Se na linguagem comum temos expressões como meter o nariz, meter a colher ou meter a mão, no futebolês temos a expressão meter o pé. Nada mais natural – dir-se-á – no futebol o normal será meter o pé! No futebol também muita gente mete o nariz … onde não é chamado, muita gente gosta de meter a colher e também se mete a mão, e de que maneira! Também se mete o pé na argola. E há quem ponha aqui o seu pezinho...Mas só e apenas meter o pé integra o vocabulário futebolês! Meter o pé significa determinação, garra, vontade de ganhar, persistência, ambição, raça…
Meter o pé está eminentemente ligado à disputa da bola, à disputa de cada lance, com coragem e sem medos. Como se fosse o último, com o vigor e a convicção de que será recompensado com a conquista da bola, afinal, como temos visto, a preciosidade mais disputada num jogo de futebol.
Poderemos encontrar o tipo mais dotado que se possa imaginar para a prática do futebol – capacidade técnica e artística, como agora diz o Jorge Jesus, velocidade, potência de remate, colocação, etc – mas, se não meter o pé, nunca será jogador, jogador de top, bem entendido.
Arriscaria mesmo a afirmar que meter o pé será, pela força com que arrasta e integra os grandes conceitos do futebol actual, a mais completa expressão do futebolês. Meter o pé não se limita a descrever a mera disputa de bola. Vai muito para além disso, para reflectir toda a dimensão psicológica do jogador: em particular o carácter e a força mental. A forma como mete o pé diz tudo sobre o comportamento social do jogador, isto é, sobre como ele se integra naquele microcosmos social que é a equipa, o grupo a que pertence. Se é alguém que sabe colocar os interesses colectivos acima dos seus interesses particulares ou se, pelo contrário, entende que os seus próprios interesses se sobrepõem aos de todos os outros. Se é alguém com inegável espírito de grupo e solidário, um entre pares, ou se, pelo contrário, é alguém egocêntrico e inchado de vedetismo.
Sendo o futebol um jogo colectivo, feito de um forte espírito de grupo, quem não meter o pé arrisca-se a ficar isolado do grupo, por desmerecer da solidariedade e da coragem dos restantes colegas, e a transformar-se num corpo estranho dentro da equipa. Esta é uma verdade cada vez mais verdade, uma verdade que cresce à medida que as dinâmicas de grupo se vão cada vez mais afirmando nas novas realidades do futebol, em que a dimensão humana, em toda a sua complexidade, é tratada ao mais alto nível pelas diferentes ciências postas ao serviço do desporto em geral e do futebol em particular.
Meter o pé tem, por tudo isto, o seu quê de misterioso, quase como código de representação genética. Há jogadores que, chegada a hora, tiram o pé. E há os que metem a cabeça onde outros nem os pés metem! Há, evidentemente como em tudo, quem confunda as coisas e entenda que meter o pé é entrar a matar, varrer ou ceifar o adversário. Que vale tudo, à Bruno Alves ou à Paulinho Santos. Isso não é meter o pé, é ir com tudo: pés, braços, cotovelos, cabeça, enfim, com tudo o que estiver à mão! Isso não é impor respeito, é aterrorizar!
Meter o pé está ainda ligado a correr, dentro da mesma imagem de raça, de ambição, de agressividade e de espírito de sacrifício de que muitos jogadores fazem a sua imagem de marca. Raça, ambição, agressividade e espírito de sacrifício que, ao contrário de há bem poucos anos, é hoje indispensável nas grandes estrelas. O virtuosismo é apenas um plus que faz a diferença, mas só a faz depois de terem corrido ou trabalhado tanto como os outros. Como é um plus, mas que faz toda a diferença, transportar essa mentalidade para o colectivo e cada um dos membros do grupo. Que Mourinho faz como ninguém, como se viu com Etoo, a estrela que no Barcelona não corria, que já tudo tinha ganho, e que no Inter correu e defendeu no campo todo com a ambição de um principiante. E como se percebeu que iria, apesar de tudo, conseguir fazer com Balotelli. É, por tudo isso, o melhor e o mais ganhador treinador de futebol. Também por isso se pôde dar ao luxo de escolher o Real Madrid… bem antes do Real Madrid o escolher a ele!
Regresso hoje àquelas expressões a que aqui tenho feito referência muitas vezes, que à primeira vista parecem não fazer qualquer sentido para, pouco depois, percebermos que, afinal, seria difícil encontrar outra que melhor transmitisse a ideia que lhe está subjacente.
Bascular o jogo não é mais que uma versão mais actual, mais modernaça, da velha e gasta mudança de flanco, um movimento que tenta explorar o factor surpresa que, no futebol como em tudo na vida, constitui uma das maiores vantagens competitivas. A ideia é simples: quando o jogo está todo ele puxado para um dos lados, para um dos flancos do campo, com os adversários com as atenções aí concentradas, surge a esperteza de dois jogadores: um que resolve tirar a bola dali e colocá-la precisamente do outro lado e outro que percebe que é para lá que tem que se deslocar, para a receber e regalar-se com todo aquele flanco livre de incomodativos adversários. É surpreender o adversário, todo ele balanceado para o lado contrário, através de um golpe de génio, um misto de esperteza e de capacidade técnica. De pouco lhe vale a esperteza se não tiver capacidade técnica para colocar a bola no sítio certo, num movimento que, de facto, lembra o de uma báscula, uma gigantesca e velocíssima báscula.
Bascular o jogo é introduzir-lhe um factor de surpresa mas também um factor de mudança. Um movimento de rotura, que acaba com aquela embrulhada de um molho de jogadores concentrados num curto espaço de terreno que se atropelam em busca de uma bola. Que rompe com uma fase do jogo improdutiva e desagradável, de um mau espectáculo.
É de um movimento de rotura e de um agente de mudança que hoje, aproveitando esta ideia de viragem que o bascular suscita, gostaria de falar. Refiro-me a Jorge Jesus e ao seu papel no Benfica. De rotura com um passado de visão derrotista, de rotura com a fatalidade do insucesso e de viragem de uma página e de um ciclo. Que basculou a equipa para o lado do sucesso, o lado da qualidade de jogo e da qualidade do espectáculo que tem para servir.
A partir daí tudo se transformou: jogando bem é mais fácil ganhar e, ganhando, acorda e mobiliza uma massa adepta única em Portugal, capaz não só de manter cheio o seu estádio como de encher os dos adversários por esse país fora. A UEFA acaba de divulgar que Benfica é o décimo clube europeu em assistências, numa lista encabeçada pelo Barcelona (o segundo é o Borussia de Dortmund) e onde o Real Madrid é terceiro o que, para uma liga de um país como Portugal, é notável.
Foi uma mudança, esta do Benfica e de um ano para o outro, a todos títulos assinalável e que, sem qualquer sombra de dúvida, tem que ser levada a crédito de Jorge Jesus. E de Luís Filipe Vieira que, contra muito boa gente, incluindo Rui Costa, mas certamente avisado das intenções de Pinto da Costa, entendeu ter chegado a hora de o contratar.
Confesso que era um dos que achavam que não era treinador para o Benfica. Por uma questão de imagem: um corte de cabelo a atirar para o foleiro, um discurso a atirar para o deprimente, gafes sucessivas, umas atrás das outras e, por fim, o raio da pastilha elástica, já de si pouco abonatória mas ainda mascada de boca aberta. Era evidente que o homem sabia da poda, tinha-se visto por onde passara, mas, para mim, isso não era condição suficiente!
Estava enganado! Não no que respeita à imagem, essa está lá e já ninguém a consegue mudar. Estava enganado era quando pensava que a sua capacidade profissional não era condição suficiente para ser treinador do Benfica. Afinal foi suficiente para ser muito mais que treinador do Benfica, foi suficiente para se tornar no agente de mudança que marcará a história, rica e grandiosa, do maior clube de futebol do país. E é suficiente para, apesar do handicap da imagem, provavelmente se ter transformado, a seguir a José Mourinho, no treinador português mais apetecido para os mercados internacionais, como a recente renegociação do seu contrato, com a introdução de uma cláusula de rescisão – 7,5 milhões de euros – inimaginável para o mercado de treinadores em Portugal, deixa perceber.
Ora aqui está também uma lição de vida: quantas vezes, por razões de preconceito, se negam oportunidades a gente verdadeiramente excepcional naquilo que faz? E quantas vezes, quando uma oportunidade finalmente chega, estamos ainda preparados para a agarrar, e bascular a nossa vida, como fez Jorge Jesus?
Linha é um dos mais discretos mas também dos mais utilizados termos do futebolês. Entra nas maiores controversas do futebol e na maioria das expressões que animam a discussão falada em futebolês.
Desde logo porque o jogo se desenrola dentro de quatro linhas, mesmo sabendo que é fora delas que muitas coisas se decidem. Depois porque o próprio campo, o espaço delimitado pelas quatro linhas, é também ele dividido por linhas: é a linha de meio-campo, onde se situa o círculo central, é a linha lateral, a linha final, que no seu espaço ocupado pela baliza se passa a chamar linha de golo. Mas é ainda a linha de área, da grande e da pequena!
Tudo linhas de grande discussão: discute-se exacerbadamente se uma bola saiu pela linha final, ou mesmo pela linha lateral, e quem lhe tocou em último lugar, uma discussão que começa com os próprios jogadores que, para o efeito, criaram até uma sinalética própria: levantar o braço. Invariavelmente levantam-no ambos, reclamando para si a legitimidade da recuperação da bola.
O tom sobe frenética e muitas vezes dramaticamente quando em discussão estão as linhas de área ou a de golo. São as linhas das grandes decisões: da bola que entra ou não, da carga sobre o guarda-redes que é ou não faltosa, da falta que dá em penalti ou num simples livre directo…
Mas se a controvérsia é grande quando se trata de linhas traçadas a branco sobre o tapete verde, ela sobe exponencialmente quando essas linhas deixam de estar traçadas a régua e esquadro e passam a simples linhas imaginárias, como a linha do último defesa, que determina o fora de jogo e que continua a ser a maior fonte de discussão, e a decisão de mais difícil acerto e de maior influência no desenrolar do jogo.
A linha é de uma riqueza vocabular ímpar no futebolês e, por isso, não se esgota à volta do xadrez geométrico do campo. Atinge ainda a própria geometria interna das equipas: a linha defensiva, a linha média e a linha avançada. Ou a dimensão táctica do jogo, com a defesa em linha, também ela desenhada em função de opção táctica relativa ao fora de jogo. Ou a própria constituição da equipa, também ela designada de linha. O treinador faz ou apresenta a linha. O jogador alinha na equipa.
Também aqui há, como sabemos, lugar à polémica. Raramente o treinador faz a linha em linha com o adepto. Nós, adeptos, que só vemos os jogadores ao domingo, chegada à hora da constituição da equipa, sabemos sempre muito mais sobre os jogadores do que o treinador que com eles trabalhou toda a semana. E é sempre evidente que a nossa linha é muito melhor do que a do treinador, uma verdade indiscutível que raramente consegue ser sujeita a prova!
Já quando se trata da linha do seleccionador nacional a coisa é ligeiramente diferente. Aí estamos em maior igualdade de circunstâncias! E por isso temos muito mais razão para achar que ele é uma besta…
Como é, agora com a convocatória para o mundial da África do Sul, o caso. Nem é necessário questionar os convocados: Quem é aquele guarda-redes que ninguém conhece? Porque é que o Beto jogou todos os últimos jogos no FC Porto? Onde é que o Deco tem andado a jogar? Onde é que estão médios construtores de jogo para levar a bola aos avançados? Basta lembrarmo-nos da trapalhada de uma pré-convocatória com 50 nomes, que ninguém conseguiu entender para que serviu e que não serviu mesmo para nada. Da rábula da convocação de 24 em vez dos 23 da convocatória final, quando a FIFA permitia ainda convocar 30. Os mesmos 30 que, um ou dois dias depois, seriam encontrados com mais 6 convocados a título provisório, um dos quais nem sequer constava do primeiro grupo de 50! Confuso? É que é assim mesmo: uma confusão! Criada sem qualquer nexo por Carlos Queirós que, assim, perdeu – creio que definitivamente – a oportunidade de conquistar o apoio popular que nunca conseguiu fazer por merecer, e de que a própria selecção se ressente.
Ao fim da linha chegou o campeonato da I Liga. Com o Benfica a fazer finalmente a festa há muito anunciada e sucessivamente adiada. E que festa! Nunca visto!
Foi um campeonato com um justo vencedor e com um tão surpreendente quanto justo segundo classificado. Tão justo que é injusto que o treinador do Braga o tenha ofuscado com um discurso descabido, ultrapassado e sem sentido.
O evidente abuso do discurso à volta do castigo a Vandinho nota-se claramente por dois pormenores: a recuperação de Andres Madrid, que brilhou no lugar de Vandinho na última fase do campeonato quando, depois do regresso do FC Porto, onde estivera emprestado (!) na época anterior, estava completamente perdido no plantel; e a quebra de Hugo Viana, a estrela maior da primeira volta do campeonato que, na segunda, praticamente não jogou. Que seria dito se tivesse sido castigado como, de resto, me pareceu ter feito por merecer?
Foi um campeonato da confirmação de uma estrela: Di Maria. Mas de duas grandes revelações: Fábio Coentrão, transformado por Jesus num grande defesa esquerdo, e Falcao – que Pinto da Costa, como já fizera com o Álvaro Pereira, roubou ao Benfica – um grande ponta de lança mas, acima de tudo, um grande jogador de futebol! Capaz de alinhar em qualquer dos gigantes europeus!
A ceifa é, como todos sabemos, um processo de colheita. Caracteriza-se por deitar abaixo, derrubar: seja erva viçosa, milho verde ou trigo doirado, cevada, aveia ou simples feno.
É esta característica – derrubar, deitar por terra – que faz da ceifa uma colheita especial, mas que também transporta a dimensão do futebolês. No futebol não se ceifa a relva, ao contrário do que se poderia pensar. A relva é em geral cuidadosamente tratada e cortada, nunca ceifada. Às vezes é tratada de forma a chatear o adversário: regada (ou encharcada?) antes do jogo, deixada mais crescida para atrapalhar o adversário, ou até sujeita a rega no final do jogo apenas para dar um banho aos adversários que fiquem a festejar… Pequenos truques que, se comparados com o que vimos no passado domingo, não passam de simples e inocentes brincadeiras de crianças.
Já lá chegaremos. Por agora retomemos a ceifa e a sua aplicação a esta forma de expressão, ao futebolês. Está pois bem de ver que o que se ceifa no futebol é o adversário: derruba-se, deita-se por terra!
Ceifar o adversário não é um mero derrube. Não tem a preocupação de matar a jogada (é mais mesmo de matar o adversário!), nem da falta cirúrgica. É um derrube violento, acompanhado de um movimento que nos transporta para o imaginário da ceifa, daquela não menos violenta ceifa de foice em punho, que deixava os campos inundados de suor (e quantas vezes de lágrimas…) arrancado às entranhas de ranchos de mulheres que, de sol a sol, em pleno pique do Verão escaldante, vergavam searas que se transformavam em pão de um sustento sempre regateado. Só que, naquele campo verde, ao contrário da seara doirada transformada em árido e seco restolho, o movimento é executado pelas pernas.
Claro que ceifar o adversário, que também há quem identifique com arrancar pela raiz, que é outra forma de colheita, é uma entrada faltosa, também e ainda designada por entrada a varrer, e portanto punível disciplinarmente. É uma entrada violenta que coloca seriamente em risco a integridade física do adversário, a vítima que não é, nem poderá ser, um inimigo.
Já atrás deixei escapar que o tema que hoje pretendo abordar é outro. Tinha que pegar num vocábulo do futebolês, como é obrigatório, mas do que realmente quero falar é da intolerável violência que marcou todo o ambiente que rodeou o jogo do Dragão, entre o Porto e o Benfica, do passado domingo. Daí que tenha procurado uma expressão que se associa, e que já deixei associada, a dois conceitos que vêm a propósito: violência e colheita. Bem miscigenados na velha expressão popular: “Quem semeia ventos colhe tempestades”… E vêm-se semeando ventos há 30 anos!
Nada justifica, nem nada pode tornar aceitável, o ambiente de terror que foi criado à volta de um jogo de futebol. Um terror que vem em nítido crescendo, numa escalada que ninguém sabe onde irá parar.
