Os mercados financeiros continuam a penalizar a Grécia que atingia, ao fim da manhã de hoje, um risco de bancarrota de 33%, ultrapassando países como o Iraque, o Dubai, a Letónia e a Islândia e encostando-se aos países com maior risco de falência do mundo: Venezuela (com um risco de bancarrota de 46%), Argentina (45%), Paquistão (39%) e Ucrânia (mais de 35%).
Esta era uma situação inimaginável há bem pouco tempo para um país da zona euro e é um sinal verdadeiramente assustador para Portugal.
Numa entrevista de ontem ao Jornal de Negócios, o vice-primeiro-ministro grego Theodoros Panglos era o espelho do desânimo e do isolamento grego, acusando mesmo a Alemanha de racista e deixando-nos a nós portugueses um aviso: “… não sejam neutros, porque vão ser as próximas vítimas”.
Se juntarmos a isto o que se está a passar com a banca irlandesa, com activos tóxicos a rondar os 50% do PIB a obrigarem a uma intervenção estatal dessa ordem, que resulta na total nacionalização do sector, vemos com vai difícil a vida para os PIGS!
Gostaria apenas de deixar uma nota para os que, na onda do politicamente correcto, acham que os alemães nada têm a ver com isto. Que era o que faltava era que tivessem de ser eles, que trabalham e produzem, que levam as coisas a sério e que, ainda por cima, poupam que se fartam, a virem agora ajudar uns malandros do sul da Europa que nada fazem, e que não passam de uns tesos que não param de gastar o que não têm. Isto é demagogia: para que os alemães tenham excedentes os outros têm que ter défices; para que os alemães vendam os outros têm de lhes comprar; e, the last not the least, não terão sido eles os principais arquitectos desta Europa subsidiada para não produzir? Desta Europa inundada de fundos para garantir capacidade de consumo dos bens de alta qualidade made in Germany?
Se calhar ficava-lhes bem outra atitude!
Passei quase toda a semana passada em Berlim. Já tinha visitado a cidade em 1993. Dezasseis anos depois, Berlim é um cidade muito diferente. Não na dimensão das suas avenidas e da sua área de implantação, características em que continua imensa e que a faz ter, pelo que conheço, Moscovo como a única concorrente europeia. Basta ver que entre a curva a meio da Herrstrass e o fim da Unter den Linden, a recta que muda de nome várias vezes tem 11,6 km.
Além da consciência que os berlinenses têm da sua centralidade europeia, além de ser a capital da maior economia europeia, a Berlim do início do sec XXI é também um hino e uma mostra da arquitectura que se fará nas próximas décadas.
Distinguir o que foi a Berlim ocidental da RDA é um exercício impossível sem um mapa adequado, ou sem a companhia de um berlinense. Na minha primeira visita, distinguir as duas metades, era muito mais fácil.
Num intervalo ‘arrancado a ferros’ entre outros compromissos, tive a oportunidade de visitar o Museu da RDA. O DDR Museum foi nomeado em 2008 para o European Museum of the Year Award. É um museu cheio de interactividade, onde o visitante ouve, vê, mexe e interage com o espólio. Visita-se todo o museu a fundo no espaço de uma hora, durante a qual o visitante é levado a fazer uma viagem ao dia-a-dia dos alemães de leste dos anos 60, 70 e 80. Mas a visita é também uma viagem a um país em que a própria designação era contraditória. A República Democrata Alemã, não era uma república, pois o seu Presidente não era eleito livremente pelo seu povo (os candidatos eram sujeitos a uma superior triagem prévia), não era democrática, pois o regime era ditatorial, imposto por um outro pais terceiro e não resultava da vontade dos alemães em causa, e também não era alemã, pois o que era mesmo era soviética, em território alemão. Além de que o próprio conceito de Alemanha pressupõe uma soberania que não existia.
