Quinta-feira, 13 de Maio de 2010

PEC(ADOS) III

Ninguém se entende. De um momento para o outro tudo muda. O que era verdade passa a ser mentira, e o que era mentira passa a ser verdade!

De um dia para o outro, literalmente de um dia para o outro, os grandes investimentos passam de opção estratégica inadiável a qualquer coisa perfeitamente dispensável, que bem pode esperar. De opção estratégica de crescimento e maior instrumento de retoma, a qualquer coisa de irrealizável e perfeitamente desaconselhável nas actuais condições financeiras.

Tão rapidamente que nem o próprio ministro das obras públicas notava, continuando a mergulhar, decidida e corajosamente, nas ondas de umas águas que já não existiam!

Então mas o que é que se passou para possamos entender uma inflexão de 180 graus num primeiro-ministro (PM) tão teimoso (obstinado, dizem eles!), de “antes quebrar que torcer”, sempre pronto a negar as evidências?

Terá sido aquela excursão a Belém (mais uma das nossas muitas originalidades) de antigos ministros das finanças? Eram tantos e de tanto peso que assustaram o PM?

Não, nada disso. Não foi, nem poderia ser!

Terá sido em Bruxelas? Será que lhe conseguiram abrir a cabeça e meter lá dentro que aquilo não era boa ideia?

Não foi bem assim. Devem ter-lhe dito que com a ajuda do FMI se arranjavam uns 750 mil milhões para salvar (?) a eurolândia e que, para termos direito à nossa parte, ele teria que mudar de ideias. Antes, na sexta-feira, já o presidente do Grupo Espírito Santo, Ricardo Salgado, indefectível do PM e da sua estratégia, e defensor máximo dos grandes investimentos, por cá tinha dito que, afinal, a ideia não era lá grande coisa…. Quer dizer, que tinha já percebido que não havia dinheiro para aquela brincadeira. Percebe-se que mais vale um simples aviso de Ricardo Salgado do que o de todos os antigos ministros das finanças juntos, mesmo quando alguns deles têm mesmo muita lata!

Só que a mudança soa a falsa. Soa a: “porreiro pá, mas é contrariado …”!

É que ninguém conseguirá perceber como é que o TGV avança sem a ponte. Toda a gente percebe que a ponte, a terceira (!) travessia do Tejo, não poderá parar. Só pára, não para inglês ver, mas para europeu ver!

Os impostos, que também não aumentavam, – ainda na semana passada o PM com o sua habitual arrogância (também há quem lhe chame vigor) respondia a uma deputada na AR perguntando-lhe se via no PEC algum aumento do IVA, – afinal aumentam, como todos há muito sabíamos. Mesmo sem estar previsto no PEC! Onde o défice tem mesmo que baixar já neste ano, como também já sabíamos. Aumenta o IVA (1 ponto percentual) em todas as taxas (reduzida, intermédia e normal), aumenta o IRS (1 ponto até ao rendimento de 18 mil euros anuais e 1,5 pontos para os rendimentos superiores) e aumenta o IRC (de 25 para 27,5%).

E, à conta das exigências do PSD para acompanhar o governo nesta patriótica cambalhota, os vencimentos dos titulares de cargos públicos de gestão e regulação serão cortados em 5%! Não estávamos habituados e ficamos surpreendidos com este rasgo. Mas, com mais atenção, pouco veremos para além do mero alcance político. É que toda essa gente tem a faca e o queijo na mão! Podem ir buscar com uma mão o que a outra lhe retirou.

E parece que quanto à despesa pública, improdutiva e não social, essa óbvia frente de ataque ao défice, ficamos por aqui! Isto é, não se lhe toca…

Já vamos no PEC III e percebemos que ainda não é assim que lá vamos. Que se pode privatizar os CTT e a REN, mas não se pode, por exemplo, mexer na RTP. Que recebeu do Estado 2 mil milhões de euros entre 2003 e 2009 (tanto quanto os efeitos de todas aquelas medidas de agravamento de impostos) sem que isso tenha evitado uma situação de falência técnica (capitais próprios negativos em perto de 600 milhões de euros). Que, apesar de todas as subvenções que recebe do Estado, e este ano serão mais 300 milhões, ainda apresentou no ano passado 14 milhões de prejuízo.

Esperemos pelo PEC IV. Talvez aí se ouça então falar de 13º mês!

Para já, não só escapamos a essa ameaça de nos irem ao bolso sacar o 13º mês como ainda temos a boa notícia do crescimento do PIB em 1% no primeiro trimestre, que levou o nosso PM a declarar Portugal “campeão europeu do crescimento económico”.