O que se passou no Porto vem na sequência do que se tem vindo a passar ao longo dos últimos 25 ou 30 anos, em Lisboa, no Porto, nas auto-estradas, nas áreas de serviço, no Algarve…
O que se passou no Porto, e o que se vem passando em especial sempre que Benfica e Porto se encontram (desencontram), é o resultado de uma escalada a que a sociedade portuguesa tem de pôr fim. Não é mais um problema do futebol, é um problema de todos nós, é uma questão de civilização! É uma questão de cidadania, do Estado de Direito, de ordem pública! Porque todo o cidadão tem direito a sentir-se protegido e seguro em qualquer espaço do território nacional.
O estado a que se chegou é o resultado de muita incúria e de não menos irresponsabilidade. As próprias instituições do Estado deixaram-se contaminar pela manipulação da clubite e ficaram reféns de um poder que já ninguém sabe onde começa nem onde e quando acaba. Lembramo-nos todos de Vale e Azevedo que, envolvido num sem número de acusações, só depois de perder o manto protector da presidência do Benfica viria a ser incomodado pela Justiça, com os resultados que se conhecem. Não haverá mais? Não sei! Mas sei que parece que não há uma PSP nacional, mas uma de Lisboa e outra do Porto. E sei que, passados todos estes dias, das entidades oficiais ainda não ouvimos sequer uma palavra. Que nos tranquilize e que sirva de sério aviso a toda aquela gente que alimenta esta fogueira para que nunca se apague. Que transforma um dos mais belos espectáculos numa guerra sem sentido e que transforma os campos de futebol em campos de batalha.
Contou-nos há dias Eriksson, antigo treinador do Benfica, respeitado e reconhecido gentleman do futebol, que já naquele jogo das Antas de 90, em que os balneários estavam empestados de cheiros insuportáveis, nos tempos do famoso guarda Abel, Pinto da Costa lhe justificava tudo aquilo dizendo-lhe que “guerra é guerra”.
Já lá vão 20 anos em que recorrentemente se reclamava “Lisboa a arder”. Lisboa não ardeu mas a guerra ficou! E foi alimentando grupos de marginais que crescem à sua volta e que tomam conta do ambiente de terror que está a ceifar o futebol. Impunemente, como se pode ver pelo lamentável Comunicado do FC Porto, pelo cúmplice silêncio das autoridades públicas e pelas penas aplicadas pelas autoridades desportivas: duas multas ao FCP – uma de 1.200 e outra de 1.500 euros – provavelmente uma média pouco superior a um euro por cada bola de golfe, isqueiro ou telemóvel arremessados aos jogadores e ao treinador do Benfica. Ah! E uma multa ao Luisão, de 1.125 euros, por ter simulado devolver à procedência um desses isqueiros!
Assim se ceifa o futebol quando apenas era preciso mondá-lo!
Mais uma das travessuras do futebolês. Há maldade em todo o lado e o futebol não é excepção. No futebol há muita maldade: entre dirigentes, entre adeptos e até entre jogadores, dentro e fora do campo. Também nos árbitros há muita maldade…
Mas essa é a maldade comum, praticada pelos maus. Maus a tempo inteiro ou apenas maus às vezes. Mas maus, por vocação ou por circunstância. Que, também tendo vida própria no futebol, se estende a tudo o que é actividade humana. É o preço que temos de pagar pelo pecado original…
A maldade no futebolês é outra coisa. Se é necessária uma prova de que o futebolês não é coisa má, ela aí está: fazer da maldade uma coisa que não é má. Que é mesmo uma coisa boa! Começa logo por não ser praticada pelos maus e estar apenas ao alcance dos bons. Dos muito bons! Maldade, no futebolês, não é mais do que aquele gesto técnico, só ao alcance dos mais dotados, que resulta como que numa humilhação (não, não são os “olés”, porque esses não vêm dos jogadores, mas de uns tipos que não percebem a diferença entre um campo de futebol e uma praça de touros) para o adversário. Mas numa humilhação que não é por maldade, pela maldade comum.
A maldade mais frequente, e talvez a menos exigente de recursos técnicos, é aquela de fazer passar a bola por entre as pernas do adversário. Há quem lhes chame túnel (vejam bem, túnel!) rabeta ou mesmo cuequinha! Todas as outras maldades são bem mais exigentes. Quer de executar quer de descrever.
Todos nos lembramos de inúmeras maldades praticadas por alguns meninos traquinas que espalham travessuras pelos campos de futebol. O Messi é talvez o mais travesso do mundo e delicia-se a fazer maldades, umas atrás das outras. Quem não acha muita graça às traquinices dessa Pulga irrequieta é o Mourinho, ao ponto de lhe montar uma guarda bem apertada para que nem um ar da sua graça pudesse sequer dar.
Por cá, é Di Maria o maior malfeitor. Muita maldade tem esse rapaz espalhado por esses campos fora. Já para não falar dos seus dotes de caligrafia: são letras de todo o feitio e para todos os gostos – passes, assistências e golos! O Saviola também é rapaz dado à traquinice, não dispensa as suas maldades.
Não se pense que só há maldosos no Benfica. No Sporting também há: o Liedson de vez em quando também faz a sua maldade. Tal como no FC Porto: o Bruno Alves, o Raul Meireles… Esses não, desculpem. No FC Porto claro que é o Hulk! Não podemos contar apenas com as maldades no campo, no túnel também contam!
Quem continua a fazer maldades é o Braga. Não, não é maldade querer fazer-se de grande. Não é maldade quase conseguir imitar o Benfica e quase encher os campos dos adversários: quase encheu o de Leiria, há três semanas, e quase que encheu, na semana passada, o da Figueira, dando uma boa ajuda aos cofres do União e da Naval. Nem é maldade que isso seja feito à custa de uma certa batota: compra os bilhetes, freta os autocarros, recruta os adeptos… E não foi evidentemente maldade ter impedido que o Benfica festejasse o título a 25 de Abril!
Como não será maldade que o FC Porto volte a impedir a festa encarnada no próximo domingo. Mas será uma grande maldade, esta na verdadeira acepção do futebolês, o Benfica fazer a festa no Dragão. Gostaria que os portistas não levassem a mal, mas temo que assim não seja! Temo que no domingo no Dragão as maldades não se resumam às traquinices do Di Maria, do Saviola, do David Luiz, ou de um ou outro jogador do FC Porto que, perdoem-me os adeptos portistas, não consigo antecipar. E não é por maldade, é porque, tendo jogadores com capacidade de desequilibrar, o Porto não tem propriamente grandes fantasistas…
O futebolês, como toda a linguagem desportiva, tem uma forte carga belicista. O que não admira pois o futebol, como grande parte das restantes modalidades desportivas, desenvolve-se a partir de conceitos, tácticas e estratégias profundamente ligadas às lides militares.
Os mais elementares conceitos do jogo – defesa, ataque e contra-ataque – têm uma sustentação bélico-militar que vai muito para além da semântica. Daí que o tiro, para além de constituir uma modalidade olímpica, tenha o seu lugar nesta forma de expressão, associado a um movimento dos membros inferiores, também conhecido por puxar a culatra a trás, que resulta num disparo que é um pontapé numa bola que se transforma em projéctil.
Até aqui tudo bem. Temos um tiro que resulta de um movimento da culatra transformado num disparo que expele um projéctil. Mesmo que a culatra não seja mais que uma perna e que o disparo seja simplesmente impulsionado pela coxa e pelos gémeos. A coisa começa a soar a estranho é quando se fala de um tiro de pé esquerdo, fazendo percepcionar o pé como uma arma mortífera, coisa de que nem Bin Laden ainda se lembrou!
A verdade é que é destes tiros que gostamos. De pé esquerdo ou de direito. Com o peito ou com a parte interior do pé. Com a parte exterior ou mesmo de bico, de trivela e ou de bicicleta. E não dos outros, que também os há. E bem mais vezes que o desejável!
Como os tiros, os outros, estes tiros – os remates – também podem ser fulminantes. Ou de pólvora seca! E a bola também pode passar de mero projéctil a um muito mais moderno e sofisticado míssil. Teleguiado, até.
O Cristiano Ronaldo, por exemplo, não desfere simples tiros de pé direito. Não ele desfere verdadeiros mísseis teleguiados, com destino infalível. Bom, isto no Manchester United e no Real Madrid, porque na selecção nacional não passa de uns meros fogachos que mais parecem tiros de pressão de ar. Desconfio que se trate de um grave problema de logística das selecções nacionais porque também o Messi, que no Barcelona (parece que quando encontra do outro lado o comandante-chefe Mourinho a coisa pode complicar-se!) faz do seu pé esquerdo um autêntico lança mísseis, quando chega à selecção da Argentina parece que o transforma numa simples e desajeitada caçadeira. Mas aí, para além da logística, parece-me que há ainda um sério problema de comando. Logo na pátria de el comandante!
Da mesma forma que nem todos os países podem ter submarinos (sendo que alguns seria mesmo melhor que os não tivessem, tantas são as alhadas para os adquirir!) nem todos os jogadores podem disparar mísseis. Se mesmo aqueles dois, os dois melhores do mundo, o fazem apenas em determinadas cenários de guerra, imagine-se quão restritiva é a sua utilização. Alguns ficam-se pelos já muito bons tiros certeiros! O que importa é o resultado final, se um tiro certeiro dá no mesmo de um míssil, que diferença faz?
E depois o tiro certeiro tem a vantagem de ser muito mais abrangente que o míssil. É que extravasa o remate e o próprio rectângulo de jogo . Por exemplo, Luís Filipe Vieira deu um tiro certeiro quando contratou o Jesus. Claro que o tiro foi certeiro mas não para o Jesus: foi certeiro no Quique e atingiu o Rui Costa ainda de raspão! E parece que também foi certeiro para Pinto da Costa que, apesar de apenas atingido por uma ligeira nuvem de fumo de pólvora nos olhos, nada comparável à nuvem que veio do vulcão lá da Islândia, que em vez dos olhos atingiu o coração de muitas companhias de aviação, ficou com a vista turvada e com dificuldade em ver o caminho para a Champions. Bom, e nos túneis, onde ele agora tanto gosta de brincar, é que não consegue mesmo ver nada!
Quem se farta de dar tiros certeiros é o Sporting. É cada tiro cada melro! Agora é o Paulo Sérgio… Eu bem avisava na semana passada que era difícil arranjar um treinador a sério! Mas como o critério era um treinador que este ano tivesse ganho ao Benfica só tinham três hipóteses. Sendo duas meramente teóricas: Rafael Benitez, de que o Liverpool nunca abriria mão e Domingos que espera, com paciência, pelo FC Porto. Tiro certeiro, pois claro: num universo de três acertaram no único possível – em cheio!
Sem tiros, certeiros ou falhados, e com cravos vermelhos em vez de balas, se fez a revolução há 36 anos que, neste domingo, já depois de amanhã, iremos celebrar. Curiosamente o mesmo dia em que muitos, seis milhões segundo as contas, poderão também festejar o título. Uma coisa agora bem mais escassa do que naqueles tempos! Também por isso mais saborosa!
PS: Hoje o Vila Forte vai ter um filho. A Telma vai dar à LUZ! Não vai dar a Alvalade, ao Dragão a outro sítio qualquer.
Começo por confessar que enfrentei algumas dúvidas quando escolhi derbi para o futebolês de hoje. Não estava bem certo que integrasse o próprio dicionário de futebolês! Depois acrescia que, em plena crise de escassez de expressões, como já me queixei, surgir-me nesta semana de derbi, com tanta coisa para dizer, dava-me uma estranha sensação de facilidade de que tenho por hábito desconfiar.
Comecei por ficar mais aliviado quando, escrevendo logo o título, como sempre faço – o título é sempre a primeira coisa que escrevo, depois virá o resto – o dicionário do Word deu logo erro. Era um bom presságio mas não quis deixar de consultar o velhinho dicionário da Porto Editora: nada, não encontrei! Se não está no dicionário é porque só pode mesmo ser futebolês, concluí satisfeito!
Apesar de não constar do dicionário, derbi tem, como tudo, uma interpretação rigorosa que a afasta de algumas simplificações e generalizações. Embora possa permitir algum tipo de generalização, que lhe dê alguma capacidade de abertura a novas realidades, o derbi refere-se ao encontro de duas equipas da mesma cidade.
E é chegado aqui, a esta definição, que sou de novo assaltado pela dúvida inquietante: se é o encontro de duas equipas, de qualquer modalidade e não apenas de futebol, é abusivo concluir que se trata de uma expressão de futebolês. Tarde de mais para voltar atrás! Terei de me refugiar nas generalizações e na capacidade de adaptação para manter o derbi na fileira do futebolês. Não há volta a dar-lhe!
É por isso que há o chamado derbi minhoto, entre o Vitória de Guimarães e o Sporting de Braga, quando o Minho não é cidade e Braga e Guimarães são cidades tão distintas que nem se podem ver… Ou, já com menos propriedade e muito menos rivalidade, o dito derbi do centro, entre a Académica e a União de Leiria. Pode dizer-se que, levado á letra, derbi só há mesmo um: o de Lisboa e mais nenhum… Sim, esse Benfica – Sporting, ou vice-versa!
No Porto acabaram-se. Boavista e Salgueiros deixaram o FCP a falar sozinho. O Leixões, que não é do Porto mas enfim, dava-se também um jeitinho, vai pelo mesmo caminho (o caminho não será o mesmo mas o destino não é muito diferente). Em Lisboa também o Belenenses, depois de tantas e sucessivas vezes, já com as malas feitas, escapar à despedida pela via administrativa (será que ainda não é desta?) deixa o derbi apenas para os velhos rivais. No resto do país, um resto que é apenas o litoral, se já há dificuldade em manter um como é que pode haver derbi?
Estamos conversados: derbi é Benfica – Sporting, que, mais do que o derbi de Lisboa, é o derbi nacional, como que se Portugal seja Lisboa e o resto… paisagem! Por muito que a rivalidade entre portistas e benfiquistas transforme os seus jogos – clássicos, nunca derbis – em espectáculos verdadeiramente escaldantes, a tradição ainda é o que era…
E foi a mais um desses derbis, a mais um grande espectáculo de futebol, que acabamos de assistir na passada terça-feira. Num jogo, em especial na primeira parte, em que não foi possível descortinar uma diferença de 26 pontos (!!!) entre as duas equipas na tabela classificativa, como se aquele fosse um jogo onde tudo começa de novo, sem passado nem futuro. Claro que a diferença acabou por se notar, clara e transparente como a água que caía abundantemente, mas apenas depois de uns terem corrido tudo em metade do jogo, como se não houvesse amanhã, ou simplesmente segunda parte. Então sim, veio ao de cima a superioridade técnica e táctica de um Benfica que fez mais uma vez questão de demonstrar que é a melhor equipa nacional e, por isso, o merecido e justo campeão no final desta liga 2009/2010. Apesar do João Moutinho ter achado que não deu sarrafada nenhuma ( nem o M. Veloso, nem o Grimi, nem o Carriço...) e que o jogo se resumiu a um lance aos 2 minutos da segunda parte, num campo sempre inclinado a empurrá-los para trás. Ou do Costinha achar que pode impedir conferências de imprensa e que deve dedicar-se a exercícios de gritaria de afirmação pessoal e a "querer ou exigir" não se sabe bem o quê, sem qualquer noção de ridículo. Bem sabemos que o Sporting é diferente, mas assim?
Já agora deixo aqui um palpite: parece-me que, com este Costinha, que ou tem algum trauma de infância de afirmação de autoridade, ou anda a tentar convencer o J.E. Bettencourt que a "gestão à Porto" é aquilo, o Sporting não vai encontrar treinador… e ainda vai ter de pedir desculpa ao Carvalhal! É que eu não estou a ver um treinador a sério aceitar trabalhar com um tipo daqueles. Basta imaginar o rapazinho a fazer destas ao Manuel José ou ao Jorge Jesus…
Há uma grande tendência para se associar a malta da bola, numa linguagem mais actual o consumidor de futebol, à ileteracia, ao baixo nível cultural e à alienação. De uma maneira geral tratar-se-ia de gente pouco dada à leitura, cujos hábitos literários se esgotavam n` A Bola, por força da sua liderança de mercado a imagem de toda a imprensa desportiva, dita menor.
Esta ideia mais ou menos generalizada não era muito lisonjeira para o público do futebol mas era-o ainda menos para aquele jornal. Uma ideia injusta! E se relativamente ao público não reclamo dessa injustiça – onde acredito que não haverá andorinhas suficientes para fazer a Primavera – reclamo-a para A Bola. Um dos jornais que ao longo da sua já longa vida melhor soube tratar a língua portuguesa e por onde passaram muitos do que, nos últimos 50 ou 60 anos, escreveram as melhores prosas destinadas àquelas folhas meio amareladas de que se fazem os jornais. Sou leitor de A Bola desde os meus onze ou doze anos e não tenho qualquer pejo em afirmar que foi aí que aprendi, se não a ler, seguramente que a escrever. Com bons mestres, grandes mestres: Carlos Pinhão, Aurélio Márcio, Vítor Santos, Carlos Miranda, Homero Serpa, Alfredo Farinha… só para citar os que já partiram!