A parte do museu referente à Stasi é das mais impressionantes. Observar os números é revelador do que era a RDA. Em 1989, a Stasi tinha 91.000 funcionários a tempo inteiro e 173.000 colaboradores. Abria diariamente 90.000 cartas, tinha 20.000 telefones sob escutas e toda esta máquina, digna efectiva da designação de Big Brother, consumia anualmente 4,200,000.000 marcos da RFA. Nos seus 180 km de prateleiras estavam arquivados 39.000.000 de ficheiros. Comparar a PIDE à Stasi é o mesmo que comparar o Centro Comercial Jardim em Porto de Mós ao Alexa na Alexanderplatz, um dos mais dinâmicos Centros Comerciais da cidade, curiosamente pertencente à Sonae Sierra.
No museu não podia faltar o famoso Trabant, o carro pelo qual as famílias alemãs esperavam em média 16 anos, mesmo tendo dinheiro para o comprar. Também se pode ver uma maqueta detalhada das linha de 'defesa' do muro onde as minas pessoais, o arame farpado e as espingardas dos guardas estavam viradas para o próprio povo, o que fazia do país uma prisão. Estima-se em 125 o número de alemães que foram abatidos pelos guardas quando tentavam fugir do 'paraíso' comunista.
Também desconhecia os detalhes do que se passou no famoso jogo do Mundial de Futebol de 1974 entre a RDA e a RFA, em que a RDA ganhou no confronto directo na fase de grupos, mas foi a RFA que trouxe o título para casa. As fardas das duas equipas estão expostas, entre muitos brinquedos, condecorações, músicas da época, programas de TV, rádio, etc. O museu da RDA é realmente um local a visitar.
Comparar a Berlim actual, cosmopolita, grandiosa e claramente capitalista, com a que retinha na memória de 1993, ainda profundamente marcada pelo regime comunista, é viver o famoso 'quinxe a xero' do Ricardo Araújo Pereira.
Há menos de um mês na Assembleia da República o PCP votou contra uma proposta de congratulação pela queda do muro de Berlim aquando do seu 20º aniversário.
Como é que se pode festejar o 25 de Abril com tanta festa e engolir em seco no 9 de Novembro, dia em que o muro caiu? Será que os alemães não mereciam liberdade? Será que a ditadura vigente na RDA era boa só porque era de esquerda? Será que a Stasi, os prisioneiros políticos e a censura eram aceitáveis só porque tinham origem comunista? Alguém me ajude que não consigo entender.
Confesso que, ao contrário da minha filha mais velha, a Joana, que desde pequena sempre foi uma admiradora dos alemães, e com justificadíssimas razões, entre as quais a forma como souberam renascer dos imensos dramas de duas guerras mundiais consecutivas e o rigor da sua organização social, eu nunca fui um particular entusiasta da coisa alemã, à óbvia excepção dos seus produtos e das suas tecnologias. Aí há muito que sou o mais fanático dos alemães!
Comecei por apresentar este antagonismo emocional para salientar a forma como os acontecimentos pesam em função da sua proximidade com cada geração. A minha foi ainda muito marcada pelo nazismo, não tanto de forma directa mas naquilo que foi transportado para o regime em que crescemos. De modo que via aquela língua como uma coisa agressiva, sempre a lembrar-me aquele bigodinho ridículo…Depois, confesso que no futebol, aquela coisa tipo panzer sempre a ganhar, também não contribuía nada para captar as minhas simpatias.
Enfim, mas tudo isso já ficou para trás e, agora sou, também eu, um admirador, já não só dos carros e dos equipamentos alemães, mas dos próprios alemães. E olhem que é coisa recente!
O primeiro passo foi dado através de uma estória, passada no mar, que envolvia um alemão, um experimentado marinheiro português, uma prestimosa assistente de bordo, e a personagem principal: uma genoa. Nem vale a pena contar a estória, nem teria espaço para o fazer. Fica apenas o registo do meu primeiro momento de aproximação simpática a um alemão!
Pouco depois, dava eu próprio aqui conta de um gesto só ao alcance dos grandes cidadãos: um multimilionário alemão, Dieter Lehmkuhl de seu nome, quando o seu governo anunciava baixar os impostos, tomava a iniciativa de promover o lançamento de um imposto apenas para eles próprios, para os multimilionários. Já não era necessário mais nada para, definitivamente, me tornar num grande admirador dos alemães. Afinal isto não é possível em mais nenhuma parte do mundo!
