à solta, e refiro-me não apenas à governação local e nacional, mas também à aceitação como normal da mentira dos gestores da coisa pública, à aceitação reverente do enriquecimento sem explicação, ao elogio tácito pelo sucesso sem esforço, à demonização do lucro, à perseguição dos criadores de emprego e de riqueza, à complacência por quem não se esforça... etc... a indiferença pode ser uma forma de defesa da sanidade mental. Não estou a defender os indiferentes (até porque no fundo não querem saber se alguém os defende) mas é assim que a interpreto.
De Ana Narciso a 13 de Abril de 2010 às 23:40
Estou totalmente em desacordo: é exactamente por essa indiferença que chegámos a onde chegámos e estamos quase todos a dar em doidos!!

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