Entretanto alguma coisa mudou: intelectuais e executivos passaram a integrar a tribo da bola e contribuíram para a construção de uma outra imagem deste público que se interessa pelo futebol. Não que eles se revelem, quer nas manifestações da sua paixão quer em grande parte da sua conduta de adepto, substancialmente diferentes das massas mais anónimas. Apenas porque gozam de outro estatuto e porque são objecto de reconhecimento a partir de outras vertentes da vida social.
Mesmo ressalvando que não sejam andorinhas suficientes, não me parece que se possa hoje ver os públicos do futebol e da leitura, ou da cultura em geral, em campos diametralmente opostos. O estigma continuará, sem qualquer dúvida. Mas é mais um preconceito do que uma ideia indiscutivelmente sustentável…
O que não invalida que, para o futebolês, leitura seja mesmo e só leitura de jogo. Esta sim uma leitura reservada apenas às elites do futebol para, de uma vez por todas, marcar aquela vingançazinha de quem sente o estigma da menorização. Porque não basta ler, há que analisar e interpretar. E quem são então essas elites?
São, em primeiro lugar, os treinadores de futebol. Todos aprenderam a ler mas nem todos sabem ler. E alguns lêem demasiado devagar, quase que precisam de soletrar. Outros lêem depressa mas não conseguem analisar o que lêem. E depois há os lêem, analisam, decompondo bem o que leram, e interpretam. É por isso que uns conseguem mudar o rumo dos acontecimentos, inverter os ritmos de jogo e mudar resultados enquanto outros mais não fazem que assistir, impotentes, ao desmoronar de estratégias e ambições.
São, depois, os jogadores. Todos os jogadores lêem, lêem é coisas diferentes. É como se a cada um fosse dado um livro diferente e adequado às suas próprias capacidades. Uns têm condições para ler o jogo todo, a movimentação geral do adversário. Outros para ler um sector ou uma zona do jogo e, outros ainda, apenas para ler o jogo do seu adversário directo. Só os sobredotados, como aqui vimos quando falamos do número 10, conseguem ler e decidir em conformidade. Na hora do passe ou na do remate inesperado!
E são, finalmente, os comentadores. Que funcionam como os leitores profissionais, aqueles que lêem para nós, como se fossemos puros analfabetos, incapazes de ler uma letra do tamanho do castelo. Lêem muitas vezes mal. Umas vezes porque não sabem. Outras porque lêem pela cartilha errada. E outras ainda porque lêem da forma que mais lhes convém… Às vezes têm aquela leitura encomendada a fazer lembrar aqueles pareceres de consultores ou de advogados, muito bem pagos e apresentados como paradigmas de independência e de transparência nos processos de decisão, mas apenas contratados para dizer aquilo que o cliente encomendou que fosse dito.
O Benfica foi ontem afastado das meias-finais da liga Europa pelo Liverpool. Não pela superioridade indiscutível do adversário, que pertence ao top europeu, mas por alguns erros de leitura: do árbitro, ao validar o primeiro golo contrariando a indicação do seu assistente, e de Jorge Jesus, ao retirar David Luiz do centro, quando o melhor central do futebol português era o único com velocidade para enfrentar jogadas como a que deu no segundo golo. Já a infeliz escolha de Júlio César para a baliza não é um erro de leitura, é uma opção estratégica errada!
Não. No futebolês não encontro o termo Páscoa. O que não significa que não se encontrem muitas alusões à Páscoa e a expressões com ela relacionadas.
Há muitas ressurreições, muita gente ressuscita. Não haverá Pilatos mas há muito quem, à sua maneira, lave as mãos (as indecisões, e o próprio acto de lavar as mãos – então um ritual judeu da Páscoa -, de Pilatos são hoje postos em causa, mas aceitemos a versão instituída a partir dos Evangelhos). Muitas traições e muitos Judas. E muitos resultados falsos como Judas…
Mas hoje irei fugir um bocadinho ao guião. Curiosamente é em pleno período pascal que surge um dos momentos altos desta época futebolística. Refiro-me ao célebre acórdão do Conselho de Justiça (CJ) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em sede de recurso dos castigos aplicados pela Comissão Disciplinar (CD) da Liga de Futebol Profissional (LFP) aos jogadores do FC Porto, Ulk e Sapunaru, pelas agressões que perpetraram nas pessoas dos já famosos stewards no não menos famoso túnel da Luz. Parecendo uma coisa muito complexa ela é na realidade muito simples, e conta-se em poucas linhas:
i) Cinco jogadores do FC Porto agrediram uns seguranças que, como complemento do policiamento, os clubes visitados são obrigados por lei a contratar. Desses cinco, os dois referidos, fizeram-no à vista da equipa de arbitragem que, logo ali, lhes deu ordem de expulsão. Os outros três apenas foram “vistos” pelas câmaras de vigilância, também elas de instalação obrigatória;
ii) Aquela circunstância, a expulsão, levou, por força da lei, à imediata suspensão daqueles dois enquanto decorria o inquérito instaurado pela CD da LFP que, incompreensivelmente, permitiria aos outros três escaparem a qualquer punição;
iii) A lei, aprovada pelos clubes, pune diferentemente (com molduras penais muito diferentes – suspensão entre 3 meses e 6 anos ou entre 3 e 5 jogos) as agressões conforme as vítimas sejam ou não entendidas como agentes desportivos. Num caso a unidade penal da suspensão é temporal (meses ou anos) e no outro é em jogos;
iv) A CD da LFP entendeu, com abundante justificação e suporte jurídico, que os agredidos, à falta de identificação precisa na lei, eram comparáveis aos polícias, bombeiros, maqueiros, etc. Isto é, eram tipificáveis como agentes desportivos. Percebendo e dando nota pública da discrepância da lei, aplica penas de 4 e de 6 meses de suspensão respectivamente a Hulk e a Sapunaru, no limiar dos mínimos da respectiva moldura penal;
v) Perante o recurso do FCP, o CJ da FPF entende que os seguranças que complementam o policiamento, nos termos da lei imposta aos clubes, não são equiparáveis aos polícias ou aos bombeiros mas sim ao público, aos espectadores. Logo eles que, para poderem vigiar o público, até estão de costas para o jogo… Perante tal entendimento a moldura penal aplicável é a outra (entre 3 e 5 jogos) e condena-os em 3 e 4 jogos de suspensão.
Perante isto surgem os sacerdotes judeus e os mesmos vendilhões do templo de sempre a exigir a cruz. Agora reclamam bem alto aquilo que têm andado a sussurrar baixinho: a crucificação de todos os órgãos da LFP. Também gritam, caluniam e mentem para os desacreditar e condenar. Também manipulam quando, sem vergonha nem pudor, comparam os 3 jogos de suspensão do Hulk (o outro, o Sapunaru não conta, foi para a Roménia…) ditados pela Federação com o número de jogos que, por via da sentença da Liga, esteve impedido de jogar, pretendendo fazer crer que estamos perante decisões dentro da mesma moldura penal. Ou que uma pena ditada em meses pode ser transformada em jogos. Toda a gente sabe que em 3 meses, de Janeiro a Março, podem ocorrer 15 ou 20 jogos. Nos mesmos 3 meses, mas entre Maio e Julho, pode até não haver qualquer jogo. Que a mesma pena de 3 meses pode corresponder a nenhum jogo ou a 20 jogos de suspensão!
É claro que tudo isto acontece porque, pela primeira vez, os órgãos da Liga eram independentes dos clubes. E não é isso que os mesmos de sempre querem. Não! Eles querem ressuscitar os tempos de Valentim Loureiro… Esses tempos que ainda há bem pouco pudemos recordar com essas escutas que por aí andaram. As mesmas que a Justiça ignorou para, como Pilatos há mais de 2 mil anos, lavar as mãos...
Por mim não tenho dúvidas: esta decisão do CJ da Federação traz o cheiro a bafio do velho poder do futebol. Um poder que a FPF soube guardar e proteger para estar ali à mão, em bom estado, logo que necessário. E parece que chegou a hora! Por ironia uma hora a que o nome Jesus também está associado. A hora, como ontem mais uma vez ficou demonstrado perante o Liverpool, em que também o Benfica ressuscitou!
Boa Páscoa para todos!
Começo já a ficar com a sensação, de cada vez que procuro uma nova expressão para esta rubrica, que o baú se está a esgotar… À vigésima primeira edição começa a surgir aquela sensação “desta é que é, vamos ter de ficar por aqui … por falta de matéria-prima”. Depois acaba sempre por surgir mais uma e aí surge uma outra sensação que, por mais que a tenha aqui trazido, não deixa de me invadir o espírito sempre em tons de grande novidade. Refiro-me àquela sensação que tem um pouco a ver com o que em tempos se disse da Coca-Cola: primeiro estranha-se e depois entranha-se! Primeiro estranhamos a sonoridade da expressão e somos invadidos por uma percepção de “non sense” para, logo depois, a acharmos a mais natural do mundo, tão natural que não temos mais nada a fazer que encontrar-lhe todo o sentido que tem…
Invariavelmente, depois lhes apontar os vícios e os paradoxos, acabo por achar que fazem todo o sentido. A entrada fora de tempo não foge à regra!
Entrar fora de tempo não é mais do que chegar atrasado, como me parece indiscutível. Só que no futebolês, porque em futebol a bola é rainha, vedeta e estrela maior, como temos visto ao longo de todas estas semanas, tudo se passa em função dessa entidade central que é a bola. Daí que entrar traduza o entrar à bola, a atitude deliberada da sua conquista ou, no mínimo de a roubar ao outro. Como temos visto a bola é o que de mais precioso existe no jogo, o que é verdadeiramente surpreendente. Perceber que a bola, quando ainda por cima há ali tantas ao redor do campo, é mais preciosa que o Cristiano Ronaldo não deixa de ser reconfortante para todos nós que só percebemos que cem milhões é uma coisa com muitos zeros.
Conquistar a bola para si, ou simplesmente destruir a sua ligação ao adversário, num reflexo dos mais primários dos sentimentos das histórias de amor e ciúme e de faca e alguidar, dá o mote a um jogo que vive de paixões. Muitas vezes mais violentas que as dessas próprias historias de encontros e desencontros, de amores e de traições. Tudo se faz por essa conquista ou por esse roubo. Entra-se á bola de toda a maneira e feitio, esquecendo por completo que apenas se está à procura da mais preciosa donzela daquele reino, sem o mínimo de cavalheirismo, de elegância, de delicadeza, de charme. E como quem a tem dela não larga mão, tudo faz para frustrar as intenções dos que se atravessam no caminho da sua idílica relação, defendendo a sua princesa com todas as suas forças, a nada se poupando, sem regatear esforços e, muitas das vezes, com sacrifício do próprio corpo e muito em especial das próprias pernas. Um verdadeiro exemplo de sentido de defesa da sua dama!
É desta dialéctica, desta luta entre quem guarda e preserva um tão escasso e raro bem (uma para vinte e dois) e quem o tenta roubar, que nasce a entrada fora de tempo. Quando o putativo ladrão entra já, orgulhoso, o proprietário pôs a bola a salvo. Já ela lá não está e apenas encontra as pernas que o outro lá deixou, num sacrifício que a bola não dispensa como verdadeira prova de amor. Chegou atrasado!
A entrada fora de tempo, ao contrário da bola dividida, é penalizada. Eu acho que até deveria ser duplamente penalizada: por falta de pontualidade, um dos graves defeitos dos portugueses que, a não ser penalizado, nunca mais será corrigido, e pelos danos físicos causados no adversário. Deveriam ser mostrados dois cartões amarelos: um para cada sanção!
O problema é quando há confusões: é frequente vermos entradas fora de tempo do Bruno Alves (bom, aquilo é aterrador, é fora de tempo e fora de tudo o que é aceitável!) e dizerem-nos que não, que é uma bola dividida. E aqui há uns mesitos, num tempo de caça às bruxas e quando alguns ainda acreditavam que las hay, las hay, era um ver se te avias: bolas divididas do David Luiz passavam logo a entradas fora de tempo. Era limpinho!
Quis o destino e o calendário que a vigésima edição do futebolês, que leva o número 19 porque a primeira foi a edição zero, calhasse ao dia 19. Que, sendo de Março, é o Dia do Pai.
Por isso hoje festejamos (tchim…tchim) a edição 20, um número redondo que, apesar de pequenino, não deixa de ser redondo, dos primeiros redondos a merecerem festejo. E o Dia do Pai, tão bem ontem aqui assinalado pela Telma num texto que bem merecia ter saído hoje, na vez deste. Mais uma das traições do calendário!
O futebol e a sua linguagem própria, que aqui trato há vinte semanas – a falta de tema vai puxar para cima esta comemoração, até porque a única coisa que tenho como certa é, para descanso de todos vós, que isto não vai chegar a mais nenhum número redondo, tipo 100 ou mesmo 50 – não têm muitas expressões ligadas ao pai. E não se percebe muito bem porquê! Na maioria das casas é o pai que vai à bola. É o pai que vê a bola na televisão e que se transforma no ditador que empurra a telenovela para a televisão da cozinha. É o pai que sonha que o seu pequeno se há-de vir a transformar num Cristiano Ronaldo, que corre com ele todas as escolas e escolinhas de futebol à espera que, enquanto lhe cobram a mensalidade, alguém lhe diga que o rapaz até tem algum jeito para aquilo. O pai que já não é o mesmo pai de há quarenta ou cinquenta anos, quando a bola se jogava na rua, entre vidros partidos e calças rotas, que se preocupava pouco ou nada com a habilidade do puto e muito ou tudo com as calças que se tinham rasgado, com os sapatos que não eram para estragar aos pontapés a uma bola, ou com o dinheiro do vidro que tinha de pagar ao vizinho. Outros tempos e, por que não, outros pais!
Apesar de todo este protagonismo do pai, a paternidade não é de facto exaltada no futebol. É-o muito mais a maternidade! Pelo menos as mães dos árbitros e dos jogadores adversários estão sempre a ser invocadas ao longo do jogo.
É certo que ouvimos muitos jogadores de futebol dizerem que o “Presidente foi para mim um pai”. Fora isso são raras as referências à figura do pai.
Se tivesse de escolher um pai no futebol não escolheria o Veloso. Escolheria o João (Vieira) Pinto: na esfera dos presidentes teve um pai em Valentim Loureiro, como se não cansou de repetir, e um padrasto em Vale e Azevedo e é, ele próprio, um verdadeiro patriarca. Pai muito novo e pai depois, mais velho, pai e avô aos trinta e poucos. Pelo meio pai de Jardel, um pai ausente como se sabe e com os resultados que se conhecem…
Os pais benfiquistas já tiveram ontem a sua prenda. E que prenda aquela rapaziada das camisolas encarnadas (ontem pretas) nos deu a todos nós: uma grande exibição e uma grande vitória ali nas barbas dos franceses, de mau perder como sempre… E apesar de um senhor esloveno que por lá andou de apito na mão que parecia filho de pai francês!
Já os pais sportinguistas terão que esperar pela prenda no dia de hoje porque de ontem não veio nenhuma. Andou por lá um rapaz, mais conhecido pelo sogro do que pelo pai, que achou que deveria vingar o tratamento que estavam a dar a um antigo filho…
Um feliz dia para todos, pais e filhos, de todas as cores!
Já vimos que as bolas se podem multiplicar, que muitas vezes se multiplicam em campo e que até há segundas bolas. Dividir a bola é coisa que parece não bater certo: se há apenas uma bola … não se pode dividir. A bola é como um número primo…. Todavia movimenta-se em ambientes de grande divisão e provoca ela mesma muitas divisões.
Por exemplo os portistas estão divididos sobre o destino a dar ao treinador: enquanto uns acham que deve sair já, de imediato, outros acham que deverá sair apenas no fim da época. Mas estão absolutamente unidos na decisão de não levar o seu contrato até ao fim…
Também os sportinguistas estão agora divididos sobre o mesmo tema: treinador. Ainda há bem pouco tempo estavam absolutamente unidos sobre a matéria: o contrato precário do Carvalhal era para cumprir. Mas agora já não, estão mesmo muito divididos!