Mas não é que na passada semana tomo conhecimento de mais um gesto nobre de uma cidadã alemã? Conta-se em poucas palavras: a senhora era gerente bancária, e geria contas de gente de baixos recursos, que muitas vezes as deixava, se bem que por pequenos montantes, a descoberto, com todas as implicações que bem conhecemos, e contas de gente como o tal senhor Dieter Lehmkuhl . Então a senhora transferia destas últimas os valores necessários para que os desgraçados não fossem ainda mais desgraçados. Logo que essas contas estivessem regularizadas pelos seus titulares voltava a repor os valores nas contas mais abastadas.
Aí pensei quão injusto eu havia sido para um povo que é composto por pessoas como estas!
Mas a história não acaba aqui! Porque alguns dos ditos desgraçados, quando viam dinheiro na conta voltavam a gastá-lo, a dita senhora não conseguira repor todos os valores. Por isso, mas sem utilizar um único cêntimo em proveito próprio, agora reformada, a senhora tem de dispor da totalidade da sua reforma para ressarcir os titulares das contas mais abonadas, que não conseguira repor.
Cheguei então a pensar pedir ao tal dito senhor que lhe desse uma ajudinha, porque bem a merece!
Em Portugal temos muitas histórias parecidas… diferem é no destino dado ao dinheiro. É também essa pequena diferença que nos faz tão diferentes de um povo que merece ser admirado!
Ao longo do muro de Berlim existiam alguns pontos de passagem controlados por militares, checkpoints. Foi o terceiro deles, ao qual foi atribuída a letra C, que se tornou mais famoso. Segundo a linguagem fonética utilizada pela Nato o C corresponde a Charlie, e assim ficou conhecido o ponto de passagem no centro de Berlim.
Este local é referido várias vezes nas obras de John LeCarre. Ali foram trocados espiões, desfilaram tanques e ali bem próximo foram abatidos cidadãos de leste que estavam fartos do paraíso. O Checkpoint Charlie foi por isso um dos palcos da Guerra Fria.
Após a queda do muro, o posto foi convertido num Museu. Estive lá em 1993 e partilho aqui esta foto que tirei na altura.
(clique para ampliar)
A imagem retrata algumas das imensas tentativas de fuga do que era o mundo controlado pelo primeiro estado operário. Entre 1961 e 1989 muitas dezenas de pessoas morreram a tentar sair desse 'maravilhoso mundo'.
Deixo-vos outras fotos da mesma visita.
Fotos tiradas com uma saudosa máquina analógica e manual de marca Praktica (Made in German Democrartic Republic)
Por coincidência realizaram-se eleições em Portugal e na Alemanha no mesmo dia. Por coincidência, foram ganhas por quem já ocupava o poder. Não por coincidência, mas por consequência, mantêm os mesmos chefes de governo: Sócrates e Ângela Merkl.
Acabaram-se as coincidências!
O indigitado ministro das finanças do governo alemão reconhece um grave problema na exorbitante dívida pública. Em Portugal, onde a exorbitância é muito mais exorbitante, não se fala do endividamento. Fala a oposição, mas fala sozinha…
O novo governo alemão lança às malvas o equilíbrio orçamental e, porque o tempo é de combate à crise e o resto é conversa, prepara uma acentuada descida de impostos, como aqui referia ontem o nosso colega Paulo Sousa. Por cá, bom é que a crise se mantenha, para esconder a outra, muito nossa e de ciclo tão longo que já é estrutural. E é bom, mandando a dívida às malvas, que avancem os grandes investimentos públicos. Porque, por cá, é mesmo muito bom fazer negócios com o Estado...
Na Alemanha, e segundo uma notícia publicada na Sábado de ontem, um grupo de milionários vai propor ao governo a criação de um imposto de 5% sobre a fortuna dos mais ricos durante dois anos. Esta invulgar iniciativa, absolutamente inimaginável em Portugal, tem uma cara e um nome: Dieter Lehmkuhl. Um nome que não conheço nem faço ideia se será muito ou pouco conhecido na Alemanha. Mas ficará certamente conhecido!
Em Portugal não há nomes destes. Apenas nomes dos que se preocupam muito com o salário mínimo e … de sucateiros. Sucatas e sucateiros é que não faltam por cá!
Prof. António Câmara - Palestra
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