Regresso hoje àquelas expressões a que aqui tenho feito referência muitas vezes, que à primeira vista parecem não fazer qualquer sentido para, pouco depois, percebermos que, afinal, seria difícil encontrar outra que melhor transmitisse a ideia que lhe está subjacente.
Bascular o jogo não é mais que uma versão mais actual, mais modernaça, da velha e gasta mudança de flanco, um movimento que tenta explorar o factor surpresa que, no futebol como em tudo na vida, constitui uma das maiores vantagens competitivas. A ideia é simples: quando o jogo está todo ele puxado para um dos lados, para um dos flancos do campo, com os adversários com as atenções aí concentradas, surge a esperteza de dois jogadores: um que resolve tirar a bola dali e colocá-la precisamente do outro lado e outro que percebe que é para lá que tem que se deslocar, para a receber e regalar-se com todo aquele flanco livre de incomodativos adversários. É surpreender o adversário, todo ele balanceado para o lado contrário, através de um golpe de génio, um misto de esperteza e de capacidade técnica. De pouco lhe vale a esperteza se não tiver capacidade técnica para colocar a bola no sítio certo, num movimento que, de facto, lembra o de uma báscula, uma gigantesca e velocíssima báscula.
Bascular o jogo é introduzir-lhe um factor de surpresa mas também um factor de mudança. Um movimento de rotura, que acaba com aquela embrulhada de um molho de jogadores concentrados num curto espaço de terreno que se atropelam em busca de uma bola. Que rompe com uma fase do jogo improdutiva e desagradável, de um mau espectáculo.
É de um movimento de rotura e de um agente de mudança que hoje, aproveitando esta ideia de viragem que o bascular suscita, gostaria de falar. Refiro-me a Jorge Jesus e ao seu papel no Benfica. De rotura com um passado de visão derrotista, de rotura com a fatalidade do insucesso e de viragem de uma página e de um ciclo. Que basculou a equipa para o lado do sucesso, o lado da qualidade de jogo e da qualidade do espectáculo que tem para servir.
A partir daí tudo se transformou: jogando bem é mais fácil ganhar e, ganhando, acorda e mobiliza uma massa adepta única em Portugal, capaz não só de manter cheio o seu estádio como de encher os dos adversários por esse país fora. A UEFA acaba de divulgar que Benfica é o décimo clube europeu em assistências, numa lista encabeçada pelo Barcelona (o segundo é o Borussia de Dortmund) e onde o Real Madrid é terceiro o que, para uma liga de um país como Portugal, é notável.
Foi uma mudança, esta do Benfica e de um ano para o outro, a todos títulos assinalável e que, sem qualquer sombra de dúvida, tem que ser levada a crédito de Jorge Jesus. E de Luís Filipe Vieira que, contra muito boa gente, incluindo Rui Costa, mas certamente avisado das intenções de Pinto da Costa, entendeu ter chegado a hora de o contratar.
Confesso que era um dos que achavam que não era treinador para o Benfica. Por uma questão de imagem: um corte de cabelo a atirar para o foleiro, um discurso a atirar para o deprimente, gafes sucessivas, umas atrás das outras e, por fim, o raio da pastilha elástica, já de si pouco abonatória mas ainda mascada de boca aberta. Era evidente que o homem sabia da poda, tinha-se visto por onde passara, mas, para mim, isso não era condição suficiente!
Estava enganado! Não no que respeita à imagem, essa está lá e já ninguém a consegue mudar. Estava enganado era quando pensava que a sua capacidade profissional não era condição suficiente para ser treinador do Benfica. Afinal foi suficiente para ser muito mais que treinador do Benfica, foi suficiente para se tornar no agente de mudança que marcará a história, rica e grandiosa, do maior clube de futebol do país. E é suficiente para, apesar do handicap da imagem, provavelmente se ter transformado, a seguir a José Mourinho, no treinador português mais apetecido para os mercados internacionais, como a recente renegociação do seu contrato, com a introdução de uma cláusula de rescisão – 7,5 milhões de euros – inimaginável para o mercado de treinadores em Portugal, deixa perceber.
Ora aqui está também uma lição de vida: quantas vezes, por razões de preconceito, se negam oportunidades a gente verdadeiramente excepcional naquilo que faz? E quantas vezes, quando uma oportunidade finalmente chega, estamos ainda preparados para a agarrar, e bascular a nossa vida, como fez Jorge Jesus?
Já vimos que as bolas se podem multiplicar, que muitas vezes se multiplicam em campo e que até há segundas bolas. Dividir a bola é coisa que parece não bater certo: se há apenas uma bola … não se pode dividir. A bola é como um número primo…. Todavia movimenta-se em ambientes de grande divisão e provoca ela mesma muitas divisões.