Os portistas estão ainda divididos sobre uma matéria que verdadeiramente os angustia. É a questão do segundo lugar no campeonato. Uns torcem pelo Braga para que o Benfica não seja campeão. Outros sabem que o terceiro lugar não dá Champions…
Se há tanta coisa dividida no mundo da bola como não poderia haver uma bola dividida? Até o jogo é dividido. É certo que é dividido por dois meios campos e é dividido em duas partes. Que, ao contrário da bola, até é divisível. Mas não é por isso que se fala de um jogo dividido!
Ainda no final do jogo do Benfica de ontem Jorge Jesus, que não é grande orador mas de futebol(ês) sabe como poucos, dizia que o jogo tinha sido dividido. Mais, que a eliminatória seria ela própria também dividida. Quer isto dizer que o jogo não se tinha caracterizado por um claro domínio de uma equipa mas pela repartição do domínio e das oportunidades de o ganhar. Como a eliminatória dividida quer dizer está em aberto, sem um sentido claro de favoritismo. Mas isso era já um exagero de expressão porque, pelo que se viu, ela parece já bem inclinada para o lado do Marselha…
A expressão bola dividida não tem qualquer analogia com a do jogo dividido. Nem poderia ter, como facilmente se percebe.
Num jogo a bola é objecto da mais acesa e mais brava das disputas. É mais disputada que a mais bela das donzelas no baile da paróquia, até porque a relação é-lhe bem mais favorável: uma única para vinte e dois mancebos. Os encantos do jogo jogam-se em grande parte nessa disputa, que milhões de olhos seguem sem qualquer tipo de descrição. Uma disputa que tem vários momentos. É precisamente um desses momentos que determina a bola dividida. A bola é dividida quando está em condições de ser disputada em igualdade de circunstâncias, quando se encontra numa posição equidistante aos dois contendores que a disputam. Quando, pode dizer-se assim, se encontra em terra de ninguém.
A bola dividida faz uma certa apologia da livre concorrência e da transparência. Uma bola transportada pelo Di Maria ou pelo Messi, junto ao pé, como se nas botas tivessem um íman que a atrai, está bem de ver que não é uma bola dividida. Essa é como aquela donzela que vai para o baile da paróquia mas já leva o namorado, que não descola e que pode até provocar alguns dissabores a alguém mais atrevido, como canta o Rui Veloso.
Tudo é desculpável para discutir uma bola dividida. É por isso que muitas vezes muito boa gente trata por bolas divididas umas que estão bem agarradas, daquelas que vão de braço dado com o namorado. O que evidentemente só pode correr mal. É o caso daquelas entradas a matar, que só podem mesmo dar vermelho, mas que o árbitro desculpa por se tratar de uma bola dividida.
E pronto, daqui já se fica mesmo a ver que a bola dividida é assim como o Natal. É quando um homem quiser. Se é um dos nossos que entra com tudo (outra do futebolês) não tem mal nenhum: era uma bola dividida. Se é um do adversário, qual bola dividida qual quê?
A bola dividida, a par da segunda bola, constitui ainda um dos principais indicadores de sucesso. Quem ganha mais bolas divididas, a exemplo de quem ganha mais segundas bolas, está mais perto de ganhar o jogo. Por razões óbvias: porque é quem mais se empenha, quem mais luta, em suma, quem mais trabalha. E, também no futebol e ao contrário do dicionário, o trabalho vem antes de sucesso!
A expressão de hoje – jogo partido – tal como todas as expressões que por aqui têm passado, mostra-nos, uma vez mais, que não podemos nem interpretá-la literalmente nem afastarmo-nos por completo do seu sentido comum. O que vem provar que o futebolês tem mesmo regras, quase que poderemos dizer que tem a sua própria sintaxe, e que não é apenas uma linguagem marginal de uns tantos apanhados da bola.
Claro que o jogo não se parte no sentido de ficar escaqueirado e feito em pedaços, como facilmente se percebe. Nesse sentido o jogo está sempre inteiro, mesmo que não esteja recheado de todos os ingredientes. Não é, por exemplo, por uma ou mesmo ambas as equipas não estarem completas que o jogo passa a estar partido, se bem que o facto de não estarem completas as possa levar a partir o jogo. A expulsão de jogadores até poderá deixar tudo um pouco mais descomposto, mas não exactamente partido. O que não impede no entanto que a equipa fique feita em cacos.
Claro que vemos equipas feitas em cacos nas mais variadas circunstâncias, não é preciso haver qualquer expulsão. Por exemplo, no passado domingo o Sporting fez em cacos o Porto, quando se pensava que era o Sporting que estava todo escaqueirado. O jogo nunca se partiu, mas o Porto ficou sem ponta por onde se pegar…
Anteontem, em Coimbra, vimos a selecção nacional também feita em cacos, num mau presságio do que aí poderá vir. E não foi preciso que o jogo se partisse, nem sequer que o amputassem do que quer que seja. Nada: equipas completas, 11 jogadores de cada lado (bem sei que, pelo menos na segunda parte, parecia que havia muito mais chineses - eles são realmente muito mais que nós - mas eu contei e estavam mesmo11 de cada lado); tudo completo. Até as bancadas estavam cheias o que, como bem sabemos, é coisa rara por cá. Nem público faltou, como bem vimos e melhor ouvimos… Bastou que o nosso seleccionador, aquele que todos nomeamos seleccionador nacional por unanimidade e aclamação e que durante tanto tempo trouxemos ao colo, resolvesse que teria de continuar a inventar. Que não tinha esgotado todo o seu potencial inventivo na fase de apuramento.
Começa por inventar que a selecção chinesa é igual à da Coreia do Norte, provavelmente porque se limitou a olhar para os olhos. Em bico, também! Curiosamente a Costa de Marfim, que como se sabe é o nosso primeiro adversário no Mundial e que nem sequer tem seleccionador, optou por jogar com a Coreia do Sul, que não nos custa nada a perceber que seja mais parecida com os seus irmãos do norte. Só que com esses não eram favas contadas e, afinal, o que importava era uma vitória para o currículo e fazer mais uns quantos internacionais e não, ao contrário do apregoado, preparar a participação no Mundial e, em particular, o tal jogo com a Coreia do Norte. Depois inventa uma selecção que… vejam só: Hilário, Paulo Ferreira, Rolando, Miguel, Tonel … e Hugo Almeida. Então com este último, com a óbvia escassez de alas (poucos e maus: Cristiano Ronaldo, Simão, Nani, Varela, Coentrão…) inventa testá-lo na ala esquerda. Parece que a lógica é esta: “como temos muitos pontas de lança, e o Hugo Almeida é um jogador de top, de que a selecção não pode prescindir, terá que ser aproveitado para jogar nas alas, para onde não temos ninguém de jeito”. Vejam só!
Evidentemente que o público de Coimbra foi intérprete fiel do sentir do povo da bola e assobiou monumentalmente aquela brincadeira. E Carlos Queirós, que não pode responder a murro a estes críticos, faz de conta que não percebe e responde com coisas absurdas. Numa dessas diz que todos os objectivos foram atingidos, que é uma expressão que me deixa sempre de pé atrás. Duvido de quem atinge sempre todos os objectivos. Mas duvido ainda mais quando, como aqui dizia há poucos dias, alguém diz que os atingiu sem que tivessem sido previamente tornados públicos.
Bom, com tudo isto deixei a bola para trás, quer dizer, deixei para trás o jogo partido. O jogo está partido quando saltou para fora de qualquer lógica de controlo. Quando os jogadores perdem as posições (mais uma expressão do futebolês) isto é, quando o sentido táctico do jogo é ultrapassado por circunstâncias que já ninguém controla. Seja por dentro, no campo, seja por fora, do banco. E o jogo pode partir por três razões: por expulsões, como acima se deixara perceber, quando deixam de estar em campo as peças necessárias à execução de uma determinada estrutura táctica; por opção deliberada de uma das equipas que, sentindo-se dominada pela superioridade táctica do adversário, decide romper com as bases em que o jogo está lançado, esticando o jogo e impondo um futebol directo de que espera tirar vantagem; e, finalmente, quando o jogo se aproxima do fim e, num cenário em que só a vitória interessa, uma ou ambas as equipas partem para um forcing final, no tudo por tudo de uma das mais emblemáticas expressões do futebolês: mais com o coração do que com a cabeça!
Daí que a expressão faça sentido, como de resto temos visto com tantas outras. O jogo de facto parte-se, deixa de ter o mesmo figurino e passamos a vê-lo já desmembrado!
Terminava a última edição desta rubrica, na passada semana, com uma referência ao segundo golo, e o da vitória, do Porto no seu jogo com o Arsenal, especulando sobre qual seria a pressão – o tema era então a Pressão Alta – se porventura aquele golo tivesse sido validado, não a favor, como foi o caso, mas contra o FCP. Não é para retomar essa hipótese especulativa que então deixei no ar que começo o tema de hoje por este episódio. Mas é para o introduzir!
Muitos foram os que defenderam toda a legitimidade desse golo sustentada na sua legalidade que, como se sabe, são coisas bem diferentes. Bem sabemos que há muita coisa que é legal sem que seja legítima, e vice-versa. Neste caso o que estava em causa era a legitimidade, não a legalidade. O que estava em causa era a lealdade! O fair play, de que aqui tanto se tem falado e que cabe aos intervenientes no jogo, aos agentes desportivos, defender. E aqui, ao contrário daquilo que serviu de pretexto para uma manifestação desta semana à porta da Liga Portuguesa de Futebol – não passou de um pequeno ajuntamento de um grupo de amigos de uma das pseudo-vedetas do comentário televisivo, daqueles de que já aqui falamos, para quem o futebol serve de trampolim para tudo e mais umas botas, mas enfim, se houve quem lhe pretendesse chamar manifestação… – ou mesmo para ameaças de impugnação do campeonato, não há qualquer dúvida que jogadores do FCP e árbitro são intervenientes no jogo, agentes desportivos. Caber-lhes-ia portanto, e em última instância ao árbitro, defender esse valor da lealdade que o futebolês universaliza como fair play.
Mas, como dizia há uns anos o hoje treinador do Benfica, que pode ter jeito para muita coisa menos para filósofo, o fair play é uma treta. A lealdade nada vale, ganhar é tudo o que conta. Não importa como!
Sendo esta a realidade do futebol seria natural que entendêssemos a a expressão do futebolês de hoje na verdadeira acepção da palavra: encurtar o campo significaria tirar alguns metros ao comprimento do campo. Para disso tirar proveito, para ganhar vantagem com vista a alcançar a única coisa que conta: ganhar. Ainda há bem pouco vimos um guarda-redes (Kim Christensen, o guarda-redes dinamarquês do IFK de Gotemburgo, que viria a confessar-se useiro e vezeiro) ser apanhado em flagrante pelas câmaras da TV a encurtar não o campo mas a sua baliza…
E a verdade é que isso, mexer nas medidas do campo, até é prática mais ou menos corrente: é que não há medidas obrigatórias e de definição universal para o rectângulo de jogo; há sim medidas regulamentares que podem variar entre 90 e 120 metros de comprimento e 45 e 90 metros de largura, sendo que os organismos internacionais (FIFA e UEFA) exigem, para os jogos internacionais da sua jurisdição, um comprimento entre 100 e 110 metros e uma largura entre 64 e 75 metros.
Portanto é mesmo possível, através da manipulação das medidas do rectângulo, encurtar ou estender o campo, alargá-lo ou torná-lo mais estreito. Mas não é, nem a exemplo do que temos visto (nunca é o que parece sem que nunca deixe de ser parecido) poderia ser, esse o conceito futebolês de encurtar o campo!
Encurtar o campo tem a ver com a redução de espaços mas no sentido de espaço táctico de jogo, com o posicionamento da equipa. Com a pressão alta mas fundamentalmente com as linhas subidas, com o bloco defensivo bem subido. Encurtar o campo pode decorrer de uma estratégia impositiva, de uma atitude mandona no jogo, como também se diz, que tem em vista reduzir os espaços a percorrer até à área adversária, encurralar o adversário não lhe deixando nem espaço nem tempo de recuperação. Mas pode também decorrer de uma estratégia reactiva sustentada numa táctica de blocos juntos e baixos, que visa a redução de espaços entre linhas com vista a dificultar os movimentos de construção do adversário. É normalmente complementada por uma estratégia de exploração do espaço nas costas do adversário através de transições rápidas feitas de lançamento longos, verticais ou diagonais, para a velocidade de um ou outro jogador particularmente dotado nesse capítulo (repararam no que aqui vai de futebolês num simples parágrafo?).
Encurtar o campo é pois uma expressão própria daquilo a que os intelectuais do futebolês chamam dimensão táctica do jogo. Própria da artimanha e da inteligência dos intervenientes no jogo e de tudo aquilo que faz com milhões por todo o mundo se tenham apaixonado por um jogo que tem tanto de simples como de espectacular. Não faz parte das manobras que lhe retiram verdade e lealdade, que desvirtuam a realidade e que manipulam sentimentos explorados a partir do imenso universo de emoções que o futebol consegue parir.
Uma nota final para o Sporting que encurtou o desânimo dos seus adeptos. Uma bela exibição e uma brilhante vitória que os sportinguistas, jogadores e adeptos, já mereciam!
Pressão alta nada tem a ver com hipertensão, essa coisa que tanto nos preocupa e nos faz moderar o consumo de sal, gorduras e tantas outras coisas ou nos obriga a fazer um pouco de exercício físico quando mais nos apetecia ficar no sofá ou mais um bocadinho no quentinho da cama. Como o inverso, pressão baixa, nada tem a ver com a hipotensão que dá tonturas. Não é tonteiras que essas não têm nada que ver ver com o afluxo de sangue mas com o afluxo de asneiras.
Nada tem igualmente nada a ver com carros nem com a pressão dos pneus: muito ar ou pouco ar. Também nada tem a ver com a meteorologia e a pressão atmosférica, até porque aí inverte-se a ordem e utiliza-se o plural: altas pressões e baixas pressões. Nem com todas as pressões que vêm enchendo as páginas dos jornais, esgotando a nossa paciência e desacreditando as nossas instituições: a pressão alta da política sobre a magistratura e dos jornalistas sobre uns e os outros. Dos políticos sobre os jornalistas e vice-versa. E de todos eles sobre nós!
A pressão alta, em futebolês, refere-se a uma postura táctica. É quando, como também se diz, a equipa começa a defender muito subida, quando começa a pressionar o adversário logo na sua zona defensiva. Quando os avançados, uma vez perdida a posse de bola, se entregam de imediato a uma frenética busca pela sua recuperação, que nem a criança a quem tiraram o brinquedo.
A pressão alta corresponde a um espírito de ambição, mas também de algum auto convencimento e de elevada auto estima. Procura a recuperação da bola numa zona que, uma vez ganha, deixa a equipa mais próxima do objectivo: a baliza adversária. E implica, como é natural, uma postura de equipa subida (mais uma expressão do futebolês), isto é, as três linhas (a linha defensiva, a linha média e a linha atacante) evoluem nas zonas mais avançadas do terreno de jogo.
Nem sempre dá certo. Umas vezes porque o balão esvazia, quer dizer, aquilo não é mais que fogo de vista. Outras porque do outro lado estão uns tipos que lhes começam a dar uns nós cegos, trocam-lhes os olhos, e rapidamente os convencem que não vale a pena andarem naquela roda viva que, em pouco tempo, lhes dará cabo de pernas e pulmões. Como em quase tudo não basta querer. É preciso poder!
A expressão contrária – pressão baixa – não existe em futebolês. Realmente não fazia muito sentido, porque a atitude táctica inversa é defender muito recuado. E aí não se exerce pressão, sofre-se! E de que maneira! Claro que corresponde a uma atitude de medo, de claro reconhecimento da superioridade do adversário…
O futebolês arranjou-lhe um nome mais pomposo: bloco baixo, com as linhas recuadas. Isto no futebolês erudito (ou não estivéssemos perante uma linguagem completa!) porque no popular chama-se autocarro. Diz-se que levam um autocarro e o colocam à frente da baliza!
Evidentemente que há no futebol altas pressões e pressões altas que, sendo tácticas, já não são sobre a bola. Nem sobre o adversário seu portador. São outras pressões: sobre os árbitros, sobre os reguladores… Sim, também no futebol há reguladores e também aí são sujeitos a pressões. E também são muito vulneráveis!
Anteontem, no Porto – Arsenal, o Ruben Micael fez pressão alta sobre o árbitro e deu naquilo... Como seria se aquele golo tivesse sido sofrido pelo Porto? E se tivesse sido marcado pelo Benfica e validado por um árbitro português? Aí é que veríamos o que era pressão alta!
Assistência? Então mas esta não é uma expressão universal, utilizada para tudo o que é espectáculo que vive de público?
Não. Apesar do futebol viver de espectadores, das assistências, a expressão em futebolês tem outro significado.