E ainda há quem diga mal deste homem… Livra-nos de ficarmos sem o subsídio de natal e ainda nos faz campeões do crescimento! Com notícias destas quem é que precisaria do Benfica e do Papa (papas e bolos) para enganar os tolos?

publicado por Eduardo Louro às 14:00
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21 comentários:
De antonio carvalho a 13 de Maio de 2010 às 19:00
Tenho coisas bem mais importantes do que ler as suas provocações continuadas
Peça ao Papa que lhe ensine a dar a cara, porque pode estar a adorar um Deus que não sabe quem é ou que não existe, mesmo que corporizado em Cristo !
De Anonimo´s a 13 de Maio de 2010 às 20:09
Ideias?Argumentos? Factos?

*
O ocidente criou luxos à sombra de expectativas e esqueceu-se do valor do trabalho e da produção. A deslocalização do capital para a India e a China cria serios desafios...nao temos produção que acompanhe o fluxo unidimensional.
*
É um novo paradigma de economia o que está a nascer!
Venha a novidade!
Junte-se a nós ACarvalho...
De Anómico a 14 de Maio de 2010 às 10:18
"PARADIGMA DE ECONOMIA O QUE ESTÁ A NASCER" Na Índia e na China? ou será mão escrava? trabalho por um naco de pão. Eu não quero isso para mim. Fechem as fronteiras á China ou então que comprem também , não é só vender á custa da miséria do povo.
De Anonimo´s a 14 de Maio de 2010 às 12:57
Nao cultive o seu umbigo.
Os outros têm direito ao desenvolvimento.
No Ocidente do Luxo também já passamos pelo trabalho escravo no sec XIX...só que a competição era diferente.
Na India e China a mao-de-obra é barata, mas deixa de o ser dentro de alguns anos...a nossa é que gosta de luxos como pensões e subsidios.
Sabe sao diferentes relógios...
De Anómico a 14 de Maio de 2010 às 15:02
Eu quero o desenvolvimento da China. Sabia que actualmente as maiores fortunas pessoais estão na China, pais onde em 2009 os mais ricos duplicaram as suas fortunas . Eu quero o desenvolvimento da China mas não feita por CHULOS que se servem da mão de obra barata, sem o mínimo respeito social pelo seu povo. Cá em Portugal as desigualdades asentuaram-se também á custa desse desenvolvimento, somos o pais com o ordenado mínimo mais baixo, mas onde os gestores são os que mais ganham. Eu gosto do luxo, mas não acredito como o Sr. que para eu ter luxo outros tenham de passar fome.
De Anómico a 14 de Maio de 2010 às 15:12
Sei, mas tb sei que sao bilioes os chineses...
E entao? Qual é a conclusão q quer tirar, para além das intenções bondosas?
É a de que a China e a India têm de ter pensões, RSIs, etc.? Se assim fosse nao conseguia pular...
De Anómico a 14 de Maio de 2010 às 15:57
Não falo em pensões, mas sim numa melhor distribuição dos dinheiros, para que os Chineses também tenham poder de compra e uma vida com mais luxos, e não poucos a "roubar" biliões e muitos a ganhar tostões. Então podemos ser competitivos com eles. Porque também sabemos trabalhar, mas não acho justo abdicar da nossa qualidade de vida, porque o sistema deles os obriga a trabalhar quase de graça. Isto não tem a haver com regimes políticos , porque a China diz-se comunista e a Índia é chamada a maior democracia do mundo.
De Anómico a 14 de Maio de 2010 às 16:22
Para distribuír, é preciso ter, produzir.

Se ganham tostões é porque a vida e eles assim o escolheram.

Os ricos nao andam por aí a assaltar. Para ter fizeram alguma coisa....é bom nao esquecer que nem todos temos os mesmos talentos...há melhores do q nós.

Se nao quer abdicar da suia vidinha, ficará mais triste...
De Anómico a 14 de Maio de 2010 às 17:29
Não o sei com quem falo nem me interessa, mas posso lhe dizer trabalho á mais de 20 anos, num tive um dia de baixa nem seguro, sempre paguei os meus impostos, trabalho em média 12 a 13 horas por dia, mas não sou capaz de pisar nem maltratar ninguém Há muita forma de roubar sem assaltar, não pagar impostos, gastar o dinheiro em festas e carros topo de gama e não pagar aos empregados, subornar, enganar, usar a desgraça alheia para ganhar dinheiro, não pagar a fornecedores e empregados e mandar o dinheiro para o estrangeiro, etc. Como pode ver anda muito rico a roubar sem assaltar. Se pensa que vou passar a trabalhar 18 horas por dia para estas coisas continuarem a acontecer ? Pode ser que um dia haja não um 25 de Abril mas um 26 de Abril.

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