Por exemplo os portistas estão divididos sobre o destino a dar ao treinador: enquanto uns acham que deve sair já, de imediato, outros acham que deverá sair apenas no fim da época. Mas estão absolutamente unidos na decisão de não levar o seu contrato até ao fim…
Também os sportinguistas estão agora divididos sobre o mesmo tema: treinador. Ainda há bem pouco tempo estavam absolutamente unidos sobre a matéria: o contrato precário do Carvalhal era para cumprir. Mas agora já não, estão mesmo muito divididos!
Os portistas estão ainda divididos sobre uma matéria que verdadeiramente os angustia. É a questão do segundo lugar no campeonato. Uns torcem pelo Braga para que o Benfica não seja campeão. Outros sabem que o terceiro lugar não dá Champions…
Se há tanta coisa dividida no mundo da bola como não poderia haver uma bola dividida? Até o jogo é dividido. É certo que é dividido por dois meios campos e é dividido em duas partes. Que, ao contrário da bola, até é divisível. Mas não é por isso que se fala de um jogo dividido!
Ainda no final do jogo do Benfica de ontem Jorge Jesus, que não é grande orador mas de futebol(ês) sabe como poucos, dizia que o jogo tinha sido dividido. Mais, que a eliminatória seria ela própria também dividida. Quer isto dizer que o jogo não se tinha caracterizado por um claro domínio de uma equipa mas pela repartição do domínio e das oportunidades de o ganhar. Como a eliminatória dividida quer dizer está em aberto, sem um sentido claro de favoritismo. Mas isso era já um exagero de expressão porque, pelo que se viu, ela parece já bem inclinada para o lado do Marselha…
A expressão bola dividida não tem qualquer analogia com a do jogo dividido. Nem poderia ter, como facilmente se percebe.
Num jogo a bola é objecto da mais acesa e mais brava das disputas. É mais disputada que a mais bela das donzelas no baile da paróquia, até porque a relação é-lhe bem mais favorável: uma única para vinte e dois mancebos. Os encantos do jogo jogam-se em grande parte nessa disputa, que milhões de olhos seguem sem qualquer tipo de descrição. Uma disputa que tem vários momentos. É precisamente um desses momentos que determina a bola dividida. A bola é dividida quando está em condições de ser disputada em igualdade de circunstâncias, quando se encontra numa posição equidistante aos dois contendores que a disputam. Quando, pode dizer-se assim, se encontra em terra de ninguém.
A bola dividida faz uma certa apologia da livre concorrência e da transparência. Uma bola transportada pelo Di Maria ou pelo Messi, junto ao pé, como se nas botas tivessem um íman que a atrai, está bem de ver que não é uma bola dividida. Essa é como aquela donzela que vai para o baile da paróquia mas já leva o namorado, que não descola e que pode até provocar alguns dissabores a alguém mais atrevido, como canta o Rui Veloso.
Tudo é desculpável para discutir uma bola dividida. É por isso que muitas vezes muito boa gente trata por bolas divididas umas que estão bem agarradas, daquelas que vão de braço dado com o namorado. O que evidentemente só pode correr mal. É o caso daquelas entradas a matar, que só podem mesmo dar vermelho, mas que o árbitro desculpa por se tratar de uma bola dividida.
E pronto, daqui já se fica mesmo a ver que a bola dividida é assim como o Natal. É quando um homem quiser. Se é um dos nossos que entra com tudo (outra do futebolês) não tem mal nenhum: era uma bola dividida. Se é um do adversário, qual bola dividida qual quê?
A bola dividida, a par da segunda bola, constitui ainda um dos principais indicadores de sucesso. Quem ganha mais bolas divididas, a exemplo de quem ganha mais segundas bolas, está mais perto de ganhar o jogo. Por razões óbvias: porque é quem mais se empenha, quem mais luta, em suma, quem mais trabalha. E, também no futebol e ao contrário do dicionário, o trabalho vem antes de sucesso!
O Sr. Manuel Machado, o erudito da bola que gosta de nos presentear com os seus discursos redondos, de vez em quando diz umas frases que lhe ficam mal:
Quando treinador do Braga, saído da Académica, foi muito pouco elegante para com a AAC-oaf e Domingos Paciência: «Os jogadores são os mesmos e não me parece que com o mesmo material se possa fazer obra diferente. A equipa utiliza os mesmos jogadores que eu utilizava e em termos tácticos não é possível com bacalhau cozinhar lagosta.»
Nesse jogo fomos empatar 3-3 em Braga...
Por curiosidade Domingos está em Braga em 1º Lugar do Campeonato (depois de ter conseguido um fantástico 7º lugar à frente da Briosa) e ontem o Sr. "Bacalhau" levou 6 na Luz.
Como é evidente o Sr. "Bacalhau", para nós sócios da "preta", sempre que leve um banho de bola ficamos satisfeitos, ontem não fugiu à regra, mas não deixou de ser novamente "rasteiro" para com um colega de profissão: "um vitém é um vintém, um cretino é um cretino".
imagens retiradas da net
Prof. António Câmara - Palestra
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