O que não deixa de ser curioso. Parece vislumbrar-se aqui uma forma de sublimação que é muito comum no futebol. Quase idiossincrático! Se a sublimação pode até ser uma arte, o futebol foi sendo encaminhado para dela fazer uma arte suprema.
É que com a queda das assistências, de espectadores, particularmente visível em Portugal, encontrou-se forma de lhe dar outro significado. E logo uma significação baseada numa ideia forte do jogo, que absorve um dos principais momentos do espectáculo: o passe para golo. Assistência é, em futebolês, o último passe para o golo
É também a sublimação do passe. Não se trata pois de um passe qualquer, de um dos muitos que ocorrem durante um desafio de futebol (é curioso como esta expressão se foi perdendo, ao ponto de quase já soar a estranha), nem sequer do último passe, esta também uma expressão do futebolês. Não, é ainda um último passe especial, é o que antecede o golo!
O último passe já tem, por si, uma enorme importância no jogo. Define a finalização. É de tal forma assim que há até o chamado jogador de último passe, para salientar que o último passe não está ao alcance de qualquer um, pelo que exige de qualidade técnica e táctica, de posicionamento. Mas nem sempre o jogador de último passe por excelência é o que faz mais assistências, como o mais rematador nem sempre é o melhor marcador. Têm, ambos, mais probabilidades de o virem a ser, mas só isso.
Assistência deixou, assim, de ser um termo associado a um dos pesadelos das gentes do futebol, precisamente a falta de gente nos estádios. Ao contrário dos grandes campeonatos, e em particular dos dois maiores – o inglês e o espanhol, onde as assistências esgotam normalmente as capacidades dos estádios, com a particularidade de, por exemplo, o Nou Camp, do Barcelona, esgotar apenas com os associados do clube – em Portugal temos a maioria dos estádios às moscas. Um verdadeiro pesadelo (como vemos aqui em Leiria, já tema de chacota nacional), apenas aliviado quando, uma vez por ano, recebem a visita do Benfica, a andorinha que não consegue fazer a Primavera.
Em época de maré vermelha, como a que está em curso, o Benfica é campeão de assistências, ou de bilheteira. No final da primeira volta tinha uma média a rondar os 50 mil espectadores por jogo, mais 12,5 mil (mais de 30%) que o Porto e mais do dobro do Sporting. E ainda dá para ser o abono de família dos pequenos, a quem enche as casas, algumas vezes reforçadas com mais uma bancada amovível. E ainda há quem duvide da tal tese dos 6 milhões…
Mas também nas outras assistências o Benfica domina a temporada, estando inclusivamente o título de rei das assistências a ser discutido entre o Di Maria e o Fábio Coentrão, com o Cardoso e o Saviola à espreita, apesar de serem ainda dos melhores marcadores da liga!
Às vezes estas duas assistências são incompatíveis, como se viu na terça-feira em Alvalade. À assistência do César Peixoto para o golo do Ramires, correspondeu o abandono da assistência das bancadas. Pode parecer um paradoxo – uma assistência que não assiste – mas não é. Porque aquela não era a assistência que não queria assistir, era a que não queria assobiar nem agitar lenços brancos, duas das disciplinas preferidas das assistências cá do burgo quando as coisas não correm bem. As outras, está bem de ver, é chamar nomes bonitos aos adversários e aos árbitros. E especialmente aquela de entoar um dos cânticos do adversário, trocando-lhe um nobre adjectivo por uma deselegância para a uma mãe (não se chega a saber qual), criada há uns anos no Porto mas entretanto adoptada para os lados de Braga, Guimarães (quem diria!) e até ali pelo Campo Grande!
Estranha coisa essa de trocar o apoio e incentivo à sua equipa pela provocação ao adversário ausente! Não é com certeza uma assistência para golo, esta também uma expressão muitas vezes ouvida da boca de narradores e comentadores mas, claramente e como vimos, um pleonasmo!
Cavar uma falta não tem nada a ver com qualquer tarefa rural. Para cavar uma falta não é necessária uma enxada. Deve ser mesmo a única coisa que se cava sem enxada ou qualquer outra ferramenta ou alfaia.
E não é por qualquer metamorfose nem por qualquer fenómeno de mimetismo que se cavam faltas sem o recurso à enxada, essa ferramenta que já faz parte do imaginário nacional e que, ainda há poucos anos, era uma das imagens de marca de um Portugal rural, obscuro e sacrificado. Que de sol a sol acompanhava o trabalhador rural em movimentos contínuos e ritmados, muitas das vezes ao som de ordens cadenciadas, deitadas pelo capataz como que a soar a chicoteadas arrancadas à memória dos tempos da escravatura. Sempre com muito suor e às vezes sangue e lágrimas!
É mais uma expressão do futebolês que parece desprovida de sentido, circunstância que, como temos visto, é comum nesta forma de expressão. Mas, tal como noutras expressões aqui trazidas, há algo que segura uma ponta de nexo, algo que faz sentido: cavar também é arrancar. Arrancavam-se as batatas, por exemplo, com uma enxada no mesmíssimo movimento, o mesmo de “ cada cavadela cada minhoca”, com que assinalamos uma sequencia de manifestações mais ou menos disparatadas.
Ora aí está: cavar uma falta é arrancar uma falta! Inventar uma falta! Não aquela falta cirúrgica de que falamos na semana passada, mas uma falta que faça inverter uma situação precisa. Se um defesa está em situação de apuro para afastar a bola das imediações da sua baliza procura pôr-se a jeito para que o adversário que o incomoda lhe toque, fazendo falta ou simplesmente induzindo o árbitro a acreditar que lhe tocou. Se, em posição de ataque, todos os espaços estão tapados pelos adversários e não há qualquer hipótese de progressão ou de levar a jogada a bom porto, o jogador faz o mesmo: põe-se a jeito para que o defesa que lhe tapa os espaços acabe por lhe tocar, ou simulando mesmo que ele lhe tocou.
Cavar uma falta é, assim, uma saída à laia de chico-espertismo, essa coisa tão portuguesa e tão própria do modo de vida português. E, como a falta cirúrgica, cheira a batota… Cavar uma falta é enganar, é ludibriar alguém: o adversário ou o árbitro!
Mais uma vez, e em paralelismo com o tema da semana passada, em vez de se denunciar como uma má prática, contrária ao fair play, promove-se a sua prática e premeia-se o seu autor, invariavelmente apelidado de inteligente na forma como cavou a falta, seja para se safar de uma aflição defensiva seja para transformar um beco sem saída numa bola parada.
Todos sabemos que a falta de fair play é ainda maior fora do campo. Fora do campo, nos bastidores do futebol, entre dirigentes e um sem número de agentes que gravitam à volta do fenómeno do futebol, não se faz outra coisa que não seja cavar faltas. Com menos, muito menos pudor: são faltas cavadas por simulação pura!
À medida que as ambições sobem assim sobem também as simulações.
Vejamos as consequências do processo do túnel de Braga (já só se falava do túnel da Luz, até parecia que não havia o de Braga para esclarecer) vindas a público três meses (!) depois dos incidentes. Um jogador suspenso por três jogos (Moissoró) e outro, o capitão Vandinho, suspenso por três meses. Olhando para as contratações de Inverno efectuadas pelo Braga reparamos que contratou um lateral direito (Miguel Garcia), porque vendeu o passe do jogador daquela posição (João Pereira, para o Sporting), contratou por empréstimo do Porto (estranho, não é?) um ponta de lança (Renteria) porque pensava que se veria privado de Meyong (que afinal acabaria por não ser convocado para jogar a CAN pelos Camarões) e porque afinal fora enganado na contratação de Adriano ao mesmo Porto. E contratou, por “devolução”, Luís Aguiar, um 10 como Mossoiró e, no último dia, um trinco – Oberdam, ao Marítimo – por acaso o lugar do Vandinho.
É evidente e óbvio que fizeram as contratações cirurgicamente para as posições dos dois jogadores castigados. Revelaram competência de gestão, precavendo-se do que, pelo conhecimento dos factos, sabiam ser inevitável (eventualmente até estariam à espera de castigos mais pesados). Mas a Comissão Disciplinar da Liga, ao demorar 3 meses a divulgar os castigos e ao fazê-lo no dia seguinte ao do fecho das transferências, pôs-se a jeito… E pronto lá cavou, também o Braga agora elevado à condição de candidato a campeão, uma falta de que está a tentar tirar proveito através da vitimização e de uma enorme pressão de que espera dividendos!
Nestas coisas, como já se havia notado com a vasta panóplia de incidentes que criaram para o tal jogo com o Benfica, parece que aprenderam depressa. Ou que têm bons professores!
A falta cirúrgica traduz, em futebolês, uma atitude faltosa, incorrecta e à margem da lei, mas praticada com uma enorme precisão, a começar pelo local onde acontece. É essa precisão que contribui para a dimensão cirúrgica da falta. Mas não chega, é preciso que a jogada interrompida dessa forma seja obviamente potenciadora de perigo.
A falta cirúrgica é pois aquela que é cometida com grande precisão, sem possibilidade de falhar o seu grande objectivo, que é anular uma jogada perigosa do adversário. Jogada perigosa que é tão só a que tem previsíveis condições de resultar em golo.
Começamos a perceber que estamos a falar de qualquer coisa, se não contra natura, pelo menos de grande carga anti desportiva. De qualquer coisa imoral, sendo que a moral no futebol se resume na feliz expressão inglesa “fair play”. Que vai para além da nossa simples tradução – jogar justo – atingindo uma dimensão de respeito muito mais universal que remonta às origens do futebol, um jogo então praticado por gentlemen.
Talvez não tenhamos grande dificuldade em aceitar que, no calor do jogo, na enorme pressão da competição, os jogadores recorram a essas práticas anti desportivas e condenáveis no plano da ética do jogo. O mesmo se não passará quando vemos muitos dos agentes a quem compete divulgar, enobrecer e prestigiar o jogo, defende-lo, quando por mais não seja porque que vivem dele, porque a sua vida depende do futebol, a exaltarem prática da falta cirúrgica e a premiar o seu autor como se de uma grande jogada se tratasse. Custa a entender como a promovem, ao ponto de chamarem ingénuos, como acontece nos comentários aos jogos da CAN, a competição africana a decorrer em Angola, aos jogadores africanos que ainda resistem ao seu recurso.
Não sei, francamente não sei, se a forma como os narradores e comentadores portugueses premeiam o recurso à falta cirúrgica é comum a outros países e noutras culturas. Mas sei que esta atitude dos que comentam e narram o futebol em Portugal não pode ser dissociada da realidade do futebol nacional, sempre pronta a alimentar uma guerra de guerrilha que arregimenta e mobiliza cada vez mais mercenários que, evidentemente, se estão nas tintas para o fair play, para o são convívio que o futebol tem todas as condições de promover e para o respeito pelo sentimento alheio.
O que vimos assistindo nos últimos dias é paradigmático. Autênticas acções cirúrgicas espalhadas por todo o espaço mediático que mais não visam que incendiar o clima de guerrilha já claramente instalado. Clima alimentado por uma enorme legião de comentadores, estrategicamente posicionados nesse espaço, mercenários pagos para fazer a guerra, que deveríamos, todos, deixar a falar sozinhos.
Quando vemos, como vimos e ouvimos nas escutas divulgadas na semana passada, um jornalista que se supunha prestigiado e ética e deontologicamente inatacável – António Tavares Teles – tornar-se parte activa na trapaça urdida em torno do Deco, em 2004, percebemos como é fácil instalar e alimentar a guerrilha.
Por tudo isto é bom saber que há gente que gosta de futebol e que sente e vive a paixão pelo seu clube como um sentimento que sabe cruzar-se com outros sentimentos. Que não se esgota na paixão cega, que não defende a falta cirúrgica, mas uma paixão que serve de nascente que alimenta outras paixões. Por tudo isto me deliciei com um fantástico texto do José Fialho Gouveia, que já aqui trouxe noutra oportunidade, publicado na Mística – revista oficial do S.L. Benfica, “postado” na passada terça-feira no nosso vizinho forte “Albergue Espanhol”, e que o Pedro Oliveira aqui “linkou” anteontem. E me deliciei com os inúmeros comentários de gente de todas as cores clubísticas, entre os quais o de uma leitora que entendeu, como muitos outros, complementar ou rematar o seu comentário. Fê-lo desta forma: “É completamente irrelevante para o caso, mas sou azulona”.
Afinal ainda há gente a ver o futebol assim: onde a nossa cor pode ser sempre completamente irrelevante para o caso. Onde nos possamos rever nos sentimentos dos outros, independentemente da sua cor. Onde sintamos que a nossa paixão é respeitada quando respeitamos a do outro, sem que para isso tenhamos, evidentemente, de deixar de brincar e de apimentar as brincadeiras. Onde possamos todos dizer que não gostamos de faltas cirúrgicas!
A bola levava selo de golo!
Quer dizer, traduzindo do futebolês, que aquela bola tinha, à partida, o destino traçado: aconchegar-se às redes, beijar a rede, dar em golo!
No entanto a bola pode levar selo de golo e … não ser golo. Poderá até parecê-lo, mas não é! E nestas coisas de golo não há dúvida: mais vale sê-lo que parecê-lo. Só vale mesmo sê-lo… Pode levar o endereço errado, e não há selo que lhe valha. Mas o endereço até pode estar correctíssimo. Basta que esteja escrito com letras muito grandes para não dar em nada. É que o guarda-redes lê-o bem lá ao longe e quando a bola lá chega já ele lá está, pronto a recebê-la.
Este recurso do futebolês á linguagem postal demonstra a sua ancestralidade. O futebolês é uma linguagem construída antes da revolução nas tecnologias de comunicação e portanto vai socorrer-se de imagens que, neste domínio, são quase pré-históricas, como é o caso do selo. Do selo dos correios! Da estampilha postal! Porque há outros selos que se mantêm actuais, como os do Sá Pinto, por exemplo.
O rapaz errou a profissão, o que ele queria mesmo era ser carteiro. Mas não, nunca lhe deram essa oportunidade. Primeiro convenceram-no que seria jogador profissional de futebol e ele, a contra gosto lá foi andando, jogando pouco é certo mas correndo muito e com muito empenho, como se tivesse um giro dos grandes a cobrir, e distribuindo, não cartas como ele gostaria, mas fruta. Distribuía fruta - não daquela que é usada lá para os lados do Dragão, de que voltamos a ouvir falar esta semana – mas da outra, também chamada fragatada, a torto e a direito. Porque tinha aquela inclinação para as lides postais, distribuía também alguma daquela matéria-prima usada na colagem dos selos. Depois, uns anos mais tarde, já perfeito símbolo do seu clube – o tal que é diferente, tão diferente que o símbolo até pode vir de um dos rivais (o próximo será, sem qualquer dúvida, o João Pereira) – e quando por lá manda(va)m as claques por entreposto presidente (não confundir com o presidente do Entreposto, esse era presidente a sério), convenceram-no que bom mesmo seria como que uma espécie de director desportivo. Não podiam ficar atrás dos rivais e vizinhos do lado e até daria para aproveitar a boleia e ganhar uns bons trocos numa campanha de publicidade de uma operadora de comunicações móveis…
Ninguém ficou muito tranquilo! Se ele já gostava de selar, com poder a subir-lhe à cabeça… Mas pronto, a coisa aguentou-se por dois meses, também não se podia exigir mais!
O selo não é o único dos termos hoje pré-históricos a que o futebolês recorre. Há outra: o papel químico, que hoje já pouca gente conhece e ninguém utiliza! Diz-se, por exemplo: “uma jogada tirada a papel químico da jogada do golo”. Quando hoje se deveria dizer, por exemplo, não que os murros do Sá Pinto ao Liedson foram tirados a papel químico, mas sim um copy paste dos murros ao Artur Jorge.
Percebe-se que o futebolês esteja agarrado as expressões que as novas tecnologias tornaram ultrapassadas. O próprio futebol convive mal com essas tecnologias, ao ponto de o conhecido Rui Santos ter liderado uma petição, já entregue na Assembleia da República, com vista a melhorar as relações do jogo com as ditas. Convive mal com as câmaras instaladas nos túneis. Alguns tão mal quanto isto: ontem, mais de um mês depois do jogo do Porto na Luz, e depois de toda a tinta que correu sobre o que se passou no túnel, com jogadores suspensos e inquéritos em curso há um mês, vem um responsável portista dizer que afinal ele próprio é que fora agredido e que os jogadores apenas reagiram em sua defesa. Convive mal com as tecnologias de escutas, com a Internet e com Youtube. Com esta última então há quem conviva muito mal. O tal presidente muito dado a antigos hábitos de envolvimento com árbitros, de que falávamos na semana passada, é um dos casos. A ponto de, segundo dizem, ter apresentado uma queixa-crime. Não sabemos nem contra quem nem porquê.
