Foi finalmente encontrado hoje o corpo do Leandro, o miúdo que há cerca de três semanas desaparecera nas águas do Tua, em Mirandela.
Ainda bem. Encontrar o corpo ajudará a fazer o luto. E poderá trazer alguma paz a muitos espíritos inquietos. Mas não apaga nem minimiza o que se poderá ter passado. O que se tenha realmente passado e precipitado aquele desenlace e o que se passou com a mediatização do caso. É sobre isso que gostaria de aqui deixar algumas notas de preocupação.
A história que foi contada é conhecida: o Leandro era um miúdo de uma aldeia do concelho de Mirandela, bem no coração de Trás-os-Montes, repetidamente vítima de maus-tratos e abusos físicos e psicológicos por parte dos colegas – aquilo a que agora se chama bullying – que, desesperado e desacompanhado, decidiu pôr termo à vida para acabar com aquele sofrimento feito de dor e de humilhação. Um primo tornar-se-ia na testemunha daquele acto de desespero e a escola no réu imediato…
Começa a circular que afinal a história não seria exactamente assim. Não irei dar crédito ao que já circula como, de resto e apesar de por aqui ter passado, também não o dei à história inicial, pelo que não entrarei por qualquer narrativa do que já se conta. Não é esse o meu ponto!
O meu ponto é tão só, e para o caso; o da preocupação com o comportamento dos media:
Responder pura e simplesmente com o argumento económico das vendas parece-me insuficiente. Dizer que se fabrica uma história com todos os condimentos de drama, horror e violência para apaixonar e prender a opinião pública e daí tirar proveitos económicos parece-me, para além de hediondo, muito simples.
A verdade é que são demasiadas as histórias deste tipo que a imprensa lança, molda de determinada maneira e eleva ao expoente máximo da exposição para condicionar e formar opinião parcial. Cria barricadas onde se defende mas também ataca, sectariamente e sem tréguas. Às vezes, a muito custo, algumas dessas histórias são revertidas, tornando-se óbvia a manipulação. E, então, sem um mea culpa, sem um esclarecimento por mínimo que seja. Sem o mínimo respeito pela opinião pública mas também sem o mínimo respeito por si próprios, pela sua ética e pela sua dignidade…
Maddie, Esmeralda, Leandro… Já são nomes a mais!
"Ontem, quarta-feira, Christian não foi à escola. No dia anterior, almoçou à pressa na cantina, saiu aflito para o recreio quando viu, mais uma vez, o corpo franzino de Leandro, primo e amigo de 12 anos, ser espancado por dois colegas mais velhos.
Depois, perseguiu o rapaz que, cansado da tortura de quase todos os dias, ameaçou lançar-se da ponte, ali a dois passos. Perseguiu-o, impediu-o. Por fim, imitou-lhe os passos, degrau a degrau, até à margem do rio Tua. O primeiro estava decidido a morrer: despiu-se, atirou-se. O segundo estava decidido a salvá-lo: despiu-se, atirou-se.
Leandro morreu - é a primeira vítima mortal de bullying em Portugal; Christian agarrou-se a uma pedra para sobreviver. Antes, arriscou a vida a dobrar: digestão em curso em água gelada. Eram 13.40 horas. Ontem não foi à escola. Os pesadelos atrasaram-lhe o sono. Acordou cansado, alheado, emudecido. Leandro não é caso único. Ele também já foi agredido.
Christian não é o super-homem; não é sequer rapaz encorpado; é um menino assustado, tem 11 anos, não terá 40 quilos, o rosto salpicado de sardas e tristeza. Os olhos dos pais pregados nele, os dele cravados no chão da sala. Não estava sozinho na luta. "Estava eu, o Márcio (irmão gémeo de Leandro), o Ricardo...", este e aquele, os nomes dos amigos como um ditado, ele encolhido, no colo um cão minúsculo a quem insistentemente afaga o pêlo. "Não conseguimos salvá-lo, já estávamos tão cansados". O lamento sabe a resignação e à inquietação de quem veio de outra escola, em Andorra, Espanha, onde "à mais pequena coisa, os professores chamavam os pais", recordam, "preocupados", Júlio e Júlia Panda, pais de Christian, filhos da terra, Mirandela, no cume de Trás-os-Montes, retornados há pouco mais de um ano, trazidos com a crise e o desemprego. Vivem agora na aldeia de Cedainhos, a 15 quilómetros da cidade, lugar estacionado no tempo, onde vivia também Leandro e onde todas as casas, com laços mais ou menos próximos, são casas da mesma família.
Escola sem luto nem explicação
Um palmo acima, na mesma rua, vive a avó, Zélia Morais. Tem a cozinha cheia netos, mais de dez, netos de todas as idades, os gritos inocentes dos mais novos a misturarem-se na dor dos outros. Sabe tudo ao mesmo fado. É a imagem da desolação, ela prostrada no sofá, o coração com febre. "O meu menino era tão humilde. Todos os dias vinha saber de mim. Todos os dias", palavras repetidas embrulhadas em falta de ar. "E agora?" Agora, responde o filho Augusto, homem de meia idade que a coluna prendeu a uma cadeira de rodas, "agora, nem que tenha de vender tudo, vou até ao fim do mundo para saber quem levou o meu sobrinho a matar-se". A ameaça parece dura, dura um segundo, desfaz-se em pranto. "O meu menino sentava-se aqui comigo, conversava como adulto, era a minha companhia". Os pais de Leandro também vivem ali; não estão. "Estão em casa amiga, passaram a noite no hospital".
Ontem Christian não foi à escola. Mas na escola dele - E.B. 2,3 Luciano Cordeiro, onde partilhava o 6º ano com Leandro -, o dia foi normal. Nem portas fechadas nem luto nem explicação. O porteiro do turno da tarde entrou às 15 horas, bem disposto. "Sou jornalista, queria uma entrevista", ironizou. Tiro no pé. O JN estava lá. Perdeu o humor, convidou-nos a sair "já". A docente que saía do recinto também foi avisada, inverteu a marcha, já não saiu. Havia motivos para baterem tantas vezes no Leandro? Responde Christian: "Todos batem em todos".
nota: deixo link a meu texto sobre temática bullying no Vila Forte, AQUI.
Prof. António Câmara - Palestra
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