Mas ficamos a saber como se passavam as coisas, quem mandava, da falta de escrúpulos e até da forma como o vernáculo sela a linguagem das altas esferas do dirigismo do nosso futebol! Conversa que se preze é selada com o que de melhor ilustra o nosso vernáculo! O futebolês é para os outros!
PS 1: Esta rubrica, em resultado de algumas alterações que nos preparamos para vos dar conta, passará a chegar ao Vila Forte um dia mais cedo – à Sexta-feira. Já na próxima semana!
PS 2: Uma referência para um blogue que se dá pelo nome do título de hoje: http://selodegolo.blogspot.com/. A não perder para quem gosta destas coisas!
Regresso aos verbos: depois do beijar e matar, das primeiras edições, agora roubar. Um verbo muito conjugado no futebolês. Em todos os tempos mas nunca nas primeiras pessoas.
No futebolês há dois tipos de roubos e, como o colesterol, um é bom e outro mau.
O bom é o roubo da bola!
Mais uma vez roubar a bola não é literalmente furtar a bola, sem que isto tenha o que quer que seja a ver com aquela terminologia jurídica, que a mim me faz uma grande confusão mas que qualquer GNR manipula com o maior dos à-vontades. Na verdade continuo com uma grande dificuldade em distinguir o roubar do furtar, por muito que me digam que a diferença é grande e que tem a ver com a forma como se é mais ou menos proactivo no acto: como se roubar implicasse grande esforço e dedicação, enquanto furtar fosse uma coisa que viesse a talho de foice. Se calhar por isso é que foi inventado o calão: aí, gamar resolve a questão!
Bom, mas bola é coisa que em boa verdade não se rouba. Lembro-me que nos meus tempos de meninice – não sei se já repararam como isto se está a transformar num exercício marcadamente nostálgico, já é a segunda edição consecutiva em que me transporto até à infância – havia uns meninos, os maus, sempre a postos para nos fazerem a folha a uns carrinhos e outras coisas do género, mas quando tocava à bola, nada! A bola não era para roubar, era para jogar. Apenas!
Mesmo quando vemos uma bola que vai parar à bancada e não regressa, isso não quer dizer que alguém a tenha roubado. Quanto muito guarda-a para recordação ou para transformar numa peça rara com destino (quem sabe?) a um qualquer leilão da net, apregoada com um “directamente dos pés do Bruno Alves”! E nós acreditamos! Até podia apregoar que vinha da cabeça, porque não nos custa nada a crer que uma bola cabeceada pelo Bruninho possa ir parar à bancada, tal é a força que vai naquela cabeça. E só não vai acompanhada da cabeça do adversário porque essa, que ficou a cargo dos cotovelos, foi projectada para baixo e deixada estendida no relvado. Já se quisessem dourar a pílula e, para que rendesse mais uns euros, apregoar que viera directamente dos pés do Cristiano Ronaldo ou do Messi seria mais difícil…Mas o que não falta por aí é especialistas de renome a mandar a bola para a bancada.
A bola rouba-se é ao adversário, em pleno jogo. É frequente a expressão: “um roubo de bola perfeito”. Que não traduz uma operação de alta sofisticação na arte do gamanço mas apenas um desarme limpinho, sem qualquer infracção e até com elegância.
Roubar a bola ao adversário é o único roubo lícito que conheço. E aplaudido!
Todos sabemos que há muita gente autorizada a roubar, ou que no mínimo rouba livremente, sem que nada de mal lhe aconteça e também aplaudidos… Lá que os há, há ou não sejamos um povo sempre a dizer que vivemos num país de ladrões!
O roubo mau é o do árbitro.
É hoje em dia o roubo mais em voga, superior mesmo aos roubos a gasolineiras e máquinas de Multibanco. O árbitro não erra, não se engana, nem furta. Rouba mesmo! Mesmo quando não retira (e roubar é retirar, subtrair) ele rouba. Rouba por acção e rouba por omissão. Rouba se não assinala um penalti ou mesmo um golo, mas também rouba se assinala. Se expulsa ou se não expulsa um jogador, se assinala ou não assinala uma falta…
Daí que nos campos de futebol, para além das inevitáveis mimos às senhoras suas mães, sejam também carinhosamente tratados por ladrões e gatunos.
Claro que apenas há roubo quando sentimos, bem ou mal não importa, que o prejudicado é o nosso clube. Se for o adversário não há qualquer problema: lá muito a custo poderá aceitar tratar-se de um simples erro e… errar é humano!
Estes roubos, que andavam um pouco esquecidos nos últimos tempos – o último que veio a público foi divulgado pelo Paulo Bento, através de linguagem gestual, há perto de um ano no Estádio do Algarve – acabam de entrar na ordem do dia.
Há uma semana atrás, a propósito do 25º aniversário da morte de José Maria Pedroto, um senhor muito dado a antigos hábitos de envolvimento com árbitros, recentemente condenado, bem como o clube que há mais de 25 anos dirige, por um desses actos, ressuscitava os roubos de igreja. Que, garantia, eram agora de catedral!
E, no início desta semana, é o próprio presidente da comissão de arbitragem da Liga, um antigo árbitro que sempre defendeu as suas nomeações, a qualidade e as decisões dos árbitros, que vem garantir que as arbitragens, agora, não são imparciais. Em futebolês: que roubam!
Não deixa de ser surpreendente que para o presidente do órgão que superintende na arbitragem, agora, e apenas agora prestes a terminar o mandato, os árbitros tenham deixado de errar para passarem a roubar. Menos surpreendente é que estejam a renascer os roubos de igreja, ou de catedral, do outro senhor: é que quando as coisas começam a ficar mais difíceis lá para aqueles lados já sabemos o que de lá vem!
Não é novidade, nós é que já não nos lembrávamos porque há muito que as coisas por lá iam correndo muito bem!
Enquanto na nossa meninice, nos tempos em que podíamos passar a vida na rua, na maior das tranquilidades – apenas quebrada por um ou outro vidro partido ou por aquele vizinho com cara de poucos amigos, normalmente o do vidro partido, que haveria sempre de encontrar mais um motivo para embirrar – havia uma única bola, às vezes de trapos, no futebol a sério há imensas bolas.
Uma sai de campo e há logo dezenas de outras prontas para a substituir. No final dos jogos, quando correm bem, até há bolas para enviar para as bancadas… Bolas não faltam!
Então qual é a segunda bola? E a primeira? E não há terceira, quarta…enésima?
Pois é, mais uma vez, o futebolês a trocar-nos as voltas, onde nem sempre é o que parece mas muitas vezes parece o que é!
Claro que às vezes está uma segunda bola no campo. Umas vezes por circunstâncias meramente fortuitas outras nem tanto. Se a equipa da casa está a ganhar e as coisas estão apertadas, é frequente vermos mais uma bolinha sorrateiramente enviada pelo apanha-bolas para dentro do campo.
Uma segunda bola assim é mesmo a outra, a marginal. Por isso logo o árbitro interrompe a partida para que seja devidamente posta no olho da rua. Assim mesmo, com a suprema humilhação pública da expulsão e da segregação…Apontada a dedo e pronta a deixar-se atingir por uma qualquer primeira pedra…
Bola que preze não gosta de ser a segunda e muito menos a outra. A um ser tão distinto como a bola, a mais apetecível beldade, como aqui dizia a semana passada, ninguém passa a perna. Apesar de tantas vezes maltratada e agredida, à vista de toda a gente, em plena exposição pública, sem direito à reserva, à intimidade e ao aconchego do lar da violência doméstica, a bola não abandona os seus pergaminhos por mãos alheias. Nunca por nunca seria a outra…
Por isso foi necessário encontrar um outro sentido para a segunda bola, condizente com o seu estatuto de estrela cobiçada pelos mais jovens, belos e ricos de todos os homens.
Em primeiro lugar a segunda bola teria de ser a mesma da primeira. Sem diferença nenhuma, a mesmíssima! Depois teria que se encontrar o tempo e o espaço que pudessem garantir isso mesmo, que a bola é a mesma. Para tudo isto a segunda bola teria de ser mais que uma bola: a bola e a sua circunstância!
A bola na sua circunstância de rechaçada pela defensiva na sequência de um lance de ataque do adversário. Pode confundir-se com outro termo de futebolês – a recarga – mas não é a mesma coisa. Embora a recarga possa ser uma segunda bola, esta é muito mais que uma recarga.
A recarga é uma circunstância particular, digamos que uma sub-circunstãncia, da segunda bola: recuperação seguida de remate, directo e imediato. A segunda bola é a bola recuperada depois de uma iniciativa de ataque interrompida atabalhoadamente pelo adversário, naquele estilo do salve-se quem puder.
Quando a equipa que defende passa a perder sistematicamente as segundas bolas começa a sentir-se asfixiada, tipo Manuela Ferreira Leite. A segunda bola não é mais que a réplica do futebolês à segunda vaga, o que transmite uma ideia de cadência, uma cadência tanto mais avassaladora quanto mais sucessivamente repetida. É o sufoco, a tal asfixia! Ao adversário resta-lhe livrar-se da bola de qualquer maneira e para bem longe, de modo a que a inevitável nova segunda bola demore mais um bocadinho a chegar. Uma nova segunda e não, sucessivamente, uma terceira, quarta… Claro que já percebemos que faria muito mais sentido a expressão recarga, no sentido de voltar à carga, ou de voltar a carregar.
Mas pronto, recarga é outra coisa; e assim sempre se arranjou algo de mais nobre e digno para a segunda bola!
O recente jogo entre o Benfica e o Porto, tão recente que é da última jornada da Liga, resolveu-se com uma segunda bola. Uma segunda bola ganha pelo David Luiz, Para os benfiquistas, seguiu-se um passe longo a isolar o Saviola; para os outros um alívio, um charuto que, por sorte, foi parar ao Saviola. Que fez golo, o único!
Evidentemente que esta coisa de ganhar as segundas bolas tem muito que se lhe diga: posicionamento da equipa, linhas subidas e, principalmente a pressão alta são os ingredientes tácticos para uma receita de sucesso. Que é como quem diz, descodificando o futebolês, todas as zonas do campo bem preenchidas, com a linha de defesas à entrada do meio campo adversário e com imediatas e sucessivas acções de recuperação da bola quando e onde tenha sido perdida. Mas muitas vezes caem mesmo do céu!
A bola é, ou deveria ser, ao contrário do apito do árbitro, o elemento fundamental do jogo. A seguir vêm os onze jogadores de cada lado que, com ela, constituem o núcleo do jogo.
Nuclear no jogo é mesmo a bola e são os jogadores: uma bola em movimento e vinte e dois jogadores a disputá-la, tornando-a na mais apetecível beldade, que todos têm debaixo de olho e a que todos querem deitar a mão, se bem que a maioria apenas esteja autorizada a chegar-lhe o pé!
Bola parada é, assim, uma coisa que parece não fazer muito sentido. O futebolês é pródigo em expressões non sense. Mas só à primeira vista, depois acabamos por lhe encontrar sentido, como já temos visto.
A expressão entender-se-ia nas circunstâncias em que a bola, e consequentemente o jogo, se encontram parados, até à sua reposição em jogo. Mas não é isso!
A reposição da bola em jogo é expressão aplicada apenas para algumas circunstâncias: quando a bola sai pela linha literal e é reposta, na única oportunidade em que um jogador de campo lhe pode deitar a mão, oportunidade de que muitos abusam, apalpando-a por tudo o que é esfera e abraçando-a para além do razoável, especialmente quando se encontram a ganhar; quando a bola sai pela linha final, também chamada de fundo, mas aqui apenas se jogada em último lugar por um jogador adversário, circunstância em que é resposta através de mais um violento pontapé, o de baliza; ou quando o jogo é interrompido por mera decisão preventiva do árbitro, aproveitando também ele, um ciumento que nunca lhe pode tocar, a passar-lhe a mão pelo pêlo para o chamado lançamento de bola ao solo.
O estatuto da bola parada vem-lhe de uma condição especial: um atributo de capacidade para resolver jogos. É um estatuto circunstancial que atinge várias vezes ao longo do jogo.
É o caso da marcação da grande penalidade, a meros 11 metros da baliza, sem ninguém à volta e apenas o angustiado guarda-redes pela frente. É o caso da cobrança de um livre já próximo da grande área adversária, em zona frontal ou descaída para qualquer dos lados ou mesmo de um livre indirecto dentro da mesma. E é já também na marcação de um pontapé de canto, que resulta de a bola ter saído pela linha final mas agora tocada em último lugar por um jogador da equipa que defende. Saindo do campo exactamente no mesmo sítio, o simples pormenor de quem lhe tocou em último lugar, dita a diferença de estatuto entre uma simples reposição de bola e uma nobre bola parada!
As bolas paradas assumiram uma importância capital no futebol actual. Não só são treinados até à exaustão, como são meticulosamente preparados durante o jogo.
Há jogadores, verdadeiros militantes da causa da bola parada, que passam todo o jogo à procura de brindar a bola com esse estatuto, ora através de elegantes mergulhos ora de excitantes passes de dança: um pé que fica para trás, um tronco que se inclina, uma anca que bamboleia…
Os árbitros também contam, e de que maneira, para esta festa. Ora indo na fita destes militantes ora assumindo o seu natural papel de ciumento. Sim, ele é um ciumento, tem ciúmes da bola e, principalmente, dos jogadores. É árbitro apenas por falta de jeito para jogar à bola. Por que é que nos nossos jogos de miúdos, na rua que hoje já não há, nunca havia árbitro? Simples, porque todos queríamos ser jogadores, nunca vi nenhum miúdo que quisesse ser árbitro…
Há quem despreze os golos de bola parada. São os das vitórias morais, outra das expressões do futebolês, que desculpam a derrota com um golo de bola parada, como se não valesse.
Mas, porque valem tanto como os outros e são muitas vezes bem mais espectaculares, todas as equipas procuram bons executantes de bolas paradas. A maioria apenas tem acesso ao especialista: o tecnicista que coloca a bola a contornar a barreira no ângulo oposto ao do guarda-redes, o pé-canhão que imprime tal violência ao remate que fura barreiras e guarda-redes, ou o grandalhão que, além de alto, tem grande poder de impulsão e potência de remate na cabeça. As outras, as da elite mundial, têm acesso ao restrito grupo das super vedetas que concentram tudo isso e muito mais!
É por isso que hoje o grande craque que vale largas dezenas de milhões, tem que complementar todos os atributos que bastavam às antigas estrelas com todas, e não só uma, destas especialidades. E é por isso, porque conjuga todos estes atributos como ninguém, que o CR9 é o que é. E que voltará naturalmente a ser número 1 mundial!
No futebolês também há Natal. E não é quando um homem quiser, é mesmo no Natal.
Não só encontramos alusões ao Natal em incidências ligadas directamente ao jogo, como ligadas ao próprio calendário das competições.
É recorrente o recurso a expressões como prendas de Natal ou mesmo prendas no sapatinho. É, de resto, uma das poucas instâncias onde esta velha expressão resiste. Ora aqui está pois mais um notável contributo do futebolês, neste caso para manter uma expressão e uma imagem bonita que tende a desaparecer. É pena, acho eu, que tenhamos negado às novas gerações o encanto das coisas simples, do sapatinho deixado na lareira, antes de partirmos tranquilamente para um soninho descansado, à espera que o menino Jesus descesse durante a noite pela chaminé para nos deixar uma única e geralmente modesta mas ansiada prenda. Porque nos tínhamos portado bem!
Fomos nós que lhes tiramos isso dando-lhes, em troca, um sem número de prendas que se vão amontoando junto à árvore de Natal e freneticamente desembrulhadas durante a noite. Tantas que, logo depois de abertas deixam de ter valor. Tantas que a abertura da seguinte mata a anterior. Tantas que já não podem ser trazidas pelo menino Jesus. Nem sequer pelo Pai Natal! E que nem é preciso que se tenham portado bem!
Será por tudo isto que, em futebolês, prendas de Natal e prenda no sapatinho são coisas tão diferentes?
A prenda de Natal é uma oferta de um jogador, ou às vezes mesmo de uma equipa, através de um erro ou de um mero acto de infelicidade. É quando, do nada, como também se diz, nasce uma oportunidade. Um brinde para o adversário. Que, agradecendo, aproveita e faz o golo e quantas vezes o resultado.
Já a prenda no sapatinho é destinada aos treinadores, o que os faz transportarem-nos aos nossos tempos de meninice. Como se sabe pelo Natal abre-se o chamado mercado de Inverno que, sendo como que uma segunda oportunidade dada a dirigentes e treinadores, é sempre mais uma oportunidade para agitar o mercado, depauperar as finanças de uns e enriquecer as de outros. É aí que surgem os treinadores a pedir a prenda no sapatinho. Que já não é bem a nossa, dos mais velhos, repito, porque aí era única e normalmente modesta, como referia acima. Quanto menos bem lhes corre a vida mais prendas exigem, já não é só o tal jogador para preencher a lacuna do plantel. Não, já são sempre dois ou três. Bom, mas se o treinador é daqueles que resultam da famosa chicotada, dita psicológica, e ainda em lua-de-mel com o presidente, já não chega o sapatinho. É preciso recorrer à famosa sapateira de Imelda Marcos ou à de Raisa Gorbachev!
O Natal funciona ainda como referência do calendário do futebol. Já vimos que abre uma nova janela de transferências mas assinala ainda a viragem da primeira para a segunda volta do calendário competitivo e, nessa condição, marca as contas que se vão fazendo e atribui mesmo um título virtual: o de campeão de Inverno, que é coisa que não vale coisa nenhuma mas chega para aconchegar o ânimo dos adeptos. Um título no ano passado conquistado pelo Benfica que, meses mais tarde, não lhe valeria mais que o terceiro lugar habitual dos últimos anos. Este ano dizem que é do Braga, apesar de ter os mesmos pontos do Benfica e uma enorme diferença de golos para os encarnados…
Mas o Natal costuma ser fatídico é para o Sporting. Do Sporting se diz que nunca chega ao Natal. Claro que chega a esta bela quadra e até faz muitas festas de Natal. O que se quer dizer com isso é que, chegado ao Natal, já o Sporting já não vê luz ao fundo do túnel (e não é porque Luz e túnel estejam na moda!)... O que não será exactamente pretexto para festejar! Mas festejam e muito! Este ano, que não é excepção (12 pontos atrás do glorioso rival), até fizeram a festa de Natal da Juve Leo, onde apresentaram a primeira prenda para o sapatinho do treinador: um ex-benfiquista e ódio de estimação chamado João Pereira. É realmente um clube diferente! Já a apresentação do novo treinador, Carlos Carvalhal, para evitar a ira dos adeptos, fora feita por vídeo, no seu sítio da Internet; agora, para fintar o ódio dos sportinguistas pela nova aquisição, é a claque, e não a direcção, a apresentar o grande reforço. Notável: os anjinhos a abençoarem o diabo! Percebe-se a atitude protectora, só não se percebe é quem é o protegido... Se calhar é o presidente, o que já não é nem novidade nem sobretudo diferente!
Quem também recebeu uma bela e merecida prenda de Natal foi Messi – o novo melhor do mundo – à frente do nosso CR. Que, para além de passar de melhor para segundo melhor, foi passar um dia ao Uzbequistão, onde Scolari papa milhões, a troco de 600 mil euros! Porque é Natal diz-se que os irá doar a uma instituição de solidariedade social! É... Natal deveria ser todos os dias!
Não. Não é uma daquelas coisas que começamos por erguer por cima da cabeça logo pela manhã. Não é um chuveiro pequenino. Nem tão pouco outra daquelas coisas com que, antes destes modernos dispositivos gota-a-gota, regávamos as alfaces no quintal. Nem mesmo aquela chuva miudinha, enfadonha mas que molha tudo!
Em futebolês chuveirinho é outra coisa, mas tem tudo a ver água, com molhar e molhada e mesmo com pingar.
O chuveirinho surge quando uma equipa que passou o tempo todo sem conseguir fazer nada de jeito, vendo aproximar o fim do tempo de jogo, também chamada a fase do desespero, começa a despejar, não água mas a bola, para a área adversária. Ou seja, como não encontrou forma de fazer a bola chegar com eficácia à chamada zona de finalização, porque para tal lhe faltasse arte e engenho, a equipa ensaia um novo esquema táctico, tipo tudo ao molho e fé em Deus, que passa por chutar bolas para a área do adversário onde, nessa altura, estão quase todos os jogadores: os adversários todos e todos os da equipa que tenham alguma altura que se veja.
A bola é então sucessivamente despejada para a área, normalmente a pingar, quer dizer a descrever uma acentuada curva, bem pronunciada e de trajectória bem previsível. Pois bem, parece-me que isto basta para perceber que o termo não é assim tão estapafúrdio como poderia parecer!
Esta táctica do tudo ao molho e fé em Deus tem tudo para não dar certo. É quando se diz que se joga mais como coração do que com a cabeça, o que parece não bater certo porque indispensável, naquelas condições, é mesmo a cabeça. Ás vezes, no meio da confusão, a mão também dá uma mãozinha!
Mesmo sabendo-se que tem tudo para não dar certo – porque os adversários estão de frente para a bola e, ainda por cima, normalmente são mais altos, porque a trajectória da bola é muito previsível, porque a equipa fica desposicionada e vulnerável a um contra golpe do adversário, e ainda por mais uma série de razões que os entendidos serão capazes de acrescentar – às vezes até resulta… Por isso mesmo é uma táctica usada por todas as equipas no mundo na hora das aflições.
O chuveirinho não nasce de geração espontânea. Tem como predecessores, o jogo partido e o jogo directo e, mais remotamente, o jogo vertical.
Tudo começa com o estudo do adversário. Quer dizer, em vez de se ter o adversário estudado durante a preparação do jogo, tipo trabalho de casa feito, começa-se o jogo em tom morno tipo não ata nem desata. O problema começa precisamente quando aquilo não sai dali, do dito estudo mútuo. Às vezes ainda passa para a fase do jogo rendilhado, que é quando andam ali de um lado para o outro mas sem sair do mesmo sítio, sem qualquer objectividade. Quando dão por ela já só faltam 20 minutos para os 90. Então parte-se o jogo, que não é mais desatar a chutar a bola para a frente e desatar a correr atrás dela, numa interpretação desajeitada do chamado jogo vertical, numa imitação da clássica escola inglesa do tipo kick and rush. E já não é só o jogo que se parte, é a própria equipa que fica partida. Partida em 3, se bem que só duas das partes é que jogam: a defesa e o ataque. Os dos meio-campo só vêm a bola a sobrevoá-los, perfeitamente inatingível. Desesperante…
E pronto, chega-se aos últimos 5 minutos e é um ver se te avias: o defesa central vai para a área adversária juntar-se aos outros 7 ou 8 que já por lá andam e o guarda-redes sobe até ao meio campo para bombear a bola para lá. E, se há um canto ou a cobrança dum livre, ainda lá vai ele também…para atrapalhar ainda mais!
O engraçado é que às vezes dá em qualquer coisa. Ainda há poucos meses o Rui Patrício, que nem chegou a tocar na bola, festejou um golo como se fosse seu numa dessas ocasiões. O certo é que o Sporting passou essa pré-eliminatória da Champions, relegando o Twente para a Liga Europa, onde se lhe juntaria logo depois.
E amanhã há clássico: espero que sem chuveirinhos, com fair play e sem cadeiras nem outras coisas partidas! Que ganhe o melhor e que o melhor, não levem a mal, seja o meu Benfica...Se não for... que ganhe à mesma! Mas se nem for o melhor nem ganhar também não é grave... é só um jogo de futebol. Ah...mas chateia-me!
Sem despir a camisola, depois do 10, vamos ao 9, ao 8, ao 7, ao 6, ao 11 e mesmo ao 12!
O 9 é o matador. Ver um 9 nas costas é assustador. De costas para a baliza, imagine-se o terror de toda aquela gente que está atrás dele. E são muitos, às vezes até um autocarro!
O verdadeiro 9 é o serial killer, de que falava há duas semanas. Os outros são mais 9 e meio, assim uma coisa entre o 9 eo 10. O Nuno Gomes, usando o seu 21 de estimação, é (era?) um 9,5, tal como o seu sucessor no Benfica: Saviola. Já o seu mentor, Gomes – o dos orgasmos – era um 9 a sério. Mas para a história ficarão, com estilos diferentes, Gerd Muller, Van Basten (fabuloso!), Ronaldo e mesmo Papin!
O 8 é o jogador do meio-campo que faz tudo. Marca, corre, atrás e à frente, remata…É o box to box. Grandes artistas, como João Vieira Pinto - que Vale e Azevedo, em mais um crime que escapou a julgamento, fez passar de 8 a 25 - Iniesta ou Lampard. E grandes operários como Gatuso…
O 6 é o trinco ou, para os mais exigentes, o pivot. Os pobrezinhos contentam-se com um trinco, o tipo que mata as jogadas, que destrói tudo à sua volta, que recupera a bola mas não sabe o que depois fazer com ela. Normalmente trata-a tão mal quanto aos adversários. Os mais ricos exigem o pivot: faz tudo o que o trinco faz mas sai a jogar… É um dos jogadores mais apreciados no futebol actual, aquele que traz os equilíbrios, que preenche os espaços, que faz as compensações e que assegura as transições!
Às vezes o 6 e o 8 misturam-se, resultando no duplo pivot! Na selecção portuguesa isso não é possível, porque, desde Petit, nem sequer um trinco temos: teve que se inventar o Pepe, que é central e… brasileiro! Mas que canta o hino e que corre como poucos…
Falar de 6, de pivot, é falar de Pirlo e é não esquecer Makelele. Já Xavi é mais que um 6: é 6, e 8 e 10… e isso dá 24!
No patrão da defesa não encontramos um número de verdadeira referência: são usados o 3, o 4 ou o 5. Às vezes o 2, como Bruno Alves, até o 6, como Ricardo Carvalho ou os outros números, como Terry (26).
O 7 e o 11, extremos do passado, são agora os alas. O 7 tem, em determinadas realidades, uma carga mítica superior à do 10. É desde logo o caso dos dois maiores ou mais ricos clubes do mundo: Manchester United e Real Madrid.
No primeiro, o 7 começa a desenhar-se com Dennis Law e ganha forma mitológica com George Best. O francês Eric Cantona, com o seu famoso golpe de Karaté e com a sua posterior carreira no cinema, deu-lhe uma dimensão hollywoodesca onde David Becham, com a sua Spice, se deu como peixe na água. Com Cristiano Ronaldo o United repôs o 7 no topo, onde Owen o não consegue manter!
No Real Madrid o 7 é de Raul Gonzalez,o símbolo merengue que é ponta de lança e que fechou a porta a grandes números 7. A saga começou com Luís Figo que, acusado de pesetero (e não por ser o primeiro a usar aquele número para fins comerciais), se viu obrigado a disfarçar de 10, impedindo, por sua vez, que o mítico número fosse parar às costas de um dos maiores de sempre: Zinedine Zidane, o 5 naquele dream team. Também Beckham, na era galáctica, seria obrigado a trocar o 7 por um inexpressivo 23. E, por fim, Cristiano Ronaldo que, de CR7 passaria a CR9, vendo-se assim obrigado a registar uma nova marca.
Esta coisa do ponta de lança usar o 7 não é nova. Começou no Benfica, nos fins da década de 60, com Néné - um extremo direito como poucos na altura. De dono legítimo do 7 transformar-se-ia, tão rapidamente quanto corria, num temível 9 de 7 nas costas que, mesmo sem sujar os calções, marcava golos que se fartava. Tal como agora o Cardozo que, com o 9 hipotecado a Mantorras, o tal que basta ser avistado para pôr a Catedral ao rubro, com o 7 marca como um 9.
Na galeria dos 7 puros ficarão sempre Jairzinho e Figo. E haverá de ficar Ribery! Já Cristiano Ronaldo é bem mais que um 7!
Quem perdeu projecção mediática foi o 11, apesar de muito bem representado por Drogba e Benzema. Mas já não é o de Garrincha, ou mesmo de Jacinto João e de Simões, o último grande 11 na Luz. Suspeito que, à semelhança de Bella Guttman, tenha lançado uma maldição sobre a capicua naquelas camisolas encarnadas. Uma maldição que não poupa estrelas das mais distintas e prestigiadas proveniências: Geovani, vindo do Barcelona, deu em Soneca; Balboa, chegado do Real Madrid, não deu uma para a caixa, e agora Keirrison, o afamado K11, o prodígio que vem do Barcelona, é o que se está a ver. Por isso é que craques como Simão e Di Maria preferiram o 20!
Esta viagem aos números das camisolas não poderia terminar sem uma vista de olhos pelo 12. Era, antigamente, o primeiro dos números dos suplentes: do guarda-redes suplente. Hoje é diferente! É a camisola do público, o chamado 12º jogador, o tal que paga para jogar num jogo onde tantos ganham tanto sem jogar nada! Mas é também a camisola de um grande jogador que agora não passa de um batoteiro: Thierry Henry, de herói a vilão em menos de um minuto, como é comum no futebol! Como a de Hulk, a quem o Porto fixou uma clausula de rescisão de cem milhões! Não era preciso exagerar … Afinal foi por mera precaução brasileira que foi chamado à selecção do Brasil! Não fosse o Queirós começar a pensar coisas...
Até há cerca de quinze anos atrás os números nas camisolas dos jogadores iam de 1 a 11. Assim se apresentavam os jogadores no início de cada jogo, estando os outros números destinados aos jogadores que ficavam no banco. As camisolas apenas ostentavam os números dos jogadores, sem os nomes. Nessa altura já eram utilizadas para fins comerciais, embora ainda se não tivessem tornado nos panfletos publicitários que são hoje.
A excepção eram as selecções, quando nas fases finais dos campeonatos da Europa e do Mundo, onde aos jogadores era atribuído um número fixo e permanente para toda a competição. Mas como na altura frequentávamos pouco esses ambientes quase nem dávamos por isso. Apenas estivéramos no mundial de 66, em Inglaterra, onde o Eusébio era o 13, e no europeu de 84,em França, onde o Chalana era o 4. Quer dizer, íamos a essas coisas tão poucas vezes que nem sequer sabíamos escolher os números. Era à sorte, como tudo o resto
Os números também não tinham, então, a importância que hoje têm. E uns têm mais importância que outros. Desde logo o 10! É desse número mítico que falarei hoje.
Quem é que não sonha com um 10 estampado nas costas? Diria que apenas Johan Cruyft, um dos expoentes máximos do verdadeiro 10, que preferiu ser 14.
O 10 é hoje em dia o mais mítico dos números ostentado, entre outros, por nomes como Pelé, Eusébio, Mazzola, Maradona, Platini, Roberto Bagio, Rui Costa, Del Piero, Ronaldinho e, agora, Messi, o novo melhor jogador do mundo, sucessor do nosso Cristiano Ronaldo, que era 7 e agora é 9. É o número que identifica o playmaker, o organizador de jogo e mesmo o patrão, que vimos na passada semana. É o aristocrata da equipa, que leva o perfume ao jogo e que tem direito a entrar em campo vestindo smoking. Nem sempre foi, nem agora sempre é, o clássico organizador de jogo. Mas sempre foi, e assim deve continuar, o craque, o fantasista que transporta magia nas botas, o desequilibrador, o mágico que não pára de inventar, e o melhor exemplo de classe num jogador de futebol!
Vejamos o Benfica: andou sem 10 – e sem 9, sem 8, enfim sem quase nada – durante uns largos tempos. Era o grego Karagounis, que só jogava mesmo bem contra o Scolari, o inquilino da camisola 10, quando regressou o seu verdadeiro dono. Aquela camisola deveria ter estado guardada durante todos aqueles anos em que o maestro andou pelas Itálias. Mas, não! Andou a desgastar-se pelas costas deste e daquele de tal forma que, quando o grego a despiu para entregar ao regressado D. Sebastião, estava esgotadíssima. O nosso Rui bem queria, mas a camisola já não dava mais.
O Sporting também anda a estragar o 10 há muito tempo: desde os tempos do Balakov, vejam bem! Anda nas costas do Vuckcevic há uns anitos. A contra gosto, como bem se viu! Era claro que ele não era feliz com aquela camisola e fez questão em mostrá-lo. Compreende-se que o Sporting não quisesse guardar a camisola do Balakov: afinal sabem que, de Alcochete, não sai nenhum 10 (já nem outros) e dinheirito para um 10 … nem pensar. Mas fizeram mal, porque afinal acabou por chegar um tal de Matigol (eles arranjam cada uma!) e pronto, não há 10 para ele. E ele responde: não há 10 não há gol, fica apenas o Mati. Depois vem outro craque, o Ângulo, também para o 10, e a mesma coisa. Não há ângulo que se veja para ninguém; o que poderia bem ser um ângulo de 180º passou a ângulo raso: zero!
O Porto também não guardou o 10 do Deco. Entregou-o logo ao Quaresma. Vendo a asneira emendou a mão e substituiu-lho pelo 7, entregando-o a um miúdo, ainda de fraldas, o Anderson. Mas por pouco tempo. Logo que começou a pensar no substituto para o ciganito (que entretanto embrulhava muito bem embrulhadinho, à espera que algum Morati o oferecesse a algum Mourinho), quer a dizer, a pensar em roubar o CR do Benfica, que ali não usava número que se visse, acenou-lhe com uns milhões e, claro, com a camisola 10. Por isso lá têm um CR mas nenhum 10! Bem feito, quem não sabe tratar de uma camisola 10 não merece ter um 10. E, apesar da estrelinha estar de volta, como ontem se provou, acabará por pagar por isso!
Na Argentina é que não faltam belos 10!
O futebol está cheio de patrões. Não admira, também se diz que em Portugal há muitos patrões, que faltam é empresários!
Ora aí está a explicação para que o futebol seja actividade de excelência em Portugal. Afinal todos gostaríamos que o nosso país apresentasse níveis de desempenho, em todas as vertentes por que se mede o desenvolvimento das sociedades, idênticos aos que evidencia no futebol. Reparem só que, neste momento, Portugal é quinto no ranking da FIFA: integra o top 5 da nata mundial… É que o futebol português não só tem patrões como está cheio de empresários, perfeitamente internacionalizados e que, apesar da crise, cobram milhões em todos os defesos e em todas as reaberturas de mercado. Quais Belmiros e Amorins? Jorge Mendes é que é! E José Veiga é que foi!
Mas regressemos aos patrões da bola. Os clubes, e agora as SAD´s, têm cada qual o seu patrão – à excepção do Sporting, que servindo para confirmar a regra, afirma aí sua diferença: “o Sporting é um clube diferente”, como não se cansam de proclamar! Que não são empresários, apenas patrões! Está bem de ver que é por isso que, enquanto o futebol português coloca o país como quinta potência mundial, os clubes estão todos falidos… ou perto disso.
No campo de jogo também há patrões, mas não empresários. E mal da equipa que não tenha os seus patrões, não vai a sítio nenhum. “Aquela defesa é um buraco, falta-lhe um patrão”, diz-se! Como se diz que “naquele meio-campo ninguém se entende, falta-lhe o patrão”!
Por aqui se percebe que há o patrão da defesa e o do meio-campo. Guarda-redes é sozinho, percebe-se que não tenha patrão: é patrão dele próprio, assim como se trabalhasse a recibo verde. O mesmo se passa no ataque, cada vez mais nas mãos do desgraçado do ponta de lança, sozinho lá na frente, entregue a si próprio e esquecido no meio de quatro defesas adversários, com patrão e tudo. Nem é patrão dele próprio, é um autêntico pau mandado, assim … como um estafeta em regime de outsourcing.
Daí os grandes patrões da história do futebol mundial: Beckenbauer (este era mais que patrão, era keiser), Baresi, Mário Coluna, Sócrates (não, não é o que estão a pensar, esse manda cá na malta mas não é patrão!)...
No Benfica o patrão da defesa é o Luisão, como toda agente sabe. E como se viu no domingo passado: patrão fora… taça fora! Bom, mas eu diria mesmo que no Benfica não há só um patrão na defesa, aquilo é mais uma confederação patronal. Recuamos um bocadinho e lá vemos Humberto Coelho, Mozer e Ricardo Gomes. Olhamos para a frente e lá estão David Luiz, Sidnei, Miguel Vítor…
O Porto é especial: o patrão é mesmo patrão, e disso não abdica. Daí que ao patrão da defesa tenha a mania de atribuir o número 2, o que indica claramente a condição de sub-patrão, de mero capataz. É um capataz à moda antiga que apenas, e por enquanto, não usa chicote. Mas nem por isso deixa de cumprir o seu papel: resolve bem as coisas à cabeçada, à cotovelada, ao murro ou ao pontapé. Não precisa do chicote para nada!
No Sporting, pronto! Já vimos, eles são diferentes. Ainda tentaram pedir um especial favor ao Polga mas ele explicou logo que não podia ser, que não tinha jeito para aquilo: “vejam bem, então se eu fosse o patrão da defesa como é que poderíamos continuar diferentes”?
O Benfica andou muito desgovernado no meio-campo nos últimos anos. Mas agora lá voltou a encontrar o seu patrão: o Aimar, aquilo é que é saber mandar!
Já vimos que no Porto o patrão não gosta de outros patrões. Mas, no meio-campo, nem capataz, vão-se todos embora: Deco, Lucho… É por isso que as coisas se começam a complicar lá para o Dragão!
No Sporting? Bom… já chega! Só espero que, logo à noite e mesmo sem patrão, não sejam eles a rir. Vá lá, não se em(polga)uem e mantenham-se em autogestão: tipo patrão fora… dia santo na loja!
Depois de beijar, matar. Enfim, tem alguma coisa a ver! Não há o chamado beijo da morte? Pelo menos todos conhecemos um, já lá vão mais de 2 mil anos…
Mas não dramatizemos. Se falar de matar, e da morte que lhe está associada, não é tabu então em futebolês é mesmo a coisa mais normal deste mundo.
O futebolês está cheio de matanças. No futebol mata-se muita coisa. Felizmente que, na maioria das vezes, não passa mesmo de figura de estilo. Também é certo que a morte, a verdadeira e trágica, passa muitas vezes pelo futebol: em pleno campo de jogo, nas bancadas ou até bem longe dos estádios, como acabou de acontecer com o infeliz Robert Enke. Mas essa, a trágica e que todos temos por certa, não é para aqui chamada.
Mata-se a jogada, mata-se a bola e até se mata o jogo.
Matar a jogada é a expressão usada para impedir o desenvolvimento de uma acção de construção de jogo. É uma das expressões do futebolês que me parece mais apropriada: porque liquida a jogada, retira-lhe a vida com recurso à ilegalidade, e muitas vezes à violência. Quando existem sempre alternativas legais para esse impedimento: através do desarme, por exemplo. Desarmar o adversário não é despojá-lo das armas, não é obrigá-lo a depor as armas, é tão só roubar-lhe a bola (mas roubar legalmente, que é coisa que não existe só no futebol). Mas não deixa de ter o mesmo sentido de humilhação…E, aí, claro que já não há matança. Matar é ilegal, mesmo no futebol!
A fronteira aqui, como em tudo na vida, é mesmo o cumprimento da lei. E, como todos sabemos, é onde as coisas se complicam …
Também há o entrar a matar. É entrar com tudo sobre o adversário: umas vezes vai adversário e bola; outras, só adversário. O exemplo, claro, é Bruno Alves, integrando uma dinastia que conta com Paulinho Santos, Jorge Costa e Pedro Emanuel, tudo gente bem conhecida…
Curiosamente em futebolês quem mata não é, por definição, o matador. O matador é outro, é o 9, o ponta de lança, o rato de área.
É a ave rara do futebol, por quem todos os clubes dão o rabinho e oito tostões!
Apesar da analogia apontar para o vocabulário tauromáquico, há várias espécies de matadores: o tipo sniper, que faz da área o seu esconderijo, onde permanece muito quietinho, com uma enorme paciência à espera da oportunidade de atirar a matar; e o tipo serial killer, que mata a eito e de qualquer maneira, sem paciência nenhuma, de quem se diz que só tem olhos para a baliza. Mesmo assim mata muito menos que o sniper. E há ainda o matador compulsivo, que vive para matar. É uma obsessão!
Lembram-se de um tal Jardel? Pois, é o exemplo. Matava tanto que quando pensou que já não havia mais nada para matar…foi o que se viu: matou-se a si próprio.
Como comecei por dizer também se mata o jogo. E, mais uma vez, não é normalmente coisa do matador. Normalmente mata-se o jogo ao marcar o segundo golo, ou a fazer subir o score para a diferença de dois golos e, aí, o assassino até poderá ser o matador. Mas quem o mata o jogo mais vezes é mesmo o árbitro; então em Portugal parece que têm mesmo vocação exterminadora. Os dirigentes desportivos também matam que se fartam, esses não só matam o jogo como matam a sua galinha dos ovos de ouro! É mais um dos muitos anacronismos do futebol: quem mais precisa do jogo é que o mata!
E mata-se a bola, que é mesmo o anacronismo-mor! Mas é! “Mata a bola no peito e pousa na relva”. “Mata no peito e dispara de primeira”. Mas, é mais uma curiosidade, não é aqui que a bola fica morta. Não, uma bola morta é outra coisa, é quando está inofensiva. O que é estranho porque a bola é a coisa mais pacífica desse mundo, nunca faz mal a ninguém.
Farta-se de ser maltratada e nunca reage. Diz-se que chora, mas só isso!
Só assim se compreende a sua enorme preocupação com essa zona do corpo: vejam os peitorais que exibem, mais lustrosos e bem tratados que carabinas de coleccionadores e caçadores.
Pois é meninas, quando deliram com aqueles peitorais do Cristiano Ronaldo, tenham muito cuidado: aquilo é uma arma letal, meticulosamente preparada para matar!
Nada melhor que iniciar com o beijo! Quem não gosta de beijos?
Mesmo quando da criança se diz que não gosta muito de beijos, que não é beijoqueira, não é verdade. Não gostam é de estar constantemente a ser maçados com um “vá, dá lá um beijinho à senhora”… ou com um “deixa-me lá dar-te um beijinho”, vindo de gente que nunca viu e sem o mínimo de interesse.
O futebolês está cheio de beijos. Não admira, pois o próprio futebol, o jogo jogado, envolve também muito de beijos…
A bola beija as redes – é golo, o clímax; é quando, depois de viajar até ao fundo das redes, delas faz lençóis onde se enrola e aconchega, numa êxtase que invade todo o estádio, que grita e aplaude em histeria colectiva enquanto ela, exausta, permanece inerte e deleitada entre as redes! É, tem muito de erótico. Não é por acaso que até houve um jogador – o Fernando Gomes, do Porto (não confundir com o outro), goleador dos anos 80 – para quem marcar um golo era como atingir o orgasmo.
Mas a bola também beija a trave e beija o poste. Não é o mesmo beijo, este é um beijo mais seco, menos molhado. Tanto que, muitas vezes, nem é beijo nenhum mas um malhanço dos grandes: é quando bate estrondosamente na trave ou no poste. Às vezes a bola roça o poste e roça a trave. Roçar, estão a ver? Trave e poste fazem, tal como as redes, parte da baliza mas, para a bola (e não só) não é beijar a mesma coisa, como se vê. Bom, e comparar aqueles roçanços com a marmelada do beijar das redes… Não tem nada a ver!
A bola não é só sujeito activo, também é passivo (não é sujeito passivo de impostos, porque isso de impostos na bola tem muito que se lhe diga!). Também é beijada, ajeitada e acariciada. Quantas vezes não vemos um jogador fazer tudo isso antes da marcação de um livre directo ou de um penalti?
Mas aqui o beijo troca o erótico pelo perverso. É assim como o beijo daqueles casais desavindos… a seguir vem uma carga de porrada e, depois, o beijo de novo. Pois é, a bola já sabe o que a espera quando leva aquele beijo… um valente pontapé. O pior vem depois: ainda pode ir bater com os cornos nos ferros, levar mais um murro do guarda-redes ou ir parar à bancada, o lugar mais deprimente para uma bola. Às vezes a coisa corre menos-mal: pode cair nos braços musculados do guarda-redes ou mesmo ver-se (escrevi ver-se, não foi outra coisa) a beijar as redes. Mas o valente pontapé já ninguém lhe tira!
Há ainda muitos outros beijos. O beijo para captar as câmaras da TV, do par de namorados que está na bancada (aqui a receita para o sucesso é cada um com o seu cachecol, de cada uma das equipas em confronto) e, agora na moda, os beijos entre jogadores.
Eles beijam-se nas substituições, eles marcam golo e beijam-se, o guarda-redes defende… beijos.
Beijos entre homens era coisa a que não estávamos habituados. É certo que nos lembramos dos beijos daqueles líderes comunistas muito cinzentões. Um desses beijos, entre o Honecker e o Brejnev, ficou para sempre gravado nas imagens do muro de Berlim. Os árabes também se beijavam, e logo com três beijos. Mas no futebol?
O primeiro beijo de que me lembro é do Laurent Blanc no Zidane. Mas esse foi um beijo na careca do Zidane que, por ser numa careca, era até ternurento. Agora estes beijos…
1.Os da casa apresentaram-se de fato de gala, com uma exibição de encher o olho. Linhas subidas, espaços bem preenchidos, fantasia em cada movimento numa dinâmica colectiva de grande qualidade, basculando o jogo com a propósito através de dois alas criativos, que sabem comer metros em posse, entrar entre linhas a rasgar espaços de finalização. Tudo isto sob a batuta do maestro, um 10 moderno, todo ele elegância e leitura de jogo e, depois, quando se tem na área um matador que, com o seu metro e noventa e oito é um autêntico rato de área, é fácil pôr a redondinha a beijar a rede.
2. O jogo encontra-se partido. As linhas estão desfeitas, as equipas já estão desposicionadas e a praticar jogo directo. É preciso arrefecer o jogo porque a todo o momento pode surgir um ressalto, uma segunda bola ou uma bola parada …
Para trás já ficou o melhor período do jogo, com as duas equipas a pecarem na finalização. Agora é tempo de vestir o fato-macaco, de entrega e de raça. O banco já não pode intervir. Os dois técnicos mexeram quando tinham que mexer e meteram a carne toda no assador! Pois, e agora começa o chuveirinho…Assim, não! Há que por a bola à flor da relva!
3. A equipa entrou bem, em pressão alta e com transições rápidas. Alternando diagonais bem trabalhadas, à procura de espaços, com passes verticais a rasgar a defesa contrária. E vê-se que sabe jogar sem bola. Mas nota-se a falta de alguém que leia o jogo. Falta ali um patrão! E o patrão está no banco! Basta ao mister ler o jogo e olhar para o banco. Ele está lá, é só lançá-lo para o rectângulo…
Estes são apenas três pequenos textos que alinhavei e que bem poderiam ser exemplos do que pode ler em jornais ou ouvir na rádio e na televisão. Muitos outros poderiam ser construídos nesta linguagem. Pois é! O futebolês existe e cresce a cada dia que passa, com novas terminologias e novas figuras de estilo.
Creio que serão muitas as pessoas que, ao lerem isto, ficam de olhos trocados e incrédulas, perguntando pelo atrasado mental que o escreveu! Muitas outras, no entanto, percebem claramente o que ali está. Interpretam estes textos com toda a facilidade!
Mas imaginemos que um cidadão estrangeiro, encantado com a língua de Camões e pátria de Pessoa, e com a dimensão da sua expressão mundial, decide investir na aprendizagem da nossa língua numa qualquer prestigiada universidade internacional. Obtém uma formação altamente qualificada em língua portuguesa, lê todos os nossos clássicos, domina a semântica e a pronúncia e vem visitar Portugal, consciente do seu domínio linguístico. Lê ou ouve esta linguagem e o que pensará? Uma de duas coisas: ou que isto é gente muito estranha ou em processar a universidade, que lhe ensinou uma língua que já não existe.
Porque estamos empenhados em combater a iliteracia, iremos, a partir de hoje e aos sábados, manter aqui uma rubrica de futebolês. Um dicionário, como o lá de cima! Onde iremos abordar alguns dos termos utilizados naqueles exemplos e muitos outros, sempre que possível num espírito bem disposto e despretensioso, próprio do fim-de-semana.
Iremos cingir-nos aos termos e expressões utilizados correntemente nos media. Uma utilização que se iniciou com Alves dos Santos, nos anos 60, passou pelo seu herdeiro natural, o famoso Gabriel Alves dos anos 70 e 80, ambos num registo mais de gafe do que conceptual, e que atinge o expoente máximo da erudição nas actuais gerações, donde sobressai um autêntico guru que se dá pelo nome de Luís Freitas Lobo. De lado deixaremos as expressões mais glosadas utilizadas pelos agentes do futebol – jogadores, treinadores e dirigentes. Não esperem pois encontrar aqui qualquer referência ao “levantar a cabeça”, aos “prognósticos só no fim do jogo”, ao “bode respiratório”, ao “futebol é isto mesmo” ou a tantas outras gafes célebres …
Ah! E em textos curtos! Não seguiremos o modelo de A a Z para que, sem condicionalismos de ordem alfabética, possamos interagir uns com os outros através de contribuições trazidas pelos comentários.
Até para a semana!
Prof. António Câmara - Palestra
Agradecemos à Zona